NaNa Caê

251 - 263 do total de 263 pensamentos de NaNa Caê

A pessoa tem a faca e o queijo na mão, ela escolhe cortar meu coração.

A pessoa tem a faca, o queijo e a minha vida na mão, mas não me oferece nem uma artéria pulmonar podre pelo seu cigarro.

Inserida por nanacae

Estou cultivando amor juntamente aos fios do meu cabelo, me disseram que assim seria mais fácil. Não me assustam as proporções exageradas quando paro na frente do espelho, estão crescendo, você vai ver, mesmo me cegando durante vários momentos, os deixo ali, quase me tapando a visão. E quando sinto as pontas batendo em meus olhos, jogo a cabeça para a direita, deixo a saudade espremidinha em um pequeno espaço, aquecida, envolvida nos tufos de cabelo.

Não entendo sobre minhas caras, aquelas que você insiste em dizer que fiz. Não compreendo sequer sobre a distância da sua cama para o abajur, eu não estou aí.

Deixe então que eu pratique diariamente com você meus dramas, o que mais, além disso, eu poderia fazer?

Continuo lendo seu único email até conseguir dormir. E mesmo que o poema não seja seu, encarno o personagem, te coloco bem ao meu lado, como em todas as noites deveria ser.

Inserida por nanacae

Você pede, não espera que eu responda, logo concede, por mim, por deus e todos nós. Divide as posses e sentimentos como potinhos com algodão, água e feijão, esquece que mesmo se fossem assim cresceriam no máximo centímetros e nunca iríamos transplantar esse verde dali, não valeria a pena amadurecer, trocar todo o tom.

Eu tento dividir a saudade em partes, me sentir mal apenas durante as manhãs, dar desculpas como insônia, péssimo humor, mas não sei ser justa, não há igualdade em mim, só egoísmo e um pouquinho de rancor.

Inserida por nanacae

Recebo as correspondências, mas nunca você na minha casa.

Inserida por nanacae

O grande problema é que eu sempre sofri muito, por tudo, as vezes até mesmo por estar bastante feliz.

Inserida por nanacae

Como era complicado encerrar algumas ligações, brincar de contar até três pra dizer logo adeus.

Inserida por nanacae

No teto você dança uma canção distraída, adormece pelas quatro pontas do quarto, faz das cortinas edredom.

Tenho medo de entrar na sua casa, ficar tonta, não saber acompanhar seus passos, girar de cima até o chão.

Te procuro então por aqui em tantos textos, rabisco diariamente umas quatrocentos imagens nossas através de palavras.

Ainda me esforço para emendar o cansado órgão com versos pesados e retalhos do que restou da sua quase despedida.

Inserida por nanacae

Arranco pedaços da minha pele como se eles não precisassem de mim, em poucas horas começarão a se decompor no chão. Arranco tanta gente, roupas, tecidos velhos costurados com linha de anzol, puxo com firmeza os braços que não me interessam mais, debaixo de sol, chuva ou tempestades em copo d’água. À noite finjo que durmo, fecho os olhos, deixo que escorram todas as lágrimas criadas durante o passar do dia. Quando acordo, torço meu travesseiro em um bule, das lágrimas faço meu café, não te ofereço, nunca, até nisso sou egoísta, mesmo tendo sido você quem me fez chorar. Compro amendoins e cocadas pra te suprir daqueles vários outros modos que não consigo, não sei, mas acho que oferecendo comida e dinheiro, eu possa melhorar no que sou. E eu me contentaria apenas em pensar, não conversar com ninguém, exceto com você, contar o que sempre fica girando na minha cabeça, me deixando tonta, fazendo vomitar naquelas ruas tão limpas, asfalto feito de azulejo de piscina, em que deito, brinco de me afogar, enquanto engulo alguns litros de piche, azul.

Inserida por nanacae

No fim das pontas há pedaços de durex pra que elas passem com facilidade entre os pequenos buracos do tênis e mesmo assim continuo a pisar, no cadarço, em pessoas por aí. Esse parece ser o melhor modo de aquecer os pés, em vez do chão frio fico por cima delas, são quentinhas que nem bauru feito na hora.

