A Hora Certa de Desistir
Ontem preocupava-me com o que fazer no dia para me deixar satisfeito, qual brincadeira seria mais divertida. Hoje preocupo-me com qual atividade dará mais dinheiro. Ontem eu olhava o nascer e o pôr-do-sol imaginava o quão longo seria o dia e quanto eu poderia desfrutar dele. Hoje eu os olho e penso que o dia é curto e que é preciso correr, por quê o mundo inteiro tá penso a mesma coisa.
Ontem sabíamos exatamente o que gostávamos, poderia ser aquele leite gelado ou quente. Sabíamos muito bem também do que não gostávamos, talvez fosse acordar cedo ou dormir cedo. Hoje aprendemos que temos ser flexíveis, cordiais e diplomáticos. Para ser sincero aprendemos a fingir. A Encenar.
Ontem, falávamos o que pensava sem medir palavras, sem poupar sentimentos. Hoje, quando falamos pensamos milhões de vezes se estamos falando certo, e para quem estamos dirigindo nossas palavras. E os sentimento, hoje medimos, limitamos, pois nunca se sabe em quem confiar. Falando em confiança, ontem confiávamos no nosso colega de classe, no nosso melhor amigo ou em um moço com uma cara bondosa que acabara de conhecer. Hoje temos dificuldade de acreditar na nossa própria sombra.
Ontem perdoamos e até mesmo esquecemos. Hoje fomos capazes de perdoar, mas talvez nunca esqueçamos. Talvez seja a passagem do tempo de ontem para hoje, talvez seja a maneira como enxergamos o amanhã, talvez também seja a forma como sentimos. Talvez, talvez, Talvez um dia o mundo mude talvez as pessoas tornem a si, acredito fielmente que não é o mundo que está se desmanchando, mas o próprio homem. Caminhamos como cegos, sem direção e sem por que. Não foi o ontem que mudou, fomos nós que nos deixamos levar por uma forma equivocada de vivência. Eu fico me perguntando, será que tem sentido todos aqueles teóricos fabulosos, Einstein, Rousseau, Montesquieu, Platão, Freud e outros terem passado a metade ou toda sua vida tentando desvendar e compreender o sentido das coisas e do ser humano. Na verdade acho que o que faz sentido é nos descobrirmos, mas nos descobrir sozinhos, no silêncio. Sou perdida, as vezes me encontro, mas outras me perco de novo, sou como todos. Sempre querendo acertar e se encontrar outra vez.
Eu estou feliz, tenho meus amigos, minha familia, meus idólos, e isso é o mais importante de minha vida
Chato...Indivíduo que tem mais interesse em nós do que nós temos nele.
Millôr Fernandes
Eu leio este pensamento e interpreