Coleção pessoal de alaska_1
Às vezes me olho no espelho
e não vejo um rosto,
vejo o peso dos erros que coleciono.
Sou lâmina que corta a própria pele,
sou o tropeço que eu mesmo preparo.
Prometo silêncio, entrego ruído,
juro mudança, repito os vícios.
Me mastigo por dentro,
digerindo culpas que eu mesmo servi.
Não é o mundo que me decepciona,
sou eu,
o inimigo íntimo,
que insiste em puxar meu pé
quando tento subir.
Mas ainda respiro…
mesmo coberto de falhas,
mesmo sujo das atitudes que odeio.
E no fundo dessa cicatriz aberta,
talvez exista uma fresta,
uma chance de aprender
a não me trair de novo.
Esses dias me chamaram de bom criador de conteúdo.
Mas, pra ser sincero, eu não me vejo como criador de nada, muito menos de conteúdo.
Se tivesse que escolher um nome, talvez “destruidor de conteúdo” me caísse melhor.
Eu gosto é de desmontar, de rasgar até o osso pra entender como as coisas respiram.
Sempre fui mais curioso com os processos do que com os resultados.
Quando criança, minha obsessão era quebrar eletrônicos.
Desmontava até o fim, sem motivo algum.
Era só o fascínio de ver onde cada coisa se encaixa.
E foi assim que acabei virando artista.
Não me importo com a obra pronta, nem com elogios.
O que me move é falar do caminho, do que aconteceu até chegar lá.
A arte nunca termina, nunca repousa.
A beleza está no processo, na descoberta, na criação que sangra e não para.
Isso é infinitamente mais profundo que qualquer obra finalizada.
E eu não crio conteúdo, apenas tenho conteúdo de mais pra compartilhar.
Acho insano como consigo destruir justamente as relações que mais amo,
como se minha ansiedade fosse ácido derramado sobre tudo que tento segurar. Quanto mais desejo que algo floresça,
mais ele murcha nas minhas mãos.
É como segurar água com força demais: no medo de perder,
acabo deixando escapar.
Queremos tanto que a ligação cresça, que a conversa encontre caminho,
mas a ansiedade finca raízes no peito.
E eu me transformo em muralha: ou despejo palavras como tiros desordenados,
ou me calo como pedra no fundo do rio, sufocado pelo receio de errar.
É sempre a mesma emboscada.
A mente arma armadilhas para o coração, e o coração, cego, cai nelas.
A ansiedade é inimiga íntima, é lâmina escondida que corta, sem piedade, justamente o que eu mais queria abraçar…
São milhares de anos-luz,
viagens cósmicas em um universo finito.
Em meio a galáxias imensas,
em um planeta azul com bilhões de vidas,
o acaso — ou o destino —
trouxe você até mim.
E no meio de tudo isso,
do infinito ao íntimo,
é um imenso prazer,
um milagre quieto,
dividir essa vida com você.
hoje me apaixonei por alguém
que vi uma única vez.
claro, não era amor,
era só aquele desejo sujo
que te acerta no meio do peito
como um tiro que nem sangra.
ela tinha o rosto coberto de tatuagens,
olhos fundos de quem briga com o travesseiro
todas as noites
e sempre perde.
fumava cigarro
como quem queria morrer
Afogada em cada trago.
dava pra ver no rosto:
álcool misturado com
Remédio sem receita,
provavelmente um corpo cansado
de lutar contra a própria cabeça.
mas linda,
meu deus,
como ela era linda.
com aquela beleza profana,
deturpada,
quase um quadro renascentista
pichado no muro de um bairro fodido.
a mente dela—
um campo de guerra.
o corpo—
um templo em ruínas.
e mesmo assim,
me deu um tesão
tão maldito, tão absurdo,
que meu coração quis bater palmas
com as próprias veias.
é disso que eu gosto.
da beleza visceral!
da verdade estampada na cara.
da destruição com batom borrado
e cheiro de cigarro barato.
e ela nem sabe
que virou poema.
Eu tentei mil formas de te ter comigo,
perdoei teus vacilos,
acreditei no impossível,
me iludi com migalhas
e sorrisos vazios.
Um dia a ficha caiu.
Percebi que eu estava criando
um alguém que nunca existiu.
Alguém idealizado,
nascido da fumaça
de cada cigarro que você fumava,
um amor platônico,
pleno demais
pra caber em você.
Tudo bem,
a ficha caiu,
arrumei minhas coisas,
dei as costas
e fui embora…
Decepcionado,
não por te perder,
mas por ter amado alguém
que só existia na minha cabeça.
faz umas semanas que minha cabeça tá cansada.
pra falar a verdade, faz uns bons anos.
mas de uns tempos pra cá, parece que só piora.
problema em cima de problema.
trabalho atrás de trabalho. cobrança, dívida, e mais cobrança.
e pra dar um sossego disso tudo? nem cigarro eu fumo mais.
sou eu e meu cachorro.
ele escuta tudo.
anda ansioso também.
será que é minha culpa?
minha ansiedade virou dele também.
a gente vive ansioso por um futuro onde, quem sabe, a gente não precise mais se sentir assim.
um futuro que nunca chega.
um futuro que talvez nem exista.
mas seguimos, esperando por algo que não vem.
e querendo o que não dá pra ter.
O que é a vida?
Talvez só dor e sofrimento.
Antes de nascer, eu não lembro de sofrer.
Depois da morte, não irei sentir mais dor.
meu próprio sabor
é sobre meu e meus,
de seio pessoal,
de carne!
póem na carneação —
eu sou mordida viva!
vi ela beijando um velho.
me fez Vomitar,
vomitei em silêncio.
entendi,
meu amor
não é pra vagabundas.
me observei demais,
me rasguei demais,
talvez.
eu me sirvo.
me provo.
sou amargo.
sou só meu!
