Dia Nacional do teatro
Ás vezes o que a gente precisa mesmo é botar um ponto final naquela história que acabou em uma virgula.
Se eu tivesse apenas um pedido, pediria que por uma vez na vida pudesse fazer alguém feliz, sem estragar tudo e acabar odiando a mim mesma.
Túmulo do dia
Cada noite é cada noite,
Uma a outra não tem.
Entrega-se ao dia
Enaltecendo-o, já que vem.
Agora, quase morta,
Ela ainda vem tatear.
Uma nesga de vida
Do dia tenta libar.
Quase, quase sem vida,
Ainda tenta imigrar.
Suspiros para o amanhecer,
Ainda lhe resta conceber.
Da sombra és a dona.
Do pecado és a redoma.
Da luz és a conclusão
Do dia és a anunciação.
Enide Santos 27/07/14
Como e por que pessoas de dois pontos em um mapa, e nem sequer em linha reta, podem ter se conectado é o centro de nossa história em Knockemstiff.
Desculpe se não coloquei em palavras o que meu coração sentia, mas é que é impossível limitar o infinito. Não se pode definir o amor.
– Esse artigo será para uma edição sobre heróis. O senhor se considera um herói?
– Não, de forma alguma.
(Diálogo entre Tom Junod e Fred Rogers)
– Você ama gente traumatizada como eu.
– Não acho que você é traumatizado.
(Diálogo entre Tom Junod e Fred Rogers)
Ser pai é mais que um destino traçado; é uma missão tecida nos fios invisíveis do tempo. Não se trata apenas de perpetuar a vida, mas de adentrar as profundezas da própria alma, onde os mistérios da existência se entrelaçam com os laços do amor. Os filhos, esses seres que nos atravessam, não precisam necessariamente brotar de nossa carne, mas devem cruzar o nosso caminho, tocando-nos e sendo tocados por nós. É quando o belo se revela, quando o inesperado se concretiza, e almas destinadas a não ser acabam se tornando.
A paternidade é um processo singular, forjado no calor das alegrias e no frio das dificuldades. Reconhecido, sim, mas quase sempre silencioso, escondido nos gestos simples e nas palavras não ditas. Em cada uma das suas ações, os pais, com o seu jeito finito de ser Deus, nos revelam o Divino que se faz homem. Semelhante a Ele nas tangentes da vida, por vezes invisível aos olhos, mas sempre presente, sustentando nosso mundo.
Talvez o maior pecado dos pais seja a ausência, essa escolha silenciosa de prover o bem-estar que, paradoxalmente, impõe a distância. E assim, de herói a vilão, transita o pai a cada repreensão, a cada tentativa de moldar o caráter, sem perceber que, em sua finitude, é reflexo de algo maior.
No entanto, é justamente nesse dilema que reside a grandeza da paternidade. Pois ser pai é caminhar na corda bamba entre a presença e a ausência, entre o querer proteger e o precisar deixar ir. É viver no eterno dilema de dar o melhor de si, mesmo sabendo que o melhor nem sempre é suficiente. Divergir, e por vezes reconhecer que o ideal nem sempre é o necessário. Mas, acima de tudo, é aprender que a grandeza de ser pai não está na perfeição, mas no amor que, mesmo imperfeito, é capaz de construir pontes onde só havia abismos e de transformar o vazio em plenitude.
E assim, na vastidão desse papel, o pai descobre que ser grande é dissernir entre o estar perto e se fazer próximo, saber que, mesmo na ausência física, sua essência perdura, enraizada no coração e nas ações daqueles que, passaram e se eternizaram por ele.
