Giulia Staar

Ele é tão demasiado. Cheio de coisa, cheio de tudo. Porque logo alguém como eu cheia de nada, tão escassa, e tão trabalhada na solidão, quis dar espaço a alguém tão cheio de presença?

Eu odiava ser assim, um livro escancarado. Ele me lia, nunca ninguém havia me lido antes, ninguém nunca falou minha língua. Nunca. E ele aparece de repente, dizendo que entende meu alfabeto inteiro.

Não gosto de coisas que podem ser desfeitas, lápis, bem, o lápis é o pior de todos os seres que podem ser apagados. Eu era como um lápis certo? Aparentemente. Aparentemente, eu poderia ser apagada. E vestígios de mim, os restos de mim, não sobrariam nenhum.

Flores não duram, elas não são presentes eternos, elas se vão. Odeio flores, odeio tudo que fica, odeio tudo que fica, sabendo que um dia vai embora..

E você chegou, me mostrando que logo eu que achei ser tão lotada, era tão vazia…

Não agrida minha existência, com toda essa sua vivência

Meu vazio é bem localizado, tem até endereço!

Eu sou louca. Não o culpo por achar isso. Sei que não sou quase nada, mas se alguma parte de mim é algo, loucura está definitivamente incluso.

Me sinto mais sozinha do que nunca em sua companhia.

Porque eu era tão errada? Tão cheia de nada, enquanto todos eram tão cheios de si?

Se cale, o silêncio gosta do privilegio de existir.

Ter medo de ser esquecida é o pior dos medos. É como tentar fugir da velhice, não adianta, ela sempre chega. E as vezes, você já é velha e nem sabe. As vezes, você já foi esquecida, até por você mesma. A ignorância nunca pareceu ser tão atraente não é? Ela te chama, ela quer te agarrar, e você deixa. Você deixa. Você deixa se levar. Não há como resistir a uma boa dose de ilusão fantasiada de felicidade. Mas como toda ilusão acaba, o produto é negativo, o resultado é negativo. E tudo se torna escuro. Você se sente esquecida. Você está se perdendo. E a gente sabe, na vida, na vida, ninguém está disposto a te encontrar.

Era tão clichê, a história de uma garota que tem todo tempo do mundo a perder.

E quem achasse suas partes que jogassem o lixo fora.

Você aparece, me observa sentada a cadeira, o medo se vai. E eu quase choro, perdi tudo. E ao mesmo tempo, você grita: “Você nunca teve nada"

Ele larga cada palavra de uma forma tão lenta, que meu coração acelera de forma tão rápida que eu penso que morri, na verdade, quando foi mesmo que eu estive viva?

Eu tentei, juro que sim, e o fracasso me pegou no flagra.

Essa inconstância me mata. A incerteza de ser me destroça. Ao que parece sou louca. E ele me entende. Sei que sim.