Raísa Sousa
Que eu te encontre num dia ensolarado, nublado, chuvoso, com névoa e te diga alguma coisa ou muitas coisas. Que eu te reconheça no momento exato em que puser meus olhos em você, dia após dia, que seja sempre o mesmo, e se por ventura, ocorrer de eu não conseguir reconhecer a mim, de você eu não me esquecerei. Teu rosto fascinante, teu olhar único, uma constelação no céu do meu mundo...
E que você saiba que houve um encontro ali, que não viremos estranhos que se conhecem bem. Que você esteja vestido de amarelo, azul, verde, preto ou branco. Que você me encontre, carinhosa, meio grossa ou séria demais, as vezes charmosa, quem sabe um dia ou outro eu nem te chame a atenção. Mas que você me veja com bons olhos e eles encontrem os meus sempre.
Que você perceba o quanto eu te enxergo, como minha luz muda quando te vejo.
Que você saiba como eu sou complicada, ou que eu sou desajeitada, ou que eu não sei dançar muito bem. Que tenho meus dias ruins, muitos defeitos. Mas que você decida ficar e me conhecer mais, porque já sabe como se encontrar no meio da minha bagunça, que aliás, você já arrumou. Que a gente se conheça aos poucos, aos muitos, aos tantos, aos beijos, aos toques, aos olhares, aos filmes de fim de noite, aos cheiros do perfume de sempre, aos dias de dormir de conchinha, aos minutos de ligações entre uma possibilidade e outra de nos dizermos que já sentimos saudades. Que você possa contar comigo, possa dormir comigo, possa brigar comigo, mas não agressivamente (somos muito mais sensíveis ao amor do que ao conflito). Que você não se arrependa naqueles momentos em que a gente dá espaço aos porquês ou que outras possibilidades lhe sejam tentadoras, que você tenha orgulho de segurar minha mão.
Que eu possa te fazer sonhar. Que eu possa realizar os teus maiores sonhos e te consolar caso alguma coisa dê errado no meio do caminho.
Mais importante que isso tudo:
Que saibamos valorizar a companhia um do outro e não nos percamos vida a fora.
- Raísa
Quando o seu autoconhecimento é fragmentado, estraçalhado, você reinicia o processo do zero, só que com muitas memórias que não contribuem em nada! Você é uma criança novamente, sem colo, alheia, perdida, vagando no vazio...
É impossível separar o que você faz de quem você é, o seu ponto de vista pode estar localizado no ponto cego, e você não notar que o conforto de não ver o que não lhe agrada pode estar escondendo as terríveis consequências que serão só suas!
Por vezes, aceitar o que você não pode mudar é a coisa mais dolorosa pela qual passará, mas você sabe que desistir foi o seu maior ato de coragem. E passar por essa experiência sem conseguir dizer para si mesmo quem você é, torna tudo ainda mais difícil.
Desintoxicar-se de todos os seus conceitos inúteis, abdicar do pedestal imaginário no qual você se colocou requer um esforço contínuo e até cruel, mas inevitável, é isso ou ficar à deriva até o fim.
Auto-negação é uma das piores coisas que você pode fazer consigo mesmo, porém é mais confortável do que se reconhecer e admitir aquilo que você é.
A autocomiseração parece um acalento, é como se sentir pena de você diminuísse a culpa que te devora, mais uma evidência de que a sua máscara de vidro trincado ainda resiste.
Você nunca vai se perdoar, porque lá no fundo você sempre soube o que você é!
-Raísa
O amor impossível é aquele que, apesar de não ter obstáculos visíveis, se esbarra nas fronteiras invisíveis de quem somos, nas limitações do que podemos ser. Não há ninguém que nos impeça de amar, nenhuma distância que nos separe, nem rivais que nos desafiem. Mas ainda assim, a impossibilidade persiste. Talvez porque, mesmo tendo liberdade para viver esse amor, ele nunca se encaixa perfeitamente no que uma parte espera dele, no que podemos oferecer ou no que conseguimos entender sobre nós mesmos. A alma, por mais que se deseje unir ao outro, ainda carrega medos, dúvidas e as cicatrizes de outras buscas. E, então, o que poderia ser simples torna-se um caminho tortuoso, sem um final claro, uma conclusão que satisfaça os corações. Às vezes, o amor não precisa de barreiras externas para ser impossível. Às vezes, a verdadeira barreira é não saber o que fazer com tanto!
