Adelia Prado

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Adélia Prado (1935) é uma escritora brasileira. Poetisa e romancista, consagrou-se como a voz mais feminina da poesia brasileira. Recebeu da Câmara Brasileira do Livro, o Prêmio Jabuti de Literatura, com "Coração Disparado".

Tudo manha, truque, engenho: é descuidar, o amor te pega, te come, te molha todo. Mas água o amor não é.

O amor usa o correio, o correio trapaceia, a carta não chega, o amor fica sem saber se é ou não é.

"Não me falou em amor. Essa palavra de luxo."

...me consola, moço.
Fala uma frase, feita com o meu nome,
Para que ardam os crisântemos
E eu tenha um feliz Natal!...

A gente tem sede de infinito e de permanência, então, esse ser que assegura a permanência das coisas, é que eu chamo de Deus. É o absoluto.

Um corpo quer outro corpo, uma alma quer outra alma e seu corpo. Este excesso de realidade me confunde.

Ensinamento

Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo. Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão, ela falou comigo:
“Coitado, até essa hora no serviço pesado”.
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor. Essa palavra de luxo.

Ama e nem sabe mais o que ama. (Pranto Para Comover Jonathan)

Me dão mingaus, caldos quentes, me dão prudentes conselhos, eu quero é a ponta sedosa do teu bigode atrevido, a tua boca de brasa.

De vez em quando Deus me tira a poesia. Olho pedra, vejo pedra mesmo.

A mim que desde a infância venho vindo,
como se o meu destino,
fosse o exato destino de uma estrela,
apelam incríveis coisas:
pintar as unhas, descobrir a nuca,
piscar os olhos, beber.
Tomo o nome de Deus num vão.
Descobri que a seu tempo
vão me chorar e esquecer.
Vinte anos mais vinte é o que tenho,
mulher ocidental que se fosse homem,
amaria chamar-se Fliud Jonathan.
Neste exato momento do dia vinte de julho,
de mil novecentos e setenta e seis,
o céu é bruma, está frio, estou feia,
acabo de receber um beijo pelo correio.
Quarenta anos: não quero faca nem queijo.
Quero a fome.

Preciso mentir um pouco para que o ritmo aconteça e eu própria entenda o discurso.

Então eu virei pra ela e falei assim: ah, nada, boba, também é assim, se der, bem, se não der, amém, toca pra frente.

Dor não tem nada a ver com amargura.
Acho que tudo que acontece é feito pra gente aprender cada vez mais.
É pra ensinar a gente a viver.

"Quando dói, grito ai,
quando é bom, fico bruta.
As sensibilidades sem governo.
Mas tenho meus prantos,
claridades atrás do estômago humilde
e fortíssima voz pra cânticos de festa."

Meu Deus, me dê cinco anos.
Me dá a mão, me cura de ser grande!

Quem carrega o mar nos seus limites tem carinho com o mar.

Aqui se passa fome, aqui se odeia, aqui se é feliz, no meio de invenções miraculosas.

As sensibilidades sem governo.

O que precisa nascer

tem sua raiz em chão de casa velha.

À sua necessidade o piso cede,

estalam rachaduras nas paredes,

os caixões de janela se desprendem.

O que precisa nascer

aparece no sonho buscando frinchas no teto,

réstias de luz e ar.

Sei muito bem do que este sonho fala

e a quem pode me dar

peço coragem.