No fim das honras, em ocasiões especiais, me arrisco a andar descalça sobre as costas de algumas pessoas, principalmente quando você diz que vai dormir comigo, como poderia subir na cama com pés gelados? Logo cedo eles derreteriam e com o lençol encharcado poderíamos morrer afogados.

No fim das dobras ainda sou naife, quebro duas ou três costelas em que vou pisando enquanto esquento o calcanhar, elas emborcam para fora como farpas e me arranham. Tenho acordado sempre com vergões, amanhece, finjo que fui eu mesma e ainda penso ‘preciso cortar as unhas’, sendo que o ideal seria o corpo todo, acabar com essa aflição.

No fim das contas não há números, e mesmo que houvesse, eu nunca fui boa em calcular. Só sei que você faz falta, não me pergunte por quanto tempo, são tantas horas seguidas a cada dia.

Quando você não está por perto deslizo pelas ruas com meus pés de gelo fingindo ser um elegante patinador.

Inserida por nanacae

Sua graça não caminha pela casa
Se move blindada em abstrações
Irrelevantes são as coisas
Da cabeça
Estantes
Livros esquecidos
E todos os outros móveis que continuam no mesmo lugar
Assim como eu
Aqui
Onde a cama ainda é cama
E a TV televisão
Na sua ausência digo seu nome baixo
Não ao teto ou ao quebrado espelho
Mas à porta
Cristalizando ali sua presença
Te vendo em cada prisma
Refletindo
Diagonalmente a múltipla esperança
Numa perplexidade boba e infantil

Inserida por nanacae

Tingi de negro, entre as letras já escuras, como se fosse necessário as esconder, de mim, de você, do nós.

Molhei com leite seus manuscritos feito bolacha maizena como se fosse mais fácil assim os digerir.

Bati sua cabeça no tanque até todo sangue escorrer pelos olhos, enchendo dois baldes azuis e um anil.

Pintei as paredes de vermelho como pediu, pena que não está mais aqui para ver o esforço que fiz por você.

Inserida por nanacae

Minha boca dói porque você não soube trazer torneiras pra dentro desse quarto. Pedi por água, qualquer gota de cuspe seu. Continuo meio sedada, sentada, quase caída, melhor dizer descansada do que esgotada no canto em que você escolheu. Melhor dizer, do que sonegar, chorar pra você abrir minha boca selada com esse nada, cola de vazio, zíper de ódio, deixar parecer que está fazendo um grande favor.

Espremo os lábios feito feridas infeccionadas, pra ver se abre algum espaço e dali sai minha língua feito pus. Mas só aparecem ratos, espasmos condizentes de horas a mais de horror, fragmentos esponjosos que confundo com pequenos poros, buchas que ponho sobre a pele, esfregando como se fizesse um som de isopor, rangendo qualquer superfície a ponto de esticar os pêlos, arregaço então mais as mangas, os puxo feito elástico como se esticassem a dor.

Enquanto você inventa personagens e se espelha neles, sou apenas um reflexo dos meus. Não consigo criar mais nada assim calada, não sei imaginar algo sem ler em voz alta, o que acaba secando minha mente. Preciso de algum líquido mais forte, conhaque ou vodka, que preencha de vez os cômodos, infiltre as paredes até que elas se encharquem e me tussam para fora dessa casa.

Inserida por nanacae

Eles se despem ondulando desesperos por entre buracos na estrada, tapados com terra-sangue de crianças desnutridas de amor.

Você desafortunada repousa em pianos, como se cada arpejo morresse depois dos toques terríveis de seus dedos.

Eu ainda temo, porque o que passa é sempre literatura que não da pra vender, então as jogo a frente, pra ter onde pisar e não cair em abismos.

Ela pergunta o que estou fazendo respirando, como se fosse tomar por charme o seu próprio ar.

Inserida por nanacae