Amar a si próprio

⁠E a saudade também é uma forma de se despedir aos poucos do que se ama, o grito vai diminuindo até que um dia resta apenas o buraco com ecos quase silenciosos.

⁠O mundo inteiro hoje me grita um silêncio mesquinho e monstruoso.
Por que isso, gente?
Por que há tanta saudade?

⁠Estou me sentindo ir-me embora contigo, e essa é nossa dor una e indestrutível.

⁠Acho que é no estômago que a saudade acontece em mim.
Nada preenche, e no entanto tudo estufa.
É a presença atrofiada de ti, no passado e no agora que durará para sempre.

⁠As coisas vão dando adeus de maneiras tão sutis...

Um dia por um instante meu coração pensou. E então nunca mais quis pensar: tudo aquilo em que acreditava pareceu errado.

⁠Rotundas saudades saúdam ao longe em trombetas soturnas...

⁠Então a tristeza era isto, rios caudalosos sem começo nem fim que viajam devagar...

⁠Meu coração soprou teu nome e quis parar...

⁠Que dor pontuda a de não te ter, ouvindo-te por toda parte dentro de mim...

⁠Saudade... de quê?
Essa é a saudade que mais dói: de quê?

⁠Se algumas das palavras minhas entendessem o que dizem, fugiriam depressa para lugar nenhum...

⁠Mas de repente tive uma ideia toda sem sentido:
Tudo sempre fez sentido, e este é mesmo o meu caminho.

⁠Abraça-me forte até arrancar a parte de mim que é tua, e aceitarei ficar em migalhas sem dor.

⁠Estou indo embora de algum lugar que ainda não sei onde fica.
Mas e se um sentimento for um lugar?

Tenho medo do que no fundo já sei. ⁠

⁠Mais que de fantasmas, tenho medo do vazio do absoluto nada que habita em mim.

⁠À medida em que falo da minha tristeza ela vai indo embora. Mas sei que está só se escondendo atrás da porta...

⁠Meu peito pesa, as costas encurvam, os ossos tremem, ninguém me disse antes que a solidão era de chumbo e nem me servia de escudo...

⁠Partes de mim vão indo embora, e se agarro uma outras cem caem para fora...