Percival Everett
Esperar é grande parte da vida de um escravo, esperar e esperar para poder esperar mais um pouco. Esperar por ordens. Esperar por comida. Esperar pelo fim dos tempos. Esperar pela justa e merecida recompensa cristã no final disso tudo.
Naquele momento, o poder da leitura tornou-se totalmente evidente e real para mim. Se eu pudesse enxergar as palavras, ninguém poderia controlá-las, nem o que eu entendia delas. Ninguém poderia sequer saber se eu estava simplesmente olhando para elas ou lendo-as, tentando adivinhar o que diziam ou compreendendo-as. Era um assunto inteiramente privado, e inteiramente livre, e, portanto, inteiramente subversivo.
Odiava um mundo em que eu não podia aplicar a justiça sem ter a certeza de que seria retaliado pela injustiça.
Nós somos escravos. Não estamos em lugar algum. Uma pessoa livre pode estar onde ela quiser. O único lugar em que nós podemos estar é na escravidão.
Eu escolhi a palavra inimigo e a escolheria sempre, porque um opressor necessariamente implicaria numa vítima.
Que mundo estranho, que existência estranha, esta, na qual um igual precisa defender a igualdade de um outro igual, na qual um igual precisa ocupar uma posição que permita a articulação desse argumento, na qual o outro não possa fazer essa defesa em favor de si próprio, na qual se pressuponha que esse argumento deverá ser escrutinado por aqueles iguais que não concordam com ele.