Raísa
Fomos, por instantes eternos, o que muitos jamais serão: um encontro raro, profundo, visceral. Era amor — daqueles que não se explicam, apenas se sentem. E ele sentia. Eu via nos olhos, nos gestos, nas entrelinhas.
E, no entanto, ele não ficou.
Disse que me amava, mas não queria o peso de me fazer feliz. Que era demais. Como se amar fosse uma carga, não uma escolha leve e compartilhada. Como se a felicidade só pudesse ser sustentada por um dos lados.
Mas eu nunca pedi sacrifício. Nunca quis que ele carregasse o mundo por mim. Eu só queria que caminhássemos juntos. Que fôssemos abrigo, riso, silêncio e paz — lado a lado, não sobre os ombros de ninguém.
Ele dizia que eu era tudo o que ele sempre sonhou. E, mesmo assim, se foi.
Talvez tenha sido medo. Talvez não se sentisse merecedor. Talvez o amor, por mais verdadeiro, tenha sido maior do que ele podia suportar.
O que sei é que somos almas que se reconheceram. E, ainda assim, ele escolheu o caminho oposto ao meu.
E isso é o que mais dilacera: saber que, mesmo com amor, mesmo sendo tudo o que ele dizia procurar… ele não quis ficar.
Adeus amor...
Não importa o quanto a gente fuja, nem para onde vá… no fim, não podemos escapar de nós mesmos. Cada um de nós carrega dentro do peito uma batalha silenciosa, uma guerra íntima que ninguém vê. E, por mais que o mundo mude ao nosso redor, é dentro de nós que a verdadeira vitória precisa acontecer. Porque, se não vencermos a nós mesmos, perderemos todas as outras batalhas — inclusive aquelas que mais importam.
Seus hábitos devoram seus planos no café da manhã, e isso é mais do que uma frase… é um lembrete de que o amor, os sonhos e até as despedidas são moldadas pelas escolhas silenciosas que fazemos todos os dias. Não há destino escrito, só caminhos abertos — e, às vezes, eles seguem em direções diferentes, mesmo quando o amor ainda grita dentro do peito.
Hoje, você está indo embora, e eu fico aqui, entre a dor da ausência e a incerteza se teria sido melhor não ter vivido esse amor?! Não me despeço de você com rancor, mas com respeito, acredite, porque eu fui verdadeiramente feliz com você, não por você, não te carreguei nos ombros e não foi um fardo vê-lo sendo feliz comigo, porque você não sabe, mas eu sei que você era muito feliz ao meu lado!
De todas as pessoas que me machucaram, você foi o único que também me curou de algo, que apesar da dor, também me amou, e me tratou como eu jamais fui tratada antes. Eu me sentia uma criança protegida, uma menina feita de amor e entrega, uma mulher completamente realizada...
No íntimo do teu ser, você duvida se eu realmente fui capaz de perdoá-lo, saiba que sim, eu viveria o resto da minha vida com você, sendo leal, cuidando e amando você, se você me colocasse no lugar que mereço, e eu acreditaria em cada afirmação sua dita em prol da nossa relação, acreditaria no seu despertar... Pois um homem é capaz de absolutamente tudo, pela mulher que ele ama e eu nunca exigi de você um sacrifício doloroso...
Mas é isso
Vai… segue tua estrada, enfrenta teus medos, transforma teus hábitos e vence tuas batalhas. Eu ficarei aqui, também lutando com as minhas, tentando ser alguém melhor, alguém que um dia consiga olhar para trás e sorrir, mesmo com tantos motivos pra chorar.
Leve com você tudo o que vivemos, tudo o que fomos… porque, apesar da despedida, uma parte de nós sempre vai existir, intacta, em algum canto dentro de você... em mim, consumindo todo meu ser.
Sabe do que eu jamais o perdoarei? Por ser tão vazio de mim, por ter me feito promessas que nunca irá cumprir, sussurrando por aí mentiras que eu adorava ouvir, por desperdiçar o tempo que não me deu, por escolher passear entre amores que não sou eu.
A Solidão da Mulher Forte
Há, na alma da mulher forte, uma dignidade silenciosa que o tempo não corrói nem a má sorte desmente. Forjada na têmpera das provações, ela caminhou altiva, sustentada pela firmeza de seus princípios e pela nobreza de seus afetos. Contudo, o destino, com seus caprichos insondáveis, conduziu-lhe os passos ao encontro do homem errado — figura envolta em falsas virtudes e promessas vãs, cuja presença foi mais tempestade que abrigo.
