Theredblack78
Amor ou Vento
Às vezes penso que amei —
mas talvez tenha apenas nomeado
um vazio bonito demais
pra continuar sem nome.
Disseram que amor aquece,
mas o que senti
foi mais como brisa:
toca, some,
me deixa tonto…
mas nunca fica.
Te olhei como quem busca casa,
mas será que era você,
ou só a vontade absurda
de enfim encontrar abrigo?
Me doei como quem aposta alto,
sem saber se o jogo existe,
ou se fui eu quem inventou
as cartas, o prêmio e o risco.
Era amor?
Ou só silêncio com cor?
Um eco daquilo que esperei ouvir?
Você sorria,
mas era por mim
ou só por hábito?
Talvez amar seja isso:
um tropeço constante entre
o que é e o que queríamos que fosse.
E o pior —
talvez nunca se saiba.
Talvez amor verdadeiro
nem faça barulho.
Ou talvez ele nunca tenha vindo.
E eu apenas dancei sozinho
com o vento.
Amar, Mesmo Sem Querer"
Te amei como quem mergulha inteiro
sem medir o fundo, nem temer a queda
Te amei até quando fui o derradeiro
a enxergar verdade onde havia entrega cega
Fui traído, mas permaneci
Não por perdão, talvez por hábito
Ou por medo de partir de mim
e me perder num espaço sem rastro
Teus olhos ainda me conhecem bem
mas o reflexo que vejo já não sou
Sou sombra de um desejo que vem
e se vai, como maré que não ancorou
Estamos juntos, mas em que lugar?
Divido a cama, mas não sei se habito
Te escuto falar, mas é como escutar
um idioma antigo, bonito e extinto
Quero partir, mas não sei pra onde
Quero ficar, mas pra quê, se não sinto?
Amar se tornou um cárcere de ontem
e eu sou o prisioneiro do meu próprio instinto
Será amor, ou só memória vestida?
Será apego, medo, ou puro cansaço?
Já não sei se te quero pra vida
ou se apenas me perco no mesmo laço
E assim sigo, meio teu, meio ausente
preso ao que fomos, ao que talvez nunca fomos
Amando, talvez. Ou apenas doente
de um querer que esqueceu como é que somos
O Peso do Que Ficou
Eu quis perdoar, juro que tentei
Varri as mágoas, escondi os rastros
Coloquei flores onde você errou
Mas elas murcharam com o tempo dos fatos
Te dei o silêncio como se fosse paz
Mas ele gritava mais que tua ausência
Fingimos recomeço, sorrindo por cima
de lembranças que sangram em nossa presença
Eu quis esquecer, mas o corpo lembrava
do frio da espera, da palavra quebrada
do toque que mentia carinho
e do olhar que fugia, voltando manchado
Não é raiva, é cicatriz aberta
Não é vingança, é só memória que pesa
E mesmo que o amor ainda respire
ele tropeça nas pedras da nossa tristeza
Você diz que mudou, e eu até vejo
mas cada gesto teu carrega um espelho
e eu me vejo nele, cansado, inteiro
tentando sorrir, mas tremendo por dentro
O tempo não apaga o que não entende
e eu não entendo como amar e lembrar
sem sentir de novo tudo o que ardeu
como seguir se o passado insiste em ficar?
Eu durmo contigo, mas sonho sozinho
em mundos onde nada disso aconteceu
Queria recomeçar, mas não há caminho quando o que nos une também nos perdeu