Nanevs

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O DIA DO AMOR



Hoje é dia do amor
Como se o amor
Tivesse um dia só

Parva mania de "dias"
Que tem a humanidade
Em honra à negociata

Frágeis amores
Que precisam desse dia
Para se imporem

Sábios animais
Que amam sem apego
Por saberem amar

Tolos dos homens
Que sofrem por amor
Que nunca faz sofrer

Tolos os filósofos
Que ditam teorias
E se matam em suas práticas

Tola a autora
Que finge ao escrever
O que não sabe viver

(Nane-25/04/2015)

Inserida por Nanevs

ÁGUA MOLE EM PEDRA DURA



A vida ensina
Aos trancos e barrancos
O amor verdadeiro
Sem nenhum apego

Frases de clichês
Feito água mole em pedra dura
Tanto bate até que fura
A alma empedernida

É quando desanuvia
Valores subjetivos
E o presente é vivido
Sem passado ou futuro

É ver a beleza
Da pedra no caminho
E agradecer a oportunidade
De ter como retirá-la

Regar a planta amortecida
E perceber no dia a dia
O desabrochar da flor revigorada
Pela água embebida

Sentir a liberdade no frescor
Do voar de um passarinho
Sem se preocupar
Onde ou quando irá pousar

A vida ensina
Aos trancos e barrancos
O amor verdadeiro
Sem nenhum apego

Ensina a seguir
Sem olhar para trás
Deixando no caminho
Sementes de amor

A vida ensina
Aos trancos e barrancos
Que somos peregrinos
Em constante migração

A vida ensina
Aos trancos e barrancos
Que nada temos e temos tudo
O que ela (a vida) nos oferece

A vida ensina
Aos trancos e barrancos
O amor verdadeiro
Sem nenhum apego...

(Nane-27/04/2015)

LAPSOS DE MEMÓRIAS



Olhando um nada tão distante
Procuro por um só ponto
Que me traga de volta
As lembranças de mim.

Um vazio tão cheio
Circunda meu ser
Perdido num nada
Vagando sem esteios
Feito alma penada
Em meio à pessoas
Tão ansiosas como eu
E desconhecidas.

Já fui alguém
Que amou e foi amado
E que agora apagou da memória
Toda a sua história.

A infância perdida
Embora vivida
Guardada em algum lugar
Que não na memória
Ativa em mim.

A mocidade com amigos
Quem sabe, com amantes
Ou mesmo, amores
Também escondida
Num canto qualquer
Da falha memória.

O espelho me diz
Que meu tempo se acaba
Na curva descendente
Do semblante envelhecido
E das mãos enrugadas
Pela maturação presente
E a memória ausente.

Lapsos incandescentes
Feito estrelas cadentes
Passam e deixam rastros
Dizendo ser aquelas pessoas
Quem dizem que são
Na minha vida vazia
E sem raiz nenhuma.

Demência ou loucura
Sumiu meu legado
Ainda em vida...

(Nane-28/04/2015)

Inserida por Nanevs

O PEQUENO CONTADOR DE ESTÓRIAS

Hoje me dispus a observar
A esperteza e a malemolência
Do pequeno "grande" Fred
No seu mundo de imaginação
Deu-me de presente algumas pedras
E me disse para guardá-las
Pois as trouxera de muito longe
Apenas para me ofertar
Sorrindo, as guardei nas mãos
Mas ele não se contentou
Disse que eu as pusesse na gaveta
Que era mais seguro
Assim fingi que fiz
E ele se foi para novas estrepolias
Mais tarde, veio me dizer
Que viu um helicóptero vermelho
Sobrevoando nossa horta
Jogando nela sementes
E que agora vai nascer
Muitas verduras fresquinhas
Vindas do céu para a gente plantar
E comer no jantar
Surpreendi-o falando sozinho
Sentado num cantinho do quintal
Ele então me apresentou
Seu amigo invisível
Nome não tinha
Era apenas o "amigo"
Que quando se cansou
Despediu-se e saiu
A noite "acordou"
E a gente precisa ir dormir
Um banho quentinho ele tomou
E começou a cochilar
Antes de adormecer
Me disse bem baixinho
"Vovó, guarda bem o seu presente
Que são pedrinhas de estorinhas"
Ajeitei-o na caminha
E corri lá no quintal
Juntei algumas pedras
E guardei-as na gaveta.

