Ameniza minha Dor
A minha alma buscava
E nada me completava
A Tua presença é o que faltava em mim
Minha vida foi transformada
Aproveito ao máximo as fases da lua da minha vida para retribuir aos que me fazem bem.
Aos demais, ignoro-os, esqueço-os tão fácil, pura e simplesmente.
ERA
Como se fosse hoje, minha mãe partiu
Num treze de maio que o Maio sentiu
Como se fosse a mãe dele a fugir
Para outro maio de sentir
Como ele sentiu.
Era Fátima no altar do mundo
Era esse o mundo de minha mãe
Deixando os que amava em horror profundo
E a Fatinha dela, pequenina, também.
Era o desabar de vidas coloridas
Entre flores vivas, vividas
E num relâmpago destruídas
Por um raio de vidas partidas.
Era, como se fosse hoje, treze de um maio
De há quarenta e cinco idos, falidos
Nos gemidos de minha moribunda mãe
Ao ir-se sem o primogénito ver...
Meu Deus, que razão de sofrer !?
Que castigos!
Só depois de tu ires, ó Cristo é que foi a tua mãe!
Eu que tanto queria partir em vez da minha
Choro agora e sempre, pela manhãzinha
A dor que só sente quem a não tem...
ESCURO
Minha alma só tranquiliza
No negro da noite dos vendavais.
É aí que ela encontra refrigério
No sossego do mistério
Daquela brisa
Que batiza
Hipnotiza,
Acalma
E exorciza
Os espíritos malignos
Nos malfadados signos
Dos mortais.
(Carlos De Castro, in Terra onde não se faz Censura, 04-07-2022)
A MINHA CARTA A GARCIA
Neste corpo a quebrar, há sinais
De várias cores a assinalar
As etapas de uma vida de ais
E de outras mais coloridas de pintar
As telas rudes do meu mar.
De estrelas belas a brilhar
Sobre as negras ondas
Das marés longas
Deste viver sem ainda saber
Do vir, do estar e do que sou
Entre esferas de milhões por ter
Vergonha de ser
Incrédulo, sem primeiro ver.
Então, quero antes desaparecer
Entre as brumas
De espumas
Sem ler
O epitáfio já reservado:
"Aqui jaz um inconformado
Que da vida só leva um fado,
A sua carta a Garcia,
Na escura noite da luz do dia."
(Carlos De Castro, in Poesia Só e Chega, em 16-07-2022)
O FLAMENCO DA POVEIRA
Como ela dançava e cantava o flamenco
Nas praças da minha infância,
À compita com Juvenço
Moço tropa de bota alta
Tipo peralta,
Mas homem sem substância.
Rodopiava louca
E batia em sincronia
O tacão
Dos sapatos da ilusão
E cantava com voz rouca,
Já com energia pouca,
Nos tempos de servidão.
Emília, a ti Poveira,
Mulher de raça
Sem trapaça
E dos copos
Só, sem tremoços,
Que a esmola não dava trocos
Para mais que o copito
Absorvido
Engolido
De súpeto
Feito ímpeto
Na garganta ressequida,
Ferida,
Naquela tarde de esfolar o pito.
(Carlos De Castro, in Poesia Num País Sem Censura, em 30-07-2022)
DORME MINH'ALMA
Que felicidade, que maldita sorte!
Conseguir que a minha durma!
Mesmo sem ser já na morte
Nem nas vésperas da soturna!
Dorme, minha alma, dorme
Em teus lençóis, tão tranquila
Enquanto descansa a fome,
Da minha miséria sibila.
Ó, forças da natureza,
Deixai minh'alma dormir
Em silêncio e singeleza,
Na incerteza do que há de vir...
Lá, pelas encostas da vida,
Naquelas montanhas de calma,
Eu peço, eu rogo à gente dormida,
Que deixem dormir a minh'alma!
(Carlos De Castro, in Poesia Num País Sem Censura, em 02-08-2022)
DOU-VOS
A minha tonta cabeça.
Fazei dela bola de futebóis
Nas vossas disputas de álcoois.
Dou-vos os olhos quase mortos
Tristes e absortos.
Dou-vos o peito magoado
Sem jeito de construção
De um novo estrado
Para tapete de chão.
Dou-vos barriga e vísceras
Algumas com úlceras.
Dou-vos os braços e pernas
Já de ossos com cavernas.
Só não vos dou o meu coração
Esse órgão de eleição -
Já o dei a alguém
Que Deus tem -
Desde que nasci até então,
Àquela que me deu a vida
Sofrida,
À minha querida
Mãe!
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 26-09-2022)
NA TERRA DOS ESTARRECIDOS
Lá, na minha terra, gostam de mim,
Mas muito ao de longe,
Porque ao longe,
Assim
Feito num monge,
Não lhes calco os calcanhares
Nem lhes corto os discursos,
Iguais aos dos ursos
Arraçados de muares.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 23-11-2022)
VINTE ANOS E
Contei os natais com ela
Maria, minha mãe.
Vinte e tantos no presépio
Comigo, José filho,
Em nome de meu pai, Manuel.
Era a Gruta de Belém,
Porém,
Quase parecendo a outra,
Era o meu Natal puro,
Que os meus de agora esconjuro,
Neste destino cruel!
Foi-se a mãe;
Meu pai, seguiu-a além,
Fiquei eu, menino patético!
