Brunna Keila
Desculpa. Desculpa por não conseguir te fazer sorrir ingenuamente como você sorria.
Desculpa por não conseguir ser a pessoa que você procurava.
Desculpa por muitas vezes não conseguir lidar com todas as suas emoções em geral.
E por último, perdão por não ter sido quem você queria que eu fosse.
Perdão, porque eu não consegui ser o anjo, o parâmetro, o amigo que você e seu coração precisavam no momento.
Nossa história não terminou bem, mas ainda sim é a melhor que eu conheci.
Agora, eu vou ter que me lembrar de você por mais tempo doque eu te conheço.
E por favor, não me diga que eu sou tão esquecível quanto o tempo e o silêncio tem me feito sentir.
Só porque eu deixei você ir, não quer dizer que eu queria.
Eu deixei um pedaço do que eu sinto em cada palavra que eu digitei neste texto.
Clarice Lispector, Freud, e Carlos Drummond com certeza iriam usar uma língua perfeita pra dizer isso, talvez diriam:
"Eu não apenas escrevi — eu me espalhei. Em cada palavra ficou um pedaço de mim: ora silêncio disfarçado de grito, ora desejo que se esconde do próprio olhar, ora pedra transformada em pão. Deixei ali o que não cabia em mim — e ao digitar, fui me desfazendo para poder existir.”
Eu não posso deixar de lembrar do saudoso Fernando Sabino, e Rubem Alves. Se eu dissesse a Freud estou me perdendo nas coisas boas ele provavelmente me faria esta pergunta:
"Mas diga-me… ao se perder nas coisas boas que escreve, de que exatamente você está tentando se encontrar ou se esconder?"
Eu claramente responderia assim se eu fosse como Fernando Sabino:
“Quando me perco no que escrevo, não é tanto para me esconder, mas para me revelar. A gente escreve porque a vida não cabe inteira no silêncio. E, ao tentar me encontrar, descubro que o melhor de mim se revela justamente no pedaço que parecia perdido. Escrever é me perder para me achar de novo — e nesse vai e vem, vou sendo um pouco mais eu.”
E se eu perguntasse a Rubem Alves, porque as pessoas desejam alguém que as escute de maneira calma e tranquila, em silêncio? Se eu perguntasse a ele porque no tempo de nosso amigo Freud as pessoas procuravam terapia para se curarem da repreensão e hoje procuram por causa da dor de não haver quem os escute?
Ele talvez me responderia assim…
“Minha querida, as pessoas sempre tiveram sede de escuta. No meu tempo, buscavam terapia porque carregavam dentro de si a ferida das proibições, das vozes que gritavam ‘não pode!’, ‘não deve!’, ‘cale-se!’. O mundo estava cheio de regras, e o coração ficava aprisionado.
Hoje, o que vejo é uma dor diferente. Não é a dor da repressão, mas da solidão. Não é o excesso de vozes, mas a falta delas. As pessoas sofrem porque não há quem as escute em silêncio — silêncio que não julga, não apressa, não dá respostas prontas.
O maior consolo que um ser humano pode dar ao outro não é um conselho, mas a sua presença atenta. Escutar é como oferecer um copo de água a alguém que atravessa o deserto. Quando alguém nos escuta de verdade, nós renascemos.
E talvez seja por isso que tantos procuram terapia hoje: não por doença, mas por fome. Fome de escuta. Fome de existir nos ouvidos e no coração de outro ser humano.”
Antes de morrer, eu gostaria de ter tomado um chá ou café com leite com Clarice Lispector, ter atravessado a rua, e um automóvel ter passado por cima de nós, e nós morremos. Ter adiantado as cartas de Fernando Sabino para evitar a decepção dele com os correios. Ter citado tudo aquilo que hoje eu não tenho coragem deitada num sofá de couro com Freud. Ter gastado horas incansáveis vezes pensando num verso que a pena não quer escrever junto com Carlos Drummond. E ver Rubem Alves citando o porque ainda não pensaram numa avaliação para avaliar a felicidade dos alunos, mas que todos se perguntam como os professores estão… - (Obra: A alegria de ensinar)
Eu não escrevo pra viver, eu vivo da poesia…
Se escrevo é porque tenho histórias pra contar.