(Nane- 03/05/2015)

Inserida por Nanevs

ESPERANDO



Ainda te quero
Com a mesma força da paixão
Avassaladora de um temporal
E com a brandura do carinho
De uma brisa no litoral
Ainda sonho
Com as quimeras vividas
Na ilusão da perfeição
Do encontro de nós dois
Num instante de magia
Ainda espero
A maré trazer nas ondas
De seu eterno ir e vir
O amor que se dispersou
À deriva na correnteza
Ainda escrevo
Todo dia para você
Mesmo sabendo que não lê
Mas com a certeza de saber
Que é só por você que continuo a escrever
Ainda espalho
Palavras pelo ar
Na esperança que o vento as soprem
De encontro aos seus ouvidos
Para que por mais um só instante
Você volte a me amar
Ainda...

(Nane-04/05/2015)

Inserida por Nanevs

POESIA ATEMPORAL

Escrevo de um tempo
Sem mais tempo
Quando todo o nosso tempo
Era o tempo de nós dois

Busco um tempo
No tempo que tenho
O tempo ido
Por tanto tempo perdido

Já não tenho o tempo
Que tive em outro tempo
Quando o tempo de bonança
Fazia poesia do tempo

É tempo do adeus
Ao tempo do amor
E sem ele não vale o tempo
Dessa vida sem tempo

Nesse espaço de tempo
Meu tempo tem muito espaço
Para relembrar do tempo
Que o tempo apagou

E o seu tempo se espalhou
No vento que o tempo trouxe
Meu tempo se perdeu
E no tempo... parou

Inserida por Nanevs

MENINO TRAVESSO



Com sentimentos não se brinca
Nem tão pouco se manipula
O destino é o senhor
E Cupido só um menino

Brincalhão e sem escrúpulos
Flecha corações à revelia
De um que ama o outro
E do outro que ama algum

Faz salada de sentimentos
E se diverte com a confusão
Causa dores aos corações
Deixando marcas nos espíritos

Em seu caminho um rastro de desilusão
Costuma adoecer de tristeza
Quem antes sabia sorrir
Sem mágoas e nem paixões

Cupido é narcótico
Viciante e fatal
Faz vibrar e delirar
Para depois, sem dó, matar

Não adianta aconselhar
A vítima fascinada
Mas se você puder
Não se deixe acertar

Com sentimentos não se brinca
Nem tão pouco se manipula
O destino é o senhor
E Cupido só um menino

(Nane-05/05/2015)

Inserida por Nanevs

ACERTO DERRAMADO



O que fazer com a incerteza
Do certo e do errado
Quando o seu certo se derrama
E se mostra todo errado

Cavar na areia um buraco
E enfiar lá a cabeça
Deixando a respiração sufocada
Morrendo enterrada

Ou adormecer por longo tempo
E despertar no esquecimento
De um novo tempo
Sem ares ou ventos de lembranças

Deixar a cabeça na guilhotina
E decepar todas as decepções
Sem carrasco ou extrema-unção
Talvez seja a solução

Correr por uma longa estrada
Até cair exaurido
De cara no pó do chão
Destruído ou de tudo destituído

Enquanto não vem a resolução
A incerteza permanece
E o errado prevalece
Sobre o certo derramado

(Nane-05/05/2015)

Inserida por Nanevs

PORQUÊS



Há tantos porquês
E tão cheios de regras
Com e sem acentos
Em começos e fins
Que já nem sei do certo
Nem tão pouco do errado

Será você o certo
No acento circunflexo
Ou errado no junto
Que julguei separado
E por isso tirei o chapéu
No final da linha

Entre tantos porquês
Perguntei a mim mesma
Por que será
O porquê de não mais ter
O porquê da minha vida
Perdido em meus porquês...

(Nane-09/05/2015)

Inserida por Nanevs

O PALHACINHO FREDERICO

Era uma vez um menino
Que adorava os palhaços
Lá da televisão
Tinha tanto medo o menino
Dos palhaços de verdade
Que preferia observá-los
De longe...bem de longe
Pensava mesmo que eles tinham
Aquelas caras pintadas
Dia e noite, noite e dia
Mas ainda assim gostava deles...

Veio o dia então
Que o menino percebeu
Que o palhaço era homem
E medo não precisava ter
Palhaço agora, ele queria ser...

A vó, que palhaça também era
Pintou sua carinha
E o menino no espelho
Se viu como um lindo palhacinho!

Tão feliz ele ficou
Que não quis tirar a máscara
Os flashs pipocaram
E para todos ele posou
Com um sorriso de felicidade
Do palhaço Frederico...

Adormeceu o palhacinho
E sonhou com as palhaçadas
Acordou de cara limpa
Contando pra todo mundo
Que fora palhaço por um dia
E que isso, por certo virou poesia.

