Carminha Barreto Campello

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Resisto nos andaimes de mim
sustento-me
na arquitetura dos meus ossos.
Há uma força que me impele / me repulsa
e me faz temer que
- morrerei sem dizer a palavra que quero..."

Retrato

E me espanto de mim:
- não me sabia assim
não me sabia de mim
de mim
que surpreendo agora
com esse olhar oblíquo e triste
esse jeito de sentar

e de sorrir
não sabia desse mim
que a moldura do poema aprisiona
pousando, no retrato, entre
frutas maduras e tendo o sonho aos pés
por escabelo."

Inserida por silvia04

Meu tempo não é este
não é este tempo
inóspito em que transito, estrangeira de mim..."

Inserida por silvia04

...Como quem de repente cala na hora de dizer
e não parte mais quando deveria ir..."

Inserida por silvia04

...E este coração que se faz semente
de sonho nesta terra devastada
de mim

que farei de um coração feito de espanto
que se recusa a morrer e se faz canto?"

Inserida por silvia04

Amigo,
somos combatentes derrotados de outras lutas
presos na armadilha fatal que nos armaram
e no entanto sabes
que o mel da ternura corre em nossa boca..."

Inserida por silvia04

Sobe de dentro de mim
uma ternura vinda de antes
que se elabora da rosa onde pousas a mão
(com ela amarras o nó da solidão)
É ela que te descerra os olhos
para a manhã que se inicia..."

Inserida por silvia04

Do livro MIRADOURO (1982)

Miradouro

A terra me foi aprisco
ao coração inquieto.
Nada sei de longes e vagos.
Sei apenas que meu nome É
e estou (árvore) plantada em teu coração adormecido.
do meu miradouro olho-me, olhando a vida.
Tenho olhos de calendário uma voz e um canto.
Nas minhas mãos afloram raízes de Mim
- estou no talo do imponderável.
Agora não é mais que ontem amadurecido: caio
como um fruto
exato e vertical.
Estas talvez sempre sejam minhas últimas palvras:
É preciso ter fome
para sentir-se
Sede
para saber-se úmida e subterrânea..."

Inserida por silvia04

Do livro PARTITURA SEM SOM (1983)

Tenho medo: inauguro o desconhecido
Se não me conheço
não me explico..."

Do livro DE ADEUS E BORBOLETAS (1985)

...Em vão colher o tempo na semeadura:
sou chão de lavas não de florescer.

Inútil a primavera no teu rosto
inútil o gesto de reter as borboletas.

As coisas só me chegam com gosto de adeus."

Inserida por silvia04

Um dia manchei-me de amarelo
em um girassol
e restou-me pólen em minha boca
daí que minha palavra é germinal.

...Às vezes tenho saudades de mim e me recrio
nas minhas constantes mutações; ontem fui flor e amarela.
Mas agora me chegam estes ares de vésperas
este desejo de adormecer
esta vontade de estar estando tanto
que se eterniza o gesto provisório..."

Empresta-me teus olhos.
Quero ver quanto vês
quando eles pendem como girassóis exaustos...

Inserida por silvia04

...De mim não sei do meu lugar.
Sei que sou fluida e móvel
tão pouco sei de mim e agora menos
quando meu ontem surpreende o meu agora..."

...E assim somos amor e
somos ódio
paixão e tédio,ciúme
riso e dor
que as vestes da alegria e da tristeza
se alternam ao sabor das circunstâncias
e enquanto a vida se enreda e
desvencilha
somos apenas personagens de nós mesmos..."

Inserida por silvia04

...O teu nome é o que justifica o poema."

Inserida por silvia04

Agora sou
a que sempre fui
mesmo não sendo
às vezes..."

Hoje amanheci
com um odor de madrugada
e gosto de pólen em minha boca.
Meus cabelos pendem como folhas molhadas
meus braços se distendem em floração.
Há um sol plantado em mim
um verão aceso
e toda me percorre uma seiva de mel..."

...Em solidão essencial
em solidão estou.
Trago-te um punhado de silêncio
branco como o pão.
Todos os dias me construo como um muro
me incorporo e me acrescento
penosamente me completo e sou..."