Max_James
O Anjo que Me Reconheceu
Sempre passava por ela no parque. Sentada, quieta, sem dizer uma palavra. As pessoas passavam apressadas, como se ela nem existisse. E eu… eu também passei. Como se estivesse anestesiado. Como se o mundo não tivesse espaço pra olhar alguém assim.
Mas naquele dia… eu voltei. Não sei porquê. Algo dentro de mim quis ver se ela ainda estava lá. E estava. No mesmo lugar. Sentada com os olhos mais tristes do mundo. Mas algo mudou em mim. Dessa vez eu não consegui simplesmente ignorar.
Cheguei perto, devagar. Vi que o vestido dela marcava algo estranho nas costas. Uma corcunda… E talvez fosse por isso que ninguém parava. Como se a dor visível espantasse.
Ela baixou os olhos, envergonhada. Mas mesmo assim, eu sorri. Sentei ao lado dela. Disse um "oi". Ela me olhou surpresa… e respondeu, quase sussurrando. Foi a primeira vez que alguém se importou.
Conversámos. O tempo passou como se o mundo lá fora tivesse sumido. Até que perguntei por que ela estava tão triste. Ela me olhou fundo e disse: "Porque eu sou diferente."
Aquilo mexeu comigo. Eu respirei e disse: "Sim… você é. Mas ser diferente não é um erro. Você parece um anjo."
Ela deu um sorriso pequeno, com os olhos cheios de lágrimas . E perguntou: "Achas mesmo isso?"
Eu respondi com o coração: "Você é como um anjo mandado para olhar todas as pessoas que passam por aqui." Então ela se levantou, abriu lentamente suas asas — sim, asas — e disse: "Eu sou o teu anjo da guarda."
Fiquei sem palavras. Então ela finalizou dizendo:
— Quando tu paraste de pensar só em ti, o meu trabalho foi realizado.
imediatamente Levante-me e disse:
— Espera! Mas por que é que ninguém mais parou para ajudar um anjo?
Ela virou-se uma última vez e sorriu:
— Porque foste o único que conseguiu ver-me.
E Desapareceu no meio da brisa.
Deste esse dia, nunca mais fui o mesmo.
Se um dia sentires que estás completamente só, lembra-te disto: O teu anjo nunca te deixou. O meu estava lá. Sempre esteve.
O Anjo que Me Reconheceu — Parte 2: O Retorno
Os dias passaram. Muitos. Talvez anos. Às vezes eu voltava naquele banco, como quem tenta conversar com um silêncio. Mas ela… nunca mais apareceu. Pensei que tinha sonhado. Que era só coisa da minha cabeça cansada de solidão.
Mas o que eu senti aquele dia… era real demais pra ser invenção.
Foi numa noite fria que tudo mudou. A cidade parecia coberta de névoa e ausência. Eu caminhava sem rumo, meio perdido, meio conformado. Já nem esperava mais nada.
Até que, entre as névoas, vi uma garota de pé. Era ela. Os olhos mirando o vazio, igual a mim. Mas tinha uma calma no jeito dela... tão profunda, que parecia que tudo ao redor se aquietava.
Meu coração reconheceu antes dos meus olhos.
— És tu…? — perguntei, sem coragem de falar mais.
Ela se virou devagar. Os olhos estavam mais maduros. Tristes, mas firmes. Como os de quem viu demais. E mesmo assim, não deixou de sentir.
— Voltei — disse ela. — Tu me chamou com o teu silêncio.
Eu queria chorar, mas fiquei parado. Tonto de emoção.
— Achei que tinhas ido embora pra sempre — falei baixo.
— Nunca fui embora de verdade — ela respondeu. — Fiquei onde tu guardou aquele dia: dentro do teu coração.
Ela se aproximou. Tocou minha mão, que tremia. E então falou com a voz mais doce do mundo:
— Tu ainda tem bondade, mesmo depois de tudo. Ainda procura beleza nas ruínas. E isso… isso faz de ti um anjo também.
— Eu? Um anjo? — perguntei, quase rindo de dor.
Ela assentiu.
— Tu foste meu milagre quando ninguém mais me via. Agora eu volto pra ser o teu.
E, pela primeira vez, eu chorei. Não de tristeza. Mas porque alguém me reconheceu — inteiro. Com as falhas, os cacos, e o coração cansado… ainda assim, digno de cuidado.
Ela me abraçou. As asas, agora mais fortes, nos envolveram como um casulo.
E pela primeira vez em muito tempo… eu me senti salvo.