Amor Impossivel Martha Medeiros
"Amigas morrem de rir, mesmo em velórios. Debocham, liberam, recordam, comentam, confessam, perdoam, comungam e exorcizam fantasmas com 1 litro de vinho branco. Duas amigas e uma tarde livre é o paraíso. Não ficam olhando para o relógio como eu e essa estranha." [Divã]
Leve com você apenas o que combina e cabe na sua nova etapa de vida. O que sobrar, venda, ou melhor ainda: doe.
Não voltaria um único dia na minha vida, e lembranças boas é o que não me faltam. Não voltaria à infância - mesmo nunca mais tendo sentido tanto orgulho de mim quanto senti no dia em que ganhei minha primeira bicicleta sem rodinhas auxiliares, aos 6 anos, e saí pedalando sem ajuda, já no primeiro minuto, sem quedas no currículo. Não voltaria à adolescência, quando fiz minhas primeiras viagens sozinha com as amigas e aprendi um pouquinho mais sobre quem eu era - e sobre quem eu não era. Não voltaria ao dia em que minhas filhas nasceram, que foram os dias mais felizes da minha vida, de uma felicidade inédita porque dali por diante haveria alguma mutilação na liberdade que eu tanto prezava - mas, por outro lado, experimentaria um amor que eu nem sonhava que podia ser tão intenso. Não voltaria ao dia de ontem - e ontem eu era mais jovem do que hoje, ontem eu era mais romântica do que hoje, ontem eu nem tinha pensado em escrever esta crônica, ontem faz mil anos. Não tenho saudades de mim com menos celulite, não tenho saudades de mim mais sonhadora. Não voltaria no tempo para consertar meus erros, não voltaria para a inocência que eu tinha - e tenho ainda. Terei saudades da ingenuidade que nunca perdi? Não tenho saudades nem de um minuto atrás. Tudo o que eu fui prossegue em mim.
Nota: Trecho da crônica "Saudade nenhuma de mim" de Martha Medeiros.
...MaisAgora sente-se e escute: eu te amo não diz tudo
Nota: Trecho adaptado de texto publicado por Martha Medeiros. Link
Simpatizo cada vez mais com quem nos ajuda a remover obstáculos mentais e emocionais e a viver de forma mais íntegra, simples e sincera.
Mas a saudade mais dolorida, é a saudade de quem se ama. Saudade da voz, das conversas, do jeito. Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Saudade eu tenho do que não nos coube. Lamento apenas o desconhecimento daquilo que não deu tempo de repartir, você não saboreou meu suor, eu não lhe provei as lágrimas. É no líquido que somos desvendados. No gosto das coisas o amor se reconhece. O meu pior e o seu melhor, ficaram sem ser apresentados.
A Raça dos Desassossegados
À raça dos desassossegados pertencemos todos, negros e brancos, ricos e pobres, jovens e velhos, desde que tenhamos como característica desta raça comum, a inquietação que nos torna insuportavelmente exigentes com a gente mesmo e a ambição de vencer não os jogos, mas o tempo, este adversário implacável.
Desassossegados do mundo correm atrás da felicidade possível, e uma vez alcançado seu quinhão, não sossegam: saem atrás da felicidade improvável, aquela que se promete constante, aquela que ninguém nunca viu, e por isso sua raridade.
Desassossegados amam com atropelo, cultivam fantasias irreais de amores sublimes, fartos e eternos, são sabidamente apressados, cheios de ânsias e desejos, amam muito mais do que necessitam e recebem menos amor do que planejavam.
Desassossegados pensam acordados e dormindo, pensam falando e escutando, pensam ao concordar e, quando discordam, pensam que pensam melhor, e pensam com clareza uns dias e com a mente turva em outros, e pensam tanto que pensam que descansam.
Desassossegados não podem mais ver o telejornal que choram, não podem sair mais às ruas que temem, não podem aceitar tanta gente crua habitando os topos das pirâmides e tanta gente cozida em filas, em madrugadas e no silêncio dos bueiros.
Desassossegados vestem-se de qualquer jeito, arrancam a pele dos dedos com os dentes, homens e mulheres soterrados, cavando uma abertura, tentando abrir uma janela emperrada, inventando uns desafios diferentes para sentir sua vida empurrada, desassossegados voltados pra frente.
Desassossegados desconfiam de si mesmos, se acusam e se defendem, contradizem-se, são fáceis e difíceis, acatam e desrespeitam as leis e seus próprios conceitos, tumultuados e irresistíveis seres que latejam.
Desassossegados têm insônia e são gentis, lhes incomodam as verdades imutáveis, riem quando bebem, não enjoam, mas ficam tontos com tanta idéia solta, com tamanha esquizofrenia, não se acomodam em rede, leito, lamentam a falta que faz uma paz inconsciente.
Desta raça somos todos, eu sou, só sossego quando me aceito.
O mínimo que espero de qualquer pessoa é respeito.
Não precisa cair de amores por mim, não precisa me achar o máximo, inteligente e nem bonita, não vou ficar chateada não mesmo.
Mas sabe o que não passa pela minha garganta? Falta de caráter.
Não passa hoje e nem vai passar nunca.
