mehellen
Certo dia, eu estava assistindo a uma série e ouvi a seguinte frase:
“É isso que o abuso faz com a gente. Me transformou nessa isca grudenta pra todas essas pessoas esquisitas. Uma ferida aberta pra farejarem.”
Aquela frase me atravessou como uma espada enferrujada, rasgando todo o meu interior. Quantas vezes me peguei pensando exatamente isso, tentando encontrar uma resposta para, repetidas vezes, ser esse ímã que atrai pessoas capazes de abusar, aproveitar, machucar...
Muitas foram as vezes em que me questionei sobre quais atitudes minhas me colocavam nesse lugar de vulnerabilidade.
Quão frágil eu sou?
O quanto eu não sei impor limites?
O quanto eu mesma me abuso, por não saber dizer “não”, pelo medo de deixar o outro desconfortável?
Tem dias em que me sinto um amontoado de dor, amassada em paredes e invadida, como se eu não significasse mais nada a não ser um pedaço nojento e miserável de carne.
Como aquela pequena garota de cachos e olhos estatelados podia despertar algo além de pena? Eu só queria poder abraçar aquela garotinha e dizer que vai ficar tudo bem, que aquilo nunca mais vai acontecer, mas eu estaria mentindo.
Aquele acontecimento te marcaria como um gado, te fazendo lembrar todos os dias de que você é propriedade dessa trágica realidade.
É estranho pensar que a dor faz parte de mim, que eu preciso senti-la para saber que estou viva. Quantas foram as vezes em que me machuquei, me invalidei, apenas por sentir que não era digna de ter nenhum respeito.
Parece que não estou apta a ser feliz...
 
 
 
 
 
 
 
