Remisson Aniceto
BEM-ME-QUER
Cansado de viver sendo malquisto,
descartarei agora todo o malquerer.
Tudo farei pra ser sempre benquisto,
retribuindo o mal com o bem-querer.
CORAGEM, SEMPRE!
Se por acaso você pensar em deixar a vida para os corajosos, lembre-se que ela sempre dá nova chance pra gente enfrentar e vencer a covardia.
Meus heróis são pessoas normais,
gente decente, de carne e osso.
Não são fúteis, genocidas, bestiais,
heroizinhos de carne de pescoço.
Se é este herói que você segue,
que sem demora o diabo os carregue!
Poema furtivo
O poeta ao falar de si fala dos outros,
que cada um tem um quê do outro.
Tudo é como se fosse um amarrio de cordas,
seguidas, compassadas, continuadas.
O poeta ao falar dos outros fala de si,
que cada um outro tem um quê de nós,
cada um vive a vida alheia sem saber
e morre na morte do outro.
O poema, depois de lido,
torna-se impessoal, de todos,
ainda que impregnado de evidências da mão.
O meu seu poema dele não existe.
Remisson Aniceto©
Os cães vivem pouco ou nós, humanos, vivemos muito?
Apesar de viverem em média menos de um quinto do tempo que nós vivemos, o tempo de vida dos cães é suficiente para eles demonstrarem todo o seu amor pelos seus donos, o que eles fazem desde que nascem; enquanto nós, ainda que vivêssemos mil anos, nunca seríamos capazes de amar outra pessoa como os cães nos amam.
ESPERANÇA
Para a Criança que ainda não veio,
eu aconselho: não venha, não nasça!
Se vier, encontrará um mundo tão feio,
perdido, choroso, sofrendo, em desgraça.
Ó Deus, te peço perdão por este lamento.
Lembrei que toda Criança é cheia de Graça.
E se a Graça nos salva de todo tormento,
que venha a Criança! Que a Criança nasça!
Não reclame, cidadão!
Você criou este quartel,
empossando um capitão
que pensa ser general
e dá ordem a coronel.
O amor nos agiganta e nos sublima;
a paixão, isoladamente,
nos cega,
nos deixa patéticos e volúveis.
Tão estranho estou me sentindo...
No meio de tudo e deslocado:
como se eu não estivesse dormindo
e nem estivesse acordado.
A morte e a vida são diferentes e andam juntas, ou divididas?
Será que uma delas nos dá azar,
ou uma delas nos dá sorte?
Como será realmente a vida?
Será assim, igual, depois da morte?
Alguém aqui sabe se, depois da morte, a gente sobrevive?
Ou sabe se, só depois de morrer, é que a gente vive?
Como é que eu posso saber?
Alguém aqui já morreu pra me dizer?
Sempre me perguntam se tenho medo da morte. Não, eu não tenho medo da morte. Tenho curiosidade e, de vez em quando, uma leve, uma tênue vontade de conhecê-la. O que me causa medo, o que me apavora são aquelas pessoas, todas bem vivas e pobres de espírito, que deixam um rastro de destruição e de tristeza por onde passam.
AMAR
Amar é, também, saber o momento de nos afastarmos, sem isolar a pessoa amada da nossa vida, respeitando a sua liberdade e o seu desejo por espaço e por tempo. Mesmo que este espaço seja de milhares de quilômetros e que este tempo seja pra sempre.
Obrigado, amiga Tristeza,
por me suportar a cada dia,
não me deixando a vida oca:
sem Tristeza e sem Alegria.
Os seus pais morreram de overdose.
O pai, de overdose de álcool;
A mãe, de overdose de desgosto.
E ele é viciado em tristeza.
Pronoia
Se isso é ser nóia, então eu quero ser assim, viver eternamente me
delirando com os teus beijos,
dopado pelas tuas paranoias.
Acordei na madrugada com alguém batendo na vidraça. Abri a janela e o vento entrou com o teu perfume, me envolvendo com a doce sensação do teu abraço.
Neste Natal, consegui falar "com deus e o mundo", mas o meu Natal continuou triste, pois a minha deusa se recusou a me atender.
Neste Natal, consegui falar "com deus e o mundo", mas de nada adiantou. O meu Natal continuou triste, pois a minha deusa não quis falar comigo.
Sempre ofereci o meu amor inteiro de graça para todos eninguém deu valor.
Quanto resolvi vendê-lo em pequenas doses, a granel, muita gente se interessou.