Biografia de Fagundes Varela

Fagundes Varela

Fagundes Varela (Luís Nicolau Fagundes Varela) nasceu na Fazenda Santa Clara, no município de Rio Claro, no Rio de Janeiro, no dia 17 de agosto de 1841. Filho de fazendeiros passou a infância junto à natureza. Em 1960 muda-se para São Paulo, onde ingressa na Faculdade de Direito. Publica seus primeiros trabalhos literários e participa da vida boêmia da cidade.

Em 1861 publica seu primeiro livro de poesias “Noturnas”. Em 20 de maio de 1862, em Sorocaba, casa-se com Alice Luande, filha de um proprietário de um circo. Em 1863 nasce seu filho Emiliano, que morre com apenas três meses de vida. O desespero, a profunda tristeza e as dificuldades financeiras por que passa inspira-lhe o seu mais famoso poema “Cântico do Calvário”.

Sem concluir o curso universitário, entrega-se à vida boêmia. Muda-se para São Paulo, volta a frequentar a universidade. Em 1864 publica “Vozes da América”. Em 1865 morre sua esposa, e nesse mesmo ano publica “Cantos e Fantasias". Continua sua vida boêmia. Muda-se para a cidade do Recife, ingressa na Faculdade de Direito e participa da onda de nacionalismo ali desencadeada.

Fagundes Varela desenvolveu todos os temas românticos, como o pessimismo violento, misticismo religioso, lirismo amoroso, a vida interiorana, a exaltação à natureza e a presença da morte. Escreveu também: “Cantos Meridionais” (1869), “Cantos do Ermo e da Cidade” (1869), “Anchieta ou O Evangelho na Selva” (1875), “Cantos Religiosos” (1878) e o “Diário de Lázaro” (1880), ambas publicadas postumamente, entre outras. O escritor faleceu ainda novo, em Niterói, Rio de Janeiro, no dia 18 de fevereiro de 1875

Acervo: 14 frases e pensamentos de Fagundes Varela.

Frases e Pensamentos de Fagundes Varela

"O que eu adoro em ti não são teus olhos,
teus lindos olhos cheios de mistério,
por cujo brilho os homens deixariam
da terra inteira o mais soberbo império.

O que eu adoro em ti não são teus lábios,
onde perpétua juventude mora,
e encerram mais perfumes do que os vales
por entre as pompas festivais da aurora.

O que eu adoro em ti não é teu rosto
perante o qual o marmor descorara,
e ao contemplar a esplêndida harmonia
Fídias, o mestre, seu cinzel quebrara.

O que eu adoro em ti não é teu colo,
mais belo que o da esposa israelita,
torre de graças, encantado asilo,
aonde o gênio das paixões habita.

O que eu adoro em ti não são teus seios,
alvas pombinhas que dormindo gemem,
e do indiscreto vôo duma abelha
cheias de medo em seu abrigo tremem.

O que eu adoro em ti, ouve, é tu'alma,
pura como o sorrir de uma criança,
alheia ao mundo, alheia aos preconceitos,
rica de crenças, rica de esperança.

São as palavras de bondade infinda
que sabes murmurar aos que padecem,
os carinhos ingênuos de teus olhos
onde celestes gozos transparecem!...

Um não sei quê de grande, imaculado,
que faz-me estremecer quando tu falas,
e eleva-me o pensar além dos mundos
quando, abaixando as pálpebras, te calas.

E por isso em meus sonhos sempre vi-te
entre nuvens de incenso em aras santas,
e das turbas solícitas no meio
também contrito hei-te beijado as plantas.

E como és linda assim! Chamas divinas
cercam-te as faces plácidas e belas,
um longo manto pende-te dos ombros
salpicado de nítidas estrelas!

Na doida pira de um amor terrestre
pensei sagrar-te o coração demente...
Mas ao mirar-te deslumbrou-me o raio...
tinhas nos olhos o perdão somente!".

A mais tremenda das armas,
Pior que a durindana,
Atendei, meus bons amigos:
Se apelida: - a língua humana!

Serão os gênios da tarde
Que passam sobre as campinas,
Cingido o colo de opalas

E a cabeça de neblinas,
E fogem, nas harpas de ouro
Mensagens a dedilhar?

São os sabiás que cantam...
Não vês o sol declinar?

Ou serão talvez as preces
De algum sonhador proscrito,
Que vagueia nos desertos,
Pedindo a Deus um consolo
Que o mundo não pode dar?

Desde a quadra a mais antiga
de que rezam pergaminhos,
cantam a mesma cantiga
na floresta os passarinhos

Pelas tranças da mãe-d’água
Que junto da fonte está,
Pelos colibris que brincam
Nas alvas plumas do ubá,
Pelos cravos desenhados
Na flor do maracujá …
Não se enojem teus ouvidos
De tantas rimas em - a -
Mas ouve meus juramentos,
Meus cantos ouve, sinhá!
Te peço pelos mistérios
Da flor do maracujá!