O mínimo que espero de qualquer um, em qualquer patamar de relacionamento é respeito, e se você não é capaz de oferecer nem isso, esse é o motivo de ser imediamente eliminado de qualquer existência na minha vida.
Negue-se a participar de coisas em que você não acredita ou simplesmente o aborrecem. Presenteie-se com boa música, bons livros e boas conversas.Não troque sua paz por encenação.
Quando nossos olhos ficam embaraçados,
nada como usar os olhos dos outros
para voltar a valorizar o que é nosso.
Crônica: Aos olhos dos outros - Livro: Montanha Russa
Razão e emoção são dois planetas que não habitam
a mesma galáxia. Você sabe que sua dor é superável,
você sabe que amanhã vai encontrar um novo amor,
você sabe que é uma felizarda por ter saúde, família,
um teto para morar, mas você não sente assim.
E o sentimento é poderoso. Comanda-nos.
E a gente sucumbe. Feito um avião caindo do céu,
feito refém de um assalto do coração.
"É melhor aproveitar esta solidão indesejada para namorar um pouco a si mesma e ir se preparando para o amor que vem."
Ninguém é muita areia para ninguém. Pessoas aparentemente especiais se apaixonam por outras aparentemente banais e isso não é um trote, não é uma pegadinha, não é nada além do que é: um inesperado presente da vida, que todos nós merecemos.
Vou chegar atrasada e distraída,
como quem saiu do trabalho e foi direto pro bar.
Vou pedir um hi-fi inocente
e olhar toda hora pro relógio
como se estivesse alguém me esperando em outro lugar.
Vou rir bastante, manter um ar distante
e esquecer quanto tempo faz.
Vou perguntar pelos amigos e, se aceitar carona,
deixar cair um brinco no banco de trás...
Olho para trás e vejo aquela menina que queria entender tudo, com medo de que não coubesse tamanha quantidade de informação dentro de si. Coube e ainda cabe. E quanto mais entra, mais sobra espaço para a dúvida. Compreendo hoje que nunca entenderei a morte, os sonhos, a sensação de dejá-vu e as premonições. Nunca entenderei por que temos empatia com uma pessoa e nenhuma com outra. Não entendo como o mar não cansa, nem o sol. Não compreendo a maldade, ainda que a bondade excessiva também me bote medo.
QUERER MESMO !
É difícil conseguir o que se quer. Só se torna menos difícil quando se
quer mesmo !
O navegador Amyr Klink, ao ser perguntado por um repórter sobre o que
sentia a respeito das pessoas que passam 30 anos trabalhando no mesmo
escritório, sentadas a vida inteira diante da mesma escrivaninha,
respondeu: "Inveja". Klink admira quem consegue ser feliz numa rotina
imutável e tediosa. Como ele não consegue, sai pelo mundo em busca de
desafios.
Foi uma resposta provocativa. Inveja é justamente o que nós, seres
confortavelmente acomodados, sentimos de Amyr Klink quando o vemos
excursionar por cenários glaciais de tirar o fôlego e fazendo a superação
dos seus medos a sua rotina. Qual o segredo desse cara, afinal, para
conciliar família e aventura ? A gente também adoraria essa vida, mas a
diferença entre ele e nós, acreditamos ingenuamente, é que ele tem
patrocínio para sua falta de juízo, enquanto que nós temos juízo de sobra e
dinheiro contadinho no final do mês.
Na verdade, nossa resignação é conveniente, já que realizar sonhos dá muito
trabalho. A única diferença entre ser um navegador e ser uma economista-que-
sonha-em-ser-um-navegador é que um quis mesmo. O outro não quis tanto
assim.
Para romper convenções, e arriscar-se no desconhecido, é preciso querer
mesmo. Querer mesmo escalar uma montanha, querer mesmo surfar uma onda
assassina, querer mesmo filmar um documentário na África, querer mesmo ser
correspondente de guerra, querer mesmo trabalhar na Nasa, só para citar
outras aventuras supostamente inatingíveis. Querer mesmo, em vez de apenas
querer, abre a cancela de qualquer fronteira, seja ela geográfica ou
emocional.
Antes de alcançar os pontos mais indevassáveis da Antártica a bordo de
barcos equipados com alta tecnologia, Klink remou bastante, não ficou em
casa mentalizando seu sonho. Querer mesmo significa abrir mão de uma série
de confortos, tomar muito chá de banco, ver inúmeras idéias darem errado
antes de darem certo. E, em troca, ser chamado de doido varrido.
Querer, a gente quer muita coisa. Mas quase sempre é um querer preguiçoso,
um querer que não nos impulsiona a levantar da cadeira, ainda mais quando
nosso projeto tem 0,5% de chance de sucesso. É difícil conseguiu o que se
quer. Só se torna menos difícil quando se quer mesmo. Pena que alguns só
querem mesmo é ser rico ou ser gostosa, para isso fazendo coisas muito mais
insanas do que faz Amyr Klink. O que todos deveriam querer, mas querer
mesmo, é fugir da mediocridade.
Faz toda essa bagunça porque é insano mesmo. Aquela insanidade que dá gosto de ver, aquela loucura inofensiva de que falávamos antes: fugir da mesmice em nome da alegria de viver.
Ando me repetindo? Não sou eu, tchê. É o mundo.