(Nane/11/05/2015)

Inserida por Nanevs

MULHER DE CARGA

Mulher culpada
Da culpa de ter
A marca na alma
De ser mulher

Carrega seu fardo
No corpo nu
Em plenas avenidas
Do país que te oprime

Mulher de cargas
Pesadas e à mostras
Para quem tem olhos
De ver e entender

Mulher coragem
De expor seu corpo
Aos olhares curiosos
Que quase sempre não veem

Mulher bonita
Em todas as suas formas
De alma livre
No corpo atada

Mulher de carga
Altamente explícita
Na força explosiva
Da sua ARTE

(Nane- 11/05/2015)

Inserida por Nanevs

VÍSCERAS MISTURADAS

Exponho as vísceras
No meu desespero
Que grita teu nome
No meu silêncio

Dentro de mim
Se fez tsunami
Sacolejando meus órgãos
Misturados e sem lugar

Esvaindo o sangue
Jorrado em lágrimas
Salgadas e adocicadas
Com cheiro nauseabundo

O pulmão enegrecido
Comprimindo o coração
Perdidos no fog da fumaça
Do cigarro companheiro

Bate nas costas e cabeça
Não sei se cérebro ou coração
Só sinto o pulsar insano
Da saudade do teu corpo

Rasgo com minhas unhas a minha pele
Na esperança de ver aliviar
A pressão dessa dor que me consome
E fugir da tua opressão

O peito já não sangra mais
Na cirurgia da triste poesia
Só não sei o que deve ser extirpado
Pra tirar você de mim

Onde está meu coração
Nessa arritmia dos meus órgãos
Atrás da penumbra dos pulmões
Ou no cérebro ensandecido

Pouco importa isso agora
Sou retalho do que fui
Exposta e a venda na xepa
Dos mortos vivos por amor

(Nane-11/05/2015)

Inserida por Nanevs

JOGADA AO VENTO



E na minha loucura me perdi
Dos meus próprios devaneios
Transformando-os em esperanças vazias
De quem já não pensa em nada

Foram-se as quimeras
E os sonhos da imaginação
Sobrou o vazio de uma mente oca
Sem mais nenhuma expectativa

Num solo estéril
Semeei a podridão
De grãos infecundos
Jogados ao léu

A frieza do nada me envolve
E nada mais faz sentido
Homens e mulheres
Crianças e velhos

Só o vazio me preenche
De um nada sem importância
O que será ou o que virá
Não faz mais diferença

De bom, dentro de mim
Resta pouco ou quase nada
Os sonhos fundiram-se aos pesadelos
E as noites aos dias

O bem e o mal são tão efêmeros
Como a vida e a morte
E essa maldita dualidade
Me faz ser quem não sou

Talvez amanhã eu esteja eufórica
E escreva palavras bonitas
Talvez amanhã eu nem acorde
E durma o meu sono derradeiro

Na minha loucura me perdi
E por que cargas d'águas não consigo
Preencher esse vazio que restou
E fez de mim...nada

(Nane-14/05/2015)

Inserida por Nanevs

DESAFIANDO A PREGUIÇA



Da janela do meu quarto observo
O dia que passa marrento
E vejo o sol com preguiça
Por ser sol de outono

Lá fora, correm galinhas e patos
No terreiro mesclado pelo cimento
Onde descansam os cachorros e os gatos
Também preguiçosos

Me chamam as tarefas diárias
Mas a preguiça é contagiante
Nesse dia de sol indolente
Que parece estagnar a gente

Da janela do meu quarto observo
O quintal sem menino correndo
Ta tudo tão silencioso
Que parece natureza morta na tela

Vejo mato, cimento e ribeirão
E casas de vizinhos fechadas
Só a minha está aberta
Por preguiça minha de fechar

Deixa passar esse dia
Enquanto eu aceito o desafio
E vou fazendo poesia
Com preguiça e um assobio

(Nane-15/05/2015)

Inserida por Nanevs

LATENTE LOUCURA

Ferem-me os sentidos
Revividos num instante
De sanidade latente
Acabrunhada...