E ela, que tanto amava com a inteireza que só os espíritos indômitos conhecem, entregou-lhe o que possuía de mais puro: sua confiança, sua esperança e sua rara capacidade de renúncia. Amou, não com a leviandade das paixões efêmeras, mas com a solidez de quem vê, no amor, um pacto sagrado. E, contudo, foi traída. Não pela falha de seu sentimento, mas pela indigência moral daquele a quem devotou sua existência.
Assim, despida das ilusões que um dia lhe enfeitaram o olhar, encontrou-se só. Mas não uma solidão qualquer, dessas que se aplacam com novos convites ou vãos divertimentos: era a solidão grandiosa de quem, tendo amado o homem errado, descobriu que sua fortaleza, paradoxalmente, fora também sua prisão.
Pois a mulher forte, quando ama, não o faz a meio termo; dá-se inteira, e na medida mesma de sua força, é a profundidade de sua dor. Agora, em meio ao silêncio que resta, contempla as ruínas de um afeto malogrado, não com amargura, mas com a altivez de quem sabe que não foi sua alma que falhou, mas o caráter daquele que não soube acolhê-la.
E assim segue, só, porém invicta. Carrega consigo não o peso de um fracasso, mas a leveza trágica de quem aprendeu que o amor não redime o indigno, nem a virtude garante reciprocidade. A mulher forte, que amou o homem errado e ficou sozinha, é, acima de tudo, um monumento vivo à coragem de ter amado apesar de tudo — e de ter sobrevivido a si mesma.
Raísa Sousa
"A Morte Silenciosa de Mim"
Eu morri — não com o estrondo das tragédias anunciadas, nem sob o lamento das multidões, não recebi flores, nem falaram bem de mim.
Morri em silêncio... e segui de pé, sorrindo, servindo.
Morri — e ninguém viu.
Porque continuei com os olhos acesos e os gestos ensaiados,
a alma exaurida, mas a maquiagem intacta.
Não houve luto.
Nenhuma prece, nenhum adeus,
porque o mundo só crê na morte quando o corpo cai.
Mas eu, caí por dentro, sem fazer barulho, sem assumir a queda, sem pedir ajuda.
Morri nos dias em que engoli o pranto
com o café da manhã.
Nas noites em que abracei travesseiros frios, e em algum momento fui conforto para todos, menos para mim.
E ainda assim, sigo.
Não por esperança — essa já me deixou tempos atrás.
Mas por um resto de costume,
por um traço de amor próprio esquecido em alguma gaveta, por um instinto antigo de sobreviver, mesmo quando a vida já partiu, ou talvez apenas por falta de opção.
Sou espectro de mim,
com os passos firmes e o coração despedaçado, com o sorriso no rosto e o grito preso na garganta, carrasco do meu eu, recolhido a um canto, deitado no chão, faminto com frio.
Ser eu desde sempre significou morrer em silêncio todos os dias e ressuscitar sozinha antes do café esfriar.
Mas quem sabe…
quem sabe um dia o abismo me olhe de volta.
Ou quem sabe chegue o dia em que eu não precise ser forte.
Talvez a vida me resgate e perceba que desde o começo eu merecia viver inteira.
Raísa Sousa
Renasci no silêncio da minha dor
Eu fui ao encontro do fim. Não por fraqueza — que essa palavra não se aplique aos que lutam contra a própria existência — mas por exaustão. Cheguei ao limite onde a vida se esvazia de sentido, e o mundo ao redor se converte em espelho distorcido de desprezo, julgamento e perseguição.
Fracassei — ou assim pensei, nos instantes seguintes ao retorno. Foi então que compreendi: não era um fracasso, era um renascimento áspero, sem poesia, sem luz — mas ainda assim, um renascimento.
Não tive escolha senão recolher os cacos da vida que me restava, a mesma que outrora me esmagava. A mesma que parecia, até então, um lugar onde minha presença era um erro, um incômodo, uma afronta. Mas ao tocá-la novamente com mãos feridas e olhar desfeito, decidi: se era para viver, que fosse em meus próprios termos. Não mais sobrevivendo em silêncio, mas reconstruindo com firmeza. Não para agradar, não para caber — mas para me libertar.