Que natal tão estépico,
Mais senil que poético,
Este de agora meu
Pobre que sou pigmeu,
Desde que minha mãe morreu
Há distância de esperanças mil,
Depois das águas de Abril.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 22-12-2022)
A ANDORINHA
Poisou uma andorinha
Tão mansinha
No parapeito,
Mesmo a jeito,
Da minha janela.
Era um sinal de vida
E eu pela minha sofrida,
Meti conversa com ela
Por gestos de simpatia
Em plena sinfonia,
Pintando com alegria,
A mesma paisagem da tela.
A amizade pura,
Cura
E supera
A mais dolorosa ferida,
Quando ela me disse ao
ouvido
Num silêncio estabelecido,
Sempre que haja primavera:
É sinal que renasce a vida!
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 21-03-2023)
Durante anos, a minha boca e o meu coração foram amantes inseparáveis.
Hoje, sinto que os dois estão numa fase adiantada de divórcio.
POESIA FRIA
Que fria,
A minha poesia…
Até parece que no meu inverno
Interno,
Ela deveria
Hibernar
E ficar
Sempre naquele letargo,
Sem me dar o amargo
De continuar
A enregelar
Corações
Quentes,
Amantes
Diferentes,
De outras poesias
Menos frias
De emoções,
Porque a minha,
Coitadinha,
Tão mesquinha,
Vive só de ilusões.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 15-02-2023)
MARIA DA FEIRA SANTA
Meu longe à beira, paraíso,
Minha Feira amada,
Pelo rio Cáster banhada,
Que revives em pleno juízo
Os tempos antes de nós.
És mais velha que as árvores
Que te dão cor e refrigério,
Mesmo à sombra do castelo
De tantos louvores
E amores
Tão sós,
Na tua casa, meu eremitério.
Quando choras, eu choro também
No pranto de quando falta alguém
Nos torreões do castelo
Velho,
Magicamente tão belo.
Quando ris com rosto que encanta,
Eu rio também
Como ninguém,
Maria da Feira Santa.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 20-02-2023)
TARDES DA NOITE DA MANHÃ
A tarde, caía
Quase semifria,
Com cor morna
À maneira da minha sorna,
E sempre que ela vinha assim,
Eu ficava sem forma
Ou jeito
Sem preceito,
Nem respondia por mim.
Previ coisa ruim,
Porque em meu peito,
Em frenesim,
Coisa molesta subia
E sentia então que crescia
Uma tristeza tíbia
Como se fosse coisa anfíbia
Que vive lá
E cá mora por despeito.
E quando as lágrimas
Ázimas
A brotar
Destes olhos quase a fechar,
Enchiam o globo a rebentar
Como prenhe mulher
Pela última vez a dar
Ao mundo, sem prazer,
O último filho por fazer,
Eu acordei
E olhei
O relógio
Quase meu necrológio
E vi as primeiras horas da manhã,
E no já,
Imaginei que a tarde
Já era então na manhã da noite
Sem ser preciso
O hoje ou o amanhã.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 27-02-2023)
MINHA PRINCESA
Tinha ainda tanta coisa a dizer-te.
Tantos segredos a revelar-te,
Tantas mágoas por contar-te,
Tantas imagens a ver-te,
Já sem te ver.
E tu partiste...
Já ias anunciando
Pronunciando
Que ias partir
Mas não triste
Porque levavas contigo
O teu sangue,
O meu sangue,
No sangue dos filhos amados
Nos partos das dores sofridas,
Repartidas
Sempre comigo,
No tocar dos nossos fados.
Eu vejo-te,
Eu beijo-te,
Minha idolatrada princesa,
Na esperançosa certeza
De, junto ao mar,
Um dia,
Voltarmos a namorar.
Um dia...
(Carlos De Castro in Há Um Livro Por Escrever, em 01-03-2023)
ALTARES
Anos vão.
Construi e tenho no meu quarto
Numa cómoda velha de minha mãe,
Um santuário,
Tipo berçário,
Que acolhe alguns santos
Do reino que Deus tem.
Uns mais que outros, sacrossantos,
Para mim.
E assim,
Talvez pela memória
Feita só estória
De querer afastar medos e quebrantos
Em simples peças de barro,
Já em padecimentos de sarro.
E cada vez mais eu reparo
Que neste mundo às avessas,
A quem faltar fé ou faro
Baterá em portas travessas.
Ravessas, elas só se abrirão
Por senha ou pela beatice,
Sempre esta minha tolice
De não aceitar sermão.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 27-03-2023)
PERNAS
Era nas tuas pernas
Macias
Morenas
Espelhando desejos
Que eu encostava a cabeça minha
Quando não tinha
Aconchego nem beijos.
Pernas não são eternas
Fraquejam
Perdem brilho
E cor.
Depois resta a saudade
De um tempo de ardor
Que alimentava o amor
Nas tuas pernas
Fraternas
Quentes
Que guardavam cavernas
Ferventes
Ardentes
No tição
Da paixão.
(Carlos De Castro, in Há Um Livro Por Escrever, em 15-04-2023)
✨ Às vezes, tudo que precisamos é de uma frase certa, no momento certo.
Receba no seu WhatsApp mensagens diárias para nutrir sua mente e fortalecer sua jornada de transformação.
Entrar no canal do Whatsapp- Relacionados
- Eu sou assim: frases que definem a minha essência
- Frases de luto que expressam a dor da saudade e do adeus
- Feliz Aniversário para Minha Amiga Irmã
- Frases de decepção para status que traduzem a dor no seu coração
- Frases para Minha Irmã
- Minha Irmã Querida
- Minha felicidade: frases e reflexões para inspirar o seu dia