Jose_Alberth
Carta que nunca te entreguei
Você chegou como quem não pretende ficar, mas sem perceber, foi ficando. Aproximou-se com a naturalidade de quem conversa com o vento — leve, imprevisível, e ainda assim, marcante. E eu, que vivia em silêncio, me vi ouvindo você como quem escuta uma canção pela primeira vez: atento, curioso, encantado.
Antes de você, eu era só mais um entre muitos. Não havia laços, apenas presenças passageiras. Ninguém permanecia. Mas então você veio, e pela primeira vez, senti que alguém me via — de verdade. Com você, até a solidão parecia ter sentido.
Seu sorriso era como o sol invadindo um quarto escuro. Seu jeito de falar, as pequenas expressões, a maneira como olhava o mundo… tudo em você era poesia sem rima, mas com alma. Me encantei. Me entreguei. E mais do que isso, te amei.
Não daquele amor romântico dos filmes, mas do tipo que escuta, que cuida, que espera em silêncio — mesmo quando está doendo. Acreditei que o destino havia costurado algo entre nós. Que o universo, por um breve instante, havia sido generoso comigo.
Mas o tempo mostrou que nem tudo que brilha permanece. Vieram novas pessoas, novas histórias. E com elas, você foi se afastando. Dando mais de si a quem não sabia te ler. E quando se partia, quando o mundo te quebrava, você voltava.
E eu te recebia. Sem cobranças. Sem perguntas. Porque no fundo, sempre preferi te ter por instantes do que te perder por completo.
Você me contava tudo: seus dias, suas dores, suas confissões noturnas. Mas, aos poucos, o som da sua voz foi se tornando raro. As mensagens se espaçaram. As palavras viraram ausências. E mais uma vez, me vi esperando.
Esperando… você.
Talvez por esperança. Talvez por amor. Talvez por tolice.
Mesmo sabendo que, se voltar, é possível que me troque de novo. E mesmo assim… estarei aqui.
Porque amar, às vezes, é aceitar ser esquecido… e ainda assim lembrar.
Com tudo o que restou de mim,
Aquele que nunca deixou de te esperar.
Eu me pergunto o que aconteceu.
Do nada, você sumiu —
e as conversas, antes cheias de vida,
viraram silêncio.
Com o tempo, parece que você esqueceu.
Mas eu não.
Ainda lembro de tudo —
de cada palavra,
de cada instante suspenso no ar.
Às vezes penso
que a memória é um castigo disfarçado:
o vento leva o que é leve,
mas o que pesa fica —
e eu fiquei com elas.
Espero que as suas lembranças
não tenham ido com o vento,
como se nunca tivessem existido.
Porque as minhas continuam aqui,
tecendo silêncio
no lugar onde você estava.
