Coleção pessoal de Abel-Goncalves

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⁠somos puramente sentimentos impuros.

⁠Prefácio para um fim de tarde

de resto é vida batida no caos do samba
convidando a deusa noite para consigo
no cosmo sambar

⁠vista uma nova história
perfume-se dum novo amor
retoque maquiagem dos sonhos
tire amarras dos pés
calça a vida dentro de si
e lute feito Angela Davis.


Epístola para o futuro

ele acabou com todos
os meus romances
com todos os meus sorrisos
com toda minha fé
com toda minha empatia
com tudo que amava
destruiu tudo que acreditava
ele acabou com todos
deixando sobreviver apenas
suas memórias
ele anda entre nós
e está dentro de nós
ele não tem forma
nem tempo para nós
porque ele é o próprio tempo
e não tem sentimentos.

⁠a queda quando
não mata
o medo
cria um ser
em segredo
traumatizado.

⁠a queda quebra o ser
sereno
e soa cilada
na ascensão
do caos
no cais
da vida vaga.

⁠um tapa na cara na infância
uma briga familiar na adolescência
um pai alcoólatra
uma mãe desnorteada e
uma geração de filhos traumatizados.

⁠uma alma agressiva
nem sempre é bom
presságio
o coração está sempre
a beira do colapso.

⁠o princípio da discórdia
começou com a criação
da primeira forca
depois vieram as cercas
depois vieram os soldados
soldando saudades nos
portões da vida.

⁠o poeta nem sempre
sabe o que fazer
com a inspiração
por isso há versos
que não cabem num
poema
e transformam-se
em canção.

⁠quando compramos
as dores dos outros
multiplicamos a calmaria
e a cumplicidade humana.

⁠no sexto dia Deus se
distraiu e cochilou,
quando acordou
a sua criação já havia
superado o criador.

⁠não lembro quando foi que me
transformei em silêncio.
só sei que agora eu grito muito
alto daqui de dentro desse ser
soturno e ninguém me ouve

⁠pequenos holocaustos XXXV

tombos, pontapés, porta na cara
agressão verbal, agressão moral
a vida vai desenhando um soneto
de ódio e miséria na vida do menor
abandonado na favela.


aBel gOnçalves

⁠a metralhadora vai rosnando
preconceito pelos becos escuros
das vielas do Capão redondo
enquanto o mundo gira redondo
pelo Planalto Central.

foi como se fosse um coice
quando descobriu que tinha câncer
desde então perdeu a cabeça
e se derramou pelo cais.

⁠pequenos HOLOCAUSTOS XLI

cansado de ser sozinho
resolveu casar -se,
ah se soubesse prever futuro,
foi a saturno, foi soturno
foi saturado, foi assaltado
depois foi sepultado sozinho.

⁠vai chover pranto
por onde a gripe
passar
por mais que passe o
tempo
o pranto perseverar.

⁠o dia exausto alimenta o corpo
com o silêncio da morte,
vamos respirando partículas
de angustias,
cada um em seu submundo
particular.

⁠a crua gramática opressora
cria cruéis versos oprimidos