Emerson Coelho
O romantismo quebrado, a solidão embriagada e uma estética suja e bonita de quem já viu o amor morrer dentro de um quarto de hotel e ainda assim tentou escrever poesia com o corpo todo doendo.
Onde o amor vira um tipo de salvação torta, e o respirar depende de alguém que já não sabe mais ficar. É poesia em combustão lenta. Dor com delay. E esperança mesmo quando tudo parece irrecuperável.
Aqui é onde a desistência encontra redenção, onde a poesia nasce do fracasso e onde ser honesto dói, mas cura.
A cada linha, um suspiro de tristeza pelas coisas que a gente finge que esquece, mas nunca para de lembrar.
Amar de verdade, às vezes, é saber deixar ir, com a dignidade de quem sentiu tudo, mas não precisa mais provar nada pra ninguém.
Porque tem gente que a gente não supera — a gente aprende a conviver com a ausência. Como quem mora com um fantasma que já virou parte da mobília.
Saudade é isso: dançar sozinho com as lembranças.
Com o peito apertado e o coração bêbado de passado.
Abraçar a sua sombra é parar de fugir do espelho. É olhar pra dentro e dizer “eu sei o que você fez" “e mesmo assim, ainda te amo” “porque você é tudo o que me sobrou e tudo o que me trouxe até aqui.”
Ninguém é inteiro sem seus pedaços escuros.
Ninguém é forte sem suas quedas.
Ninguém é livre sem primeiro encarar o cárcere da própria mente.
O amor é como um espelho quebrado que você se vê em partes e percebe que tentou colar o impossível. Que amar sozinho é como construir uma casa em areia movediça.
A ausência deixa espaço. E é nesse espaço que mora a dor. A memória do que já foi e talvez nunca tenha sido do jeito que a gente lembra.
Aqui a tempestade ficou engarrafada e o sentimento não resolvido é transformado em memórias que a gente não queima porque o cheiro da fumaça lembra casa.
Se um dia o mundo deixar, me espera no lugar onde a gente nunca esteve. Pois eu ainda acredito na ideia boba de que dois corações podem se colar se baterem no mesmo compasso.
Você diz que vai embora.
Eu digo “vai”, mas minha voz treme.
Você diz que me odeia.
E eu rio. Porque sei que no fundo você só não sabe mais amar.
Nem eu.
A gente se estraga melhor do que se ama.
Mas tem alguma coisa nesse caos que parece casa.
Alguma coisa doente, instável, mas familiar.
Mas agora eu uso a tua ausência como um casaco: grande demais, pesado demais e cheio de coisa tua.
Ainda me aquece.
Mas só machuca.
Tu chegava como quem acende as luzes da sala e pergunta se eu quero ficar.
Mas a cada resposta minha, desligava uma lâmpada.
E eu, tateando no escuro, comecei a achar bonito tropeçar em você.
Pior: comecei a achar que amar era isso.
Tentar caber em alguém que já está cheio de si.
É uma solidão tão real que não cabe dentro do peito, que escapa dos olhos, que corta feito lâmina que ninguém vê chegando.
Crescer é perceber que os adultos que tu admirava também estavam perdidos.
Apenas sabiam disfarçar melhor.
A verdade é que eu não queria ouvir a voz dela. Eu queria ouvir a minha voz com a presença dela no fundo.
Porque a gente aprende a falar diferente quando é ouvido com amor.
E desde que ela foi embora, eu desaprendi até a me explicar.
Eu sofro com um medo ridículo de te encontrar por acaso e o coração me entregar antes do olhar.
De você me tratar com a leveza de quem já esqueceu tudo — e eu ainda carregando cada detalhe como se fosse ontem.
De te ver feliz demais… e perceber que quem te fazia mal era eu.
E agora só me resta te dizer que você é, sim, alguém importante. Mas importante do jeito que as coisas que não acontecem se tornam: inesquecíveis, mas não vividas.
Queria, por um instante, ser como tu, só pra entender a versão de mim que tu enxerga, como tu enxerga essa minha insistência em carregar o peso do nosso passado como se fosse uma partícula que não sabe se deve colapsar ou se expandir. Talvez, se eu fosse como tu, finalmente entenderia a gravidade desse vácuo entre nós — ou talvez fosse só mais um estado instável, um efeito quântico que não se explica.