Camila heloíse
Aquele momento ficou suspenso no ar...
Etéreo, vital, invisível, especial. Virou lembrança de filme. Virei atriz de cinema mudo. Revirei-me.
E nesse papel, juro, ainda ganho o Oscar.
Beijarei a estatueta e beberei vinho olhando meu triunfo e derrota.
Se ardo, se atino, se concedo, se falto, se sobro eu não me importo. São os meus dias ensolarados que preenchem todos os espaços e sentidos.
Desculpe, fui-me. De tão pouca gula, de tão inexistente ronco como sinais de fome convenci-me que não sou uma pílula para abrir apetite...
Da poesia ao desbaratinamento.
Jogo tudo para o ar? Rodopio em redemoinhos estonteantes de sons, magia, melodias, bobeira...
Ser a mesma, viver do mesmo, tira-me o encanto de lutar pela vida e redescobrir esse mar imenso e perfeito a desnudar meus olhos...
Conto de fadas contemporâneo: Ando virando abóbora muito tarde! Antes, meia noite e agora só lá na alta madrugada! Alô, fada madrinha? Alô?
Feito. Processo longo. Crepitar em fogo, esperar a cinza esfriar, recolher tudo e jogar no mar. Adormecerão nas profundezas oceânicas. Fim.
Mais uma madrugada...
Dessa vez, revirada em reviravoltas. Como a ostra transforma a dor em pérola, reviro-me do avesso e transformo em arte.
Sempre há mais pó do que imaginamos ao levantar o tapete. Poeira úmida e indecifrável que me fez emudecer de assombro com tamanho acúmulo.
Sou esperta em linhas retas. Em linhas tortas e no abstrato me abstraio, caio e calo. Mergulharei em Picasso, quem sabe não me acho.
Balanço geral: somo créditos, subtraio débitos e no fim, mesmo com lágrimas revelando perda, um leve sorriso me diz que sempre ganho.
Minha vida social foi empurrada do décimo andar pelo "lerê, lerê, lerê, lerê". Será que ela ressuscita e volta pro "tunz tunz" ou "aê, aê"?
Quando páro e me vejo, te vejo. É como se meu olhar fosse o seu. É como se estivesse aqui dentro de mim. E está. Instalou-se sem querer...