A Cura do Irremediável.”
Eu começo este texto, explicando porque “A Cura do Irremediável”.
Segundo a wikipedia,“Irremediável” é algo sem solução, sem remédio ou possibilidade de ser evitado ou reparado, de forma definitiva, ou fatal.
A Cura do Irremediável, porque soa como um paradoxo, “a cura daquilo que não podia ser curado”.
Em sentido filosófico e existencial, representa a busca humana por lidar com perdas, dores e situações que parecem definitivas.
Existem dores, pessoas, lugares e tempos que não voltam mais.
Com um tempo, se desfaz, e esfarela tudo no vento.
Há algumas perdas que não tem remédio.
Silêncios em excesso que não se desfazem em palavras…
Mas, no fundo da alma cansada, onde o impossível se deita totalmente cansado, nasce uma cura, a cura do Irremediável.
não é apagar o que já passou, é claro.
Mas é aprender a respirar na ausência, e no silêncio que estão te fazendo sentir.
A cura do Irremediável não é devolver o que se perdeu, é transformar a ferida em choro deixado para trás. E transformar esse choro em oração.
E assim, o Irremediável se cura.
"A Falta de Entendimento dos Irmãos Mais Velhos e Mais Novos”
Entre irmãos existe um laço que parece inquebrável, feito de sangue, infância e lembranças. Mas, ao mesmo tempo, esse laço é atravessado por diferenças que tornam o convívio um território delicado. O mais velho sente o peso da responsabilidade, como se fosse chamado a ser exemplo, guia, quase uma extensão dos pais. Já o mais novo cresce à sombra desse exemplo, desejando liberdade, querendo ser visto por si mesmo, e não apenas comparado.
Daí nasce a falta de entendimento. O irmão mais velho olha para o caçula e o vê como imaturo, irresponsável, sem a seriedade que a vida exige. O mais novo, por sua vez, enxerga no mais velho alguém duro, exigente, que parece ter esquecido o que é sonhar e brincar. Ambos se cobram, ambos se julgam — e pouco se escutam.
Essa distância não é apenas de idade, mas de percepção do mundo. O filósofo diria que cada um vive em sua própria temporalidade: o mais velho já se preocupa com o futuro, enquanto o mais novo ainda se agarra ao presente. É como se olhassem a mesma estrada por ângulos diferentes.
O problema é que, nessa falta de entendimento, se perde algo precioso: a possibilidade de aprender um com o outro. O mais velho poderia ensinar paciência e prudência; o mais novo, leveza e espontaneidade. Mas muitas vezes ambos preferem se proteger em suas certezas, em vez de abrir espaço para a escuta.
No fundo, irmãos se amam, mas também se estranham. Talvez a verdade seja que esse estranhamento é inevitável — e, paradoxalmente, é nele que mora a chance de crescimento. Porque compreender o outro, quando ele é tão diferente, é também compreender melhor a si mesmo.
Assim, a falta de entendimento entre irmãos é uma escola silenciosa: ensina que o amor não é feito de iguais, mas de diferenças que precisam ser acolhidas.
"A Melancolia Que os Alunos Carregam Dentro Deles.”
As salas de aula parecem cheias de vozes, risadas e movimentação, mas, se olharmos com atenção, veremos algo escondido por trás dos cadernos abertos e das telas iluminadas: uma melancolia silenciosa que muitos alunos carregam.
Ela não é sempre visível. Às vezes se esconde num olhar cansado, num suspiro diante de uma prova, na falta de entusiasmo para responder a uma pergunta simples. Outras vezes aparece no corpo que está presente, mas na mente que vaga para bem longe.
Essa melancolia nasce de muitos lugares: da pressão em ser perfeito, do medo de decepcionar, da comparação constante, da falta de tempo para viver fora da escola, do peso das expectativas. Nasce também da solidão disfarçada, da sensação de não ser ouvido, de que suas dores são pequenas demais para importar.