Dei a volta por cima. Não de forma cinematográfica, mas concreta, diária. No trabalho, firmei os pés. No corpo, reacendi a centelha da presença. Conquistei espaço onde antes era exílio. Fiz do que antes era prisão uma casa — ainda com ruídos e sombras, mas minha.
Hoje, carrego as marcas daquele dia, não como vergonha, mas como testemunho. Porque viver, depois da queda, é a parte mais difícil, você já tentou curar alguma coisa?
AINDA SOBRE O AMOR
O amor é luz — mas eu sou mariposa.
Sou feita de asas frágeis, de voos que tremem, e mesmo sabendo do incêndio, eu fui, seduzida pela luz...
Te busquei como quem desejava o fim, mas desejava ainda mais o instante de calor.
Você foi clarão — farol, estrela, chama.
E eu, tão pequena, ao seu redor,
embriagada pela promessa do brilho,
mesmo ciente que me mataria, você me chamou, me atraiu, me deduziu.
O amor, dizem, é abrigo, é flor, é casa.
Mas pra mim, é vertigem.
É precipício vestido de sol.
Mas ainda assim, eu ficava, hipnotizada pelo seu encanto tão brilhante, a luz dos meus olhos, o motivo do meu respirar...
Porque há em mim esse destino triste de mariposa —
amar aquilo que pode me destruir
e achar nisso… beleza.
Eu não sei amar de longe.
Meu peito não entende fronteiras,
minha alma não teme queimaduras.
Só queria luz.
Só queria você.
Mesmo que, no fim,
o que tenha sobraso de mim
seja apenas sombra e pó.
Raísa Sousa
Não desista
Sei que ler isso pode parecer distante, mas vou te dizer com toda a delicadeza que eu posso:
não é sua culpa estar se sentindo assim.
E você não merece essa dor toda.
Quando a gente sofre demais, por tempo demais, a mente começa a apagar qualquer vestígio de luz que já passou por nós.
Não porque nunca houve — mas porque a dor é tão grande, que ela engole tudo.
Talvez você tenha crescido sem colo.
Talvez tenha amado e sido descartada.
Talvez tenha sido invisível onde mais queria ser vista.
Talvez tudo isso junto.
E aí, você olha pra vida e não vê sentido. Só escuridão. Só cansaço.
Mas se ainda há algo em você que conseguiu chegar aqui, agora,
então há algo em você que quer viver. Não essa vida cheia de dor — mas uma vida nova. Uma vida com alívio.
E ela é possível, mesmo que hoje pareça uma mentira.
Com ajuda certa, com um cuidado que você merece.
O que você sente não é drama.
Não é exagero.
É sofrimento real. E tem saída, mesmo que você ainda não a veja.
Sobre dor...
A dor de viver é um peso que vai se arrastando, sem fim. Cada passo parece uma montanha que se ergue à frente, intransponível, e mesmo respirar, esse ato simples e essencial, dói. O ar entra pelos pulmões, mas não traz alívio. Ao contrário, ele parece carregar um fardo invisível, uma pressão que se acumula dentro de nós. O coração bate com força, mas não há alegria nessa pulsação. Só há uma ausência, um vazio que consome.
Existir dói porque, muitas vezes, a vida não faz sentido. O tempo passa, mas as feridas não se fecham, e cada lembrança, cada pensamento, é uma lâmina que corta mais fundo. O peso das escolhas, as promessas quebradas, as esperanças frustradas… Tudo isso se mistura num amontoado de memórias que se tornam ainda mais dolorosas à medida que o tempo se arrasta.
É difícil manter a sanidade quando tudo o que se quer é desaparecer, sumir daquilo que, paradoxalmente, chamamos de "realidade".
O simples fato de estar vivo se transforma numa luta constante contra a própria existência, como se a própria respiração fosse um lembrete cruel de que, para continuar, é preciso suportar a dor.
Viver, em alguns momentos, é como carregar uma cicatriz que nunca cicatriza, uma ferida aberta que não se cura. E as noites, essas noites intermináveis, parecem se arrastar, como se o tempo estivesse contra nós, nos empurrando sempre mais fundo nesse abismo de sensação de que nada importa. E talvez, por mais que tentemos, nunca seremos capazes de escapar dessa prisão silenciosa, que é o simples fato de estar aqui, agora, vivendo.