Doce loucura
Que me priva do verossímil
Conduzindo mi'alma
Sem amarras ou grades

Viajante espectro
Livre de acepção
Mergulhando em rios
Correndo pros mares

A culpa destoa
Da santa loucura
Quando emerge do nada
A mais (ainda) louca sanidade

Ferrolhos trancafiados
Pesando na alma
Aflita que vaga
Encarcerada no corpo

Sou meio e tudo
De um inteiro partido
Na luta perdida
Do certo e o errado

Vago na minha sanidade
Contida em meus desejos
Enquanto na minha loucura
Vivo o meu bem querer

(Nane-16/05/2015)

Inserida por Nanevs

MENTIRA VERDADEIRA
Por que te amo
Nada me é permitido
Além do desejo
De te ter

E por te amar
Nada há de ser limitado
Dentro do meu querer
Mesmo sem poder

E por nada ser verídico
Insisto em te amar
Mesmo que nunca te tenha
Além do pensamento

E por seres só uma mentira
Te faço de verdade
Em todos os meus desejos
Não realizáveis

E por não existires
Tornas-te meu maior desejo
E vives em meus devaneios
Tornando-te real em mim

E por seres meu maior amor
Me entrego e morro
Quando percebo que és mentira
E eu a tua verdade

Perdoa meus desatinos
E entenda de uma vez por todas
Que de uma tola mentira
Fiz minha maior verdade

(Nane-17/05/2015)

Inserida por Nanevs

FANTASMAS DA MADRUGADA

É sempre na calada da noite
Que sobrevoam sobre mim
Os fantasmas insinuantes
Bailando nas sombras
De encontro à fosca luz
Que transpassa na cortina
Esvoaçante...
Suas vozes melancólicas
Incompreensíveis para mim
Incomodam o meu sono
Conturbado e confuso
Já me acostumei a eles
E o medo, em mim, não faz morada
Perturbam minha mente delirante
Moldando sempre uma só imagem
Do rosto que zombou de mim
Com gargalhadas escancaradas
Aos gritos de "iludida"
Por ter acreditado no amor
Insone, viro e reviro
Tentando não ver
O rosto que quero esquecer
E meus fantasmas não deixam
Estuprando meu cérebro com imagens
E vozes incompreensíveis
As luzes da cidade logo se apagarão
E a aurora anunciará um novo dia
Descansarei enfim, na labuta diária
Dos teus olhos frios que me olham
Moldados pelos fantasmas que me rondam
Todas as madrugadas...

(Nane-18/05/2015)

Inserida por Nanevs

INTRÍNSECA



A febre intermitente
Não vai, não fica
Frita meus neurônios
Cozinha minhas ideias

As vísceras, essas
Sarapatéis baianos
Prontas à serem devoradas
Pelos corvos de Allan Poe

Intrinsecamente revirada
Sinto o enjoo da ressaca
Jogada no mar revolto
Da minha própria enseada

Levada de encontro à pedra
Deixada deitada na areia
Vomitando disparidades
Dos pensamentos fritados

Lavas de fel abrandadas pelo mel
Mareando o estômago cozido
E queres que eu escreva o que
Além dessas minhas mazelas

Um fio tênue separando
Realidade e devaneio
Embriagados num mesmo espaço
Do cérebro viciado

Sirvo-me aos corvos de Allan Poe
Expondo meu corpo à milanesa
Extenuado e sem preconceito
Para que me comam e devorem

Antes que eu mesma me refaça
E deles me sirva
Comendo-os vivos e empenados
Quando a febre for embora (de vez)

(Nane-19/05/2015)

Inserida por Nanevs

FELIZ DE QUEM DEU MILHO AOS POMBOS



Afunde seu derrière no sofá macio
Ajeite suas costas na fofa almofada
Conecte-se com o mundo lá fora
Enquanto passa indolente a sua vida

Feliz de quem deu milho aos pombos
Posto que viram os pombos em bandos
E ouviram seu revoar ao saciarem a fome
E viram o poeta fazer disso, canção

Agora, tudo isso acontecendo
E você aí...afundado num sofá
Teclando no seu celular
Conectado ao mundo inteiro

Protestando contra o sistema
Dos coxinhas e dos truculentos
Entre foices e martelos
Sem sair do seu lugar

Feliz de quem deu milho aos pombos
E viu que eles são reais
Hoje você voa tão alto quanto eles
No seu mundo virtual

Grita bem alto em seu perfil
Esse seu jeito de herói varonil
Enquanto do seu lado o silêncio
Afasta todos os seus amigos

Afunde seu derrière no sofá macio
E deixa morrer de fome os pombos na praça
Enquanto os tiros dos canhões disparados
Atingem seu alvo real

(Nane-19/05/2015)

Inserida por Nanevs

RODA TUA BAIANA SALVADOR



Salvador, Salvador
O que é feito de ti
És filha do grande Criador
E teu nome te conduz

Cidade de puro sincretismo
Respira por teus becos e vielas
Tuas ruas e avenidas
Todas irmanadas religiões

Salvador, Salvador
Porque fostes castigada
Com tanta severidade
E tantas vidas perdidas

Que fizestes Salvador
Teu povo é só amor
Foi aviso da mãe natureza
Para cuidar da tua beleza