No fundo, cada aluno carrega uma batalha invisível. E a escola, que deveria ser espaço de descoberta e crescimento, tantas vezes se torna palco de ansiedade, cobrança e silêncio forçado.
A melancolia dos alunos é um pedido de pausa, de escuta, de acolhimento. É o coração dizendo que aprender não pode ser apenas decorar fórmulas e datas, mas também encontrar sentido, encontrar lugar, encontrar-se.
Porque só quando a escola aprender a enxergar o que os olhos não mostram, os alunos poderão estudar sem sentir que precisam esconder dentro deles a parte mais humana que possuem: a fragilidade.
"Deus e a Escuta Silenciosa com os Adolescentes.”
Na correria dos dias, entre relógios apressados e adultos sempre ocupados, os adolescentes crescem em meio a um silêncio que não é apenas ausência de palavras, mas ausência de atenção. O coração jovem, cheio de perguntas, sonhos e inseguranças, encontra muitas vezes portas fechadas: pais cansados, professores sobrecarregados, e amigos que também lutam com seus próprios ruídos internos.
Os adultos não têm tempo. Estão sempre correndo atrás do trabalho, das contas, das preocupações que o mundo exige. Os mais velhinhos, quando poderiam oferecer escuta, já carregam em seus corpos a doença, o cansaço e a fragilidade do tempo. Assim, o adolescente, com seu turbilhão de emoções, muitas vezes se vê sozinho.
E é nesse espaço de solidão que um silêncio diferente se abre: o silêncio onde Deus se encontra.
Quando ninguém mais escuta, só resta Deus. Ele se faz presente na oração tímida antes de dormir, no pensamento escondido no meio da aula, no choro abafado no travesseiro. Deus é a escuta silenciosa que não julga, não se apressa e não cansa. Ele acolhe a inquietude, o grito e até o silêncio dos jovens que não encontram eco em mais ninguém.
É nesse colo invisível e eterno que os adolescentes descobrem que não estão sozinhos. Porque, mesmo quando os adultos não têm tempo e os velhinhos já não têm forças, Deus continua sendo o ouvido atento e o coração aberto.
No fim das contas, quando as vozes do mundo se calam, só resta Deus — e é justamente aí que o adolescente aprende que o silêncio pode ser cheio de presença.
Falar de silêncio é algo muito importante — e, ao mesmo tempo, difícil.
Toda vez que eu paro pra falar de silêncio, eu vejo o abismo que eu sou.
E toda vez que o vejo, percebo que vou me salvando através dele.
Quantas vezes a gente questiona o outro sem ter empatia pelo que ele vive — e, às vezes, nem é uma escolha.
Faltam três meses pro ano acabar, e eu já começo a sentir saudade.
O silêncio me faz respirar.
Ao mesmo tempo que ele me cansa, ele também me desafia.
Às vezes, ele atravessa a gente — de um jeito que nem dá pra explicar.
Engraçado como, a cada dia que passa, surge uma nova sensação sobre o meu trabalho.
Hoje foi um dia triste, e tive a certeza de que o meu trabalho leva um pouco das minhas tristezas com ele.
Ainda assim, eu agradeço muito.
Vou sentir falta quando acabar.
E toda vez que eu digo isso, penso: que clichê!
Mas, na verdade, quando a gente se despede de um trabalho — de um ciclo, né? — a gente se despede de muita coisa dentro da gente também.
Às vezes, me pergunto: o que as pessoas sentem quando leem meus textos?
O que está chegando delas até mim?
Será que elas sentem essa avalanche de emoções que a gente sente ao escrever?
Ou será que não sentem nada?
Será que a falta é minha?
Ou será que elas só não querem entrar em contato com as coisas que doem?
Mas aí, de repente, a gente recebe o gesto de alguém que poderia julgar quem sofre — e não julga.
A pessoa encosta a mão em você e diz:
“Posso te fazer um elogio? Muito obrigado. Eu me vejo em você.”
E, na verdade, quem agradece sou eu. Porque é a escrita que me faz ficar viva. Enquanto eu tiver oportunidade, eu vou escrever o melhor que eu puder.