Aquietai-vos e Sabei que eu sou Deus
O espinho da Rosa Rubra
Sonhei amar a rosa rubra,
a rosa em febre, a rosa em flor.
A desejei de peito aberto,
sem reservas, sem pudor.
Ansiei a sua beleza,
o seu perfume inebriante,
e o seu corpo... encantador.
Vivi mares, sonhei luares,
me embriaguei na madrugada,
até que a alegria, bailarina,
quebrou o salto na estrada.
E os risos — ah, que risos —
que um dia foram violinos,
viraram notas perdidas,
ecoando os meus desatinos…
Sonhei felicidade plena,
mãos dadas como um poema,
um mundo inteiro em harmonia.
Mas a utopia, tão leve,
voou como ave de neve
e sumiu com a minha melodia.
Fiquei só com o silêncio,
e um céu que não respondia.
Tudo que tentei fazer
se perdeu ao puro vento;
a vida é harpa do tempo,
toca o que quer, sem intento.
Agora deixo a noite ir
e o vento ser o que faz.
Já quis tudo, em tom maior;
hoje eu só desejo paz...
Espinhos não quero mais.
Jaques Dalbor
Declaração do Olhar
Queria te declarar mil versos de amor
e fazer-te sentir a ardência que me inflama;
mas faltam às palavras a força do clamor
para que o verbo dê vida a essa chama.
Poderia falar-te do amor que me inquieta,
do esplendor desse sentimento universal;
mas o que em mim, tão íntimo, se manifesta
não comporta ser falado na forma verbal.
Não cabe em frase o afeto que me invade,
nem se ouve o som do meu íntimo querer;
há sentimentos que a própria eternidade
não ousa, em voz ou em letras frias, conter.
Talvez um dia, se me olhares por dentro,
no fundo do olhar, onde a verdade é raiz,
verás que o pulsar intenso do meu intento
é conquistar o teu amor e te fazer feliz.
Jaques Dalbor
Nos galhos secos de uma árvore qualquer
Onde ninguém jamais pudesse imaginar
O Criador vê uma flor a brotar
Olhai, olhai, olhai. Os lírios cresceram no campo
E o Senhor nosso Deus os tem alimentado para nossa alegria
Para nossa alegria a-a-a
Para nossa alegria (2x)
