Cecilia Meireles Criancas
Pedir perdão não é um sinal de fraqueza, mas sim um ato de querer estar bem com quem você simplesmente ama.
Pagar o preço que for preciso para ser feliz pode resultar numa terrível dívida de infelicidade por toda uma vida.
Quando a dor da alma é imensa e sufoca o ser, muitos recorrem a dor da morte para alívio trazer.
Mas o que será que tem, após a morte também?
Se a momentânea e insistente dor tem fim, será que haverá alívio no tempo sem fim? Há uma eternidade a seguir, onde o tempo deixará de existir? Se das eternas portas haveremos de proceder, vida ou morte pode advir, incertezas para meros mortais, na esperança de dias vindouros de eterna paz.
Nasce-se nu, sem nada, só se respira;
Se é líquido e límpido, inocente;
O tempo passa fica-se pastoso, frenético;
Torna-se adaptável, mutável e nada é igual...
Não confiável por si mesmo, só se tenta ser;
Se é limitado e na certeza se têm os dias contados.
Quando crianças, somos espaçosos;
Quando adolescentes limitados;
Quando jovens rebeldes fogosos;
Quando adultos, tornam-se oprimidos em causas.
Quando idosos temos falta de forças,
Se deixam ficar petrificados;
Talvez, por não perceber que o tempo passou...
Ou que se têm muitas escolhas!
SENTIMENTOS NEGROS
Já me fiz de branco sendo negro;
Queria me sentir melhor...
Não era por mim.
Era menino e pensava como menino.
Já me sentir branco, mas continuava negro;
Era eu sem ser eu...
Era pequeno e nada discernia.
Cresci...
Conheci a causa e o valor da cor;
Tudo ficou claro, esbranquiçado.
Esclarecido...
Cor é apenas cor, jeito é apenas jeito.
Tudo não passou da ideia de um menino...
Que sentia medo do mundo...
O AMOR NAS VEIAS
Quem disse que o amor acaba nunca amou;
Barafundou-se na paixão;
Pois, o amor é uma essência,
e impregna na alma dos amantes;
Viaja como o sangue nas veias até o coração.
Pelas feridas de sua alma,
o amante obstinado evita externar
seus verdadeiros sentimentos;
Quando não é correspondido no amor,
se sufoca conveniente a voz no coração
que o nome do amado parece gritar.
São algemas do amor as frustrações sofridas;
São grades as decepções nas tentativas da conquista;
São águas que afogam os desejos não realizados;
E se transformam em muralhas
os desencantos, nos encontros negados.
O amor fica ali no coração, em algum lugar,
pronto para renascer, e disponível a despertar;
Um amor que renasce ao ouvir a voz do amado no pedido de perdão;
No abrir dos braços, projetando o afago.
Renasce no sussurrar de novas promessas
E na renovação de alianças;
No silêncio, onde se ver no olhar a esperança.
Esse amor renasce como lágrima que é traiçoeira;
Que do nada, e às vezes, por nada mareja;
Um amor verdadeiro não morre e nunca acaba.
Enigma do Amor
Às vezes, nas minhas incertezas
Nego-me por achar ignorante
Falar de algo tão relevante:
Falar de amor.
Diante de tantas coisas que dizem:
Nas histórias que contam...
Enrubesce-me a face.
Nas venturas de outros,
Parece só tem proezas e belezas,
Nos lábios dos que pabulam as suas histórias de amor.
Os amantes dizem que abrasa o coração.
Os sábios, que é uma armadilha para a alma.
Os homens aventureiros falam encontrar em qualquer lugar..
E as mulheres dizem que pode acabar.
Uma mãe amorosa diz: faz o coração arder.
Um pai defensor, confessa que na vida é um pesar;
Os avós apaixonados, dizem com os nascer dos netos:
O amor se multiplica...
Um tio encantado, tenta esclarecer o que sente, não explica.
Os Jovens confundem com a paixão.
Os aventureiros se perdem no prazer...
Os maduros, dizem ser a maior perda da vida,
Os fracos e insanos nos seus engodos
fazem encerrar no caixão
as suas história de amor.
Recuso-me a falar sobre o amor.