Ah Salvador...
Que teu povo seja confortado
Por todos os Santos que em ti moram
E que sejam (também) por eles ensinados

Que teus dirigentes se orientem
No respeito ao meio ambiente
E te reestruturem com o mesmo fervor
Dos fiéis filhos de São Salvador

(Nane-20/05/2015)

Inserida por Nanevs

PORTAL DE LIMIARES



O cansaço tomou conta de mim
Nas trevas do meu desassossego
Procuro em vão pelo alívio
Da morte que me rejeita

Vocifero todas as heresias
Batendo na porta do umbral
Limiar do inferno e do céu
Nas minhas entranhas decompostas

As palavras abortam em minha boca
Feito feto cuspido na latrina
Ensanguentando meu karma
Destituído de qualquer missão

Pesa-me nas costas o preto velho
Agarrado feito filhote indesejado
Nos anos que se arrastam nas trevas
Do que seria a minha vida

Os remédios condutores do sono
Postados inertes na prateleira
Como um convite do abrir da porta
Do umbral limiar do meu inferno ou do meu céu

O cansaço tomou conta de mim
Nas trevas do meu desassossego
Procuro em vão pelo alívio
Da morte que me rejeita

(Nane-20/05/2015)

Inserida por Nanevs

PLATÔNICA DEMÊNCIA



Na loucura dos meus dias
Insisto em te procurar
Nas molduras do infinito
Linear do céu com o mar

O horizonte me oferece
Teu rosto no crepúsculo
Enquanto a alvorada
Traz tua voz no canto da passarada

Demência ou paixão
Loucura ou razão
Pouco importa
É só o meu jeito de ter você

Na noite e no dia
Em tempo integral
O pensamento é meu
E nele mando eu

Você tão distante
Ainda mora em mim
Mesmo não querendo
É teu meu coração

Platonicamente eu digo
Que poeta nunca fui
Mas o amor, esse demente
Me fez enlouquecer...e te escrever

Que importa o toque
Se teu cheiro está em mim
Que importa se não me amas
Se o meu amor esta em ti

(Nane-22/05/2015)

Inserida por Nanevs

AVE MARIA CHEIA DE GRAÇA



Santa Maria
Mãe de Deus
Me disseram um dia
Que de tanto eu pedir
Me atenderias

Me ensinaram a rezar
O terço Mariano
Na hora do Ângelus
Insistindo no pedido
Que eu tanto queria

Pedi, pedi e pedi
Numa ladainha incessante
Que a Santa Maria não ouviu
Por estar muito ocupada
Com outros pedidos bem rezados

Danou-se e me ferrei
O terço está guardado
Se bem que nunca o ganhei
E o fiz de feijões estragados
Sem força nas orações

Ainda hoje eu peço
Sem terço e sem fé
Me perco nas ladainhas
E esqueço da fala vindoura
Ou da conta a seguir

Ave Maria
Cheia de graça
Agora só o que peço
Me deixa dormir sossegada

(Nane-23/05/2015)

Inserida por Nanevs

VINGANÇA ARTICULADA



Que pretensão a minha
Acreditar no amor
Fruto de uma mentira
Semente de uma verdade

Que ingenuidade a minha
Não perceber que a vingança
Se camuflou de sentimento
E mais do que a mentira, enganou

Que fragilidade a minha
Ao me deixar envolver
No visgo pernicioso
Que sufoca e faz doer

Que tristeza a minha
Não conseguir me desvencilhar
Não deixar de amar
Quem de mim só quis zombar

Que loucura a minha
Desse jeito me entregar
E ver passar a vida
Sem conseguir nada mudar

Que vingança a sua
Pensada, pausada e articulada
Com toda a maestria
De um mestre vingador

Que triunfo o seu
Que no mais vil dos sentimentos
Conseguiu matar em mim
A vontade de viver

(Nane-25/05/2015)

Inserida por Nanevs

A DANÇA DAS PALAVRAS



Dançam na mente as palavras
Que fogem e se recusam enfileirar
Na poesia que eu queria escrever
E ao mundo, mostrar

Divertem-se comigo as palavras
Que mostram-me a poesia
Mas deixam claro que são delas (palavras)
A supremacia da autoria

Aí bate o cansaço
E me irrito na impotência
De não saber traduzir
A beleza da poesia escondida

Dançam a dança lírica
Enquanto eu apenas vivo
A poesia oculta
Em mim segredada

Isso faz do poeta
Refém de si mesmo
E das palavras, potentado
Do meu mundo não revelado

(Nane - 30/05/2015)

Inserida por Nanevs