M. Simão
Até quando?
Minha pele preta
Ainda chama atenção.
Alguns olhares são de preconceito,
Outros, de discriminação.
Independente de onde eu vá,
Muitos me julgam pela minha cor, sem sequer me escutar.
Não importa meu conhecimento, diploma ou certificado,
O preconceito já está implantado.
Definem minha negritude em serviços braçais:
Atendente de lanchonete, fast food e outros locais.
— “É doméstica aqui no condomínio?
Então tem que usar o elevador dos serviçais!”
O preconceito é estrutural,
Não conseguem idealizar
Um negro advogado, médico, engenheiro
Ou gerente de uma multinacional.
Dizem por aí que somos todos iguais,
E que somos nós, pretos, que somos radicais,
Por nos importarmos com questões raciais.
— “Racismo? Isso ficou no passado!
Hoje, brancos e pretos estão equiparados.”
Mas sabemos que essa realidade está distante.
Por mais que nossa luta seja constante,
Se um branco e um preto forem abordados pela polícia,
Adivinhem...
Quem será o traficante?!
Outro fato eu posso compartilhar:
Na cabeça de muitos,
Um negro não tem condição de viajar,
E muito menos num hotel cinco estrelas se hospedar.
Pois, em algum momento, alguém vai pensar:
— “Ele está aqui para trabalhar.”
Até quando vão nos tratar com tanta crueldade?
Acham que, por sermos pretos,
Devemos viver na comunidade,
E não temos o direito de sonhar com a universidade!
Mas não pensem que irão nos calar.
Por mais árdua que seja,
Nossa luta irá continuar.
O legado de Zumbi, Malcolm X, Martin Luther King,
Mandela, Rosa Parks e tantos outros
Vamos sempre honrar.
E quem sabe, algum dia,
A tão sonhada equidade racial conquistar.
Somos resistência, memória, história e perseverança.
E, sim...
É uma grande ironia...
A bandeira da paz ser branca.
Todas as Pretas
Andando pela rua,
Admirando a natureza,
Algo chamou minha atenção:
A beleza da mulher preta!
Aquela pele tão linda...
Impossível não admirar.
Seu sorriso? Belo, cristalino,
Como as águas límpidas do mar.
Ela desfilava pela calçada,
Com um vestido estampado,
Nas cores vibrantes da aquarela.
Que preta linda!
Nunca vi beleza igual à dela.
Seu olhar, encantador,
Trazia mistério, alegria e amor.
E, no meio da sua caminhada,
Percebi...
Bem baixinho, ela cantava.
Era uma canção... em Yorùbá,
Que dizia com firmeza e clareza:
— “Mulheres pretas, aprendam a se amar!
Se orgulhem dos seus ancestrais,
E jamais tentem nos padrões da branquitude se encaixar.”
Ela é preta, empoderada!
Merece ser amada, respeitada...
Jamais... desvalorizada!
É forte, determinada,
Traz no sangue a coragem de
Rosa Parks, Anastácia, Tereza de Benguela e Dandara.
Seu cabelo afro?
É símbolo de liberdade,
De luta, cultura e representatividade.
Ela estufa o peito,
E carrega, com orgulho,
O peso e a beleza da sua ancestralidade.
Podem falar da sua cor,
Dos seus lábios, do cabelo ou nariz...
Ela ama sua história,
Sua cultura,
E honra sua raiz.
Sua essência não se compara.
Sua beleza... é rara!
Corre em suas veias a garra,
E a coragem de Tia Ciata.
Essa preta está espalhada pelo mundo inteiro.
São exemplos de resistência:
Marielle Franco,
Mãe Menininha do Gantois,
Maria Firmina dos Reis,
Carolina de Jesus,
Sueli Carneiro.
A luta da mulher preta nunca para.
Elas seguem firmes,
Por todas aquelas que foram silenciadas.
Lutam como:
Conceição Evaristo,
Antonieta de Barros,
Aqualtune,
Ruth de Souza,
Djamila Ribeiro,
Dona Ivone Lara.
E assim, seguem na caminhada,
Em busca de igualdade e equidade.
Exigem respeito:
À sua crença,
À sua cultura,
À sua identidade.
E sabe onde podemos encontrá-las?
Em mim,
Em você,
E em cada mulher preta...
De todas as idades!