Às vezes, pensar e escrever sobre o amor,
Traz-me remorso:
Nunca se está satisfeito...
Não existe ninguém que ame perfeito.
A tragédia, frustração e decepção,
Parecem sempre acompanhar aquele que decidi amar.
Penso, desisto e sem querer recomeço.
É que se busca sempre, ainda que se esquive:
Alguém a quem se possa amar.
O nosso Amor
Acho que o nosso amor nasceu assim:
Eu te olhei e não liguei.
Sua voz me irritou...
Suas gargalhadas estrondosas e altas,
Fizeram-me te evitar.
Teu jeito de menina descabelada;
Teu jeito de andar moleque;
Tuas traquinagens sem limites;
Tua raiva de maruá...
Era para mim muita regatada.
Mas, porquê não deixei de te observar?
O tempo passou, você cresceu;
Para mim era a mesma:
A mesma que evitei.
Sempre observei.
Reprovei.
A mesma cara,
o mesmo cabelo,
as mesmas gargalhadas,
e as mesmas traquinagens.
Descobrir porque sempre te olhei:
Te amei desde de que a conheci;
Só não dei ouvido ao meu coração.
Você deu o troco, pondo meu coração à provas.
Não te esqueci.
Meu amor não morreu, apenas se escondeu.
Quero você, como na infância, por toda a vida.
Chega, chega de experiências com o nosso amor.
É verdade que este amor nunca vai morrer.
Eu te amo...
SEM NADA
Pernas bambas, frouxas;
Nó na garganta, esganado...
Coração apertado, falta de ar;
Engasgado com palavras.
Saudades de tudo, sem ter a falta de nada...
sabendo o significado da vida,
mas vivendo sem sentido;
Dono do destino...
E agora dono de nada.
Aos olhos do mundo, radiação.
E os dias são vazios...
Mil ideias na cabeça.
E nada que encanta a alma.
Amado, amando...
Ainda assim o vazio.
Cansado do caminho, do pé na estrada,
dos versos, das rimas.
Cansado da procura na vida...
Sem sentido válido.
A música que toca insistente,
e não embala, não marca os passos;
Nem fixa na mente, não diz nada.
Gente que grita, vende de tudo...
Nada que supre,
nada que mata a fome,
nem sacia a sede.
Um tudo que não é bastante.
O dinheiro não compra o que se procura, a felicidade...
Uma eterna busca, e às vezes, tateando se procura.
- MEDO DO MEDO
Todos os dias eu sigo um caminho.
Por trieiros novos e as vezes por calçadas velhas;
Enquanto ando percebo portas fechadas...
E janelas abertas... Sinto o cheiro do medo.
Vejo pessoas que me espiam...
Pessoas que olham para a rua
E parece que se escondem de tudo...
Outras vezes, parece que buscam inspiração para a vida.
Eu passo devagar, tento adivinhar o que sentem...
São prisioneiras de seus próprios medos?
Ou os seus medos são só do mundo?
Janelas que se abrem e fecham todos os dias;
Por trieiros novos e calçadas velhas.
Ando logo que o dia começa...
Também tenho meus medos;
Não é o medo do mundo.
Sinto o medo de me tornar prisioneiro dos meus medos.
SEM DESCULPAS
Ah, morte...
Não se acanhe sempre te esperei.
Não quero justificar...
Se é a hora?
Não quero desculpas para a causa.
Não é ruim, ter que morrer...
Acho difícil é não ter existido;
Ou existido sem ter vivido.
Meu medo, não é por partir.
Tenho medo da despedida;
Tenho medo da dor, dores fortes;
Minhas lágrimas ardem...
Medo de deixar os meus amores.
Ah, morte...
Chorei a vida inteira...
Pelas palmadas, perdas e amores.
Nunca me com acostumei com a vida;
Existi, vivi e amei...
Nunca deixei de sofrer...
Chorei as lembranças das perdas;
Chorei diante das bruscas mudanças...
Até chorei de alegria, a alegria também doía.
Trago no peito a saudade, as boas lembranças da tenra idade.
Levo comigo as recordações, da infância onde não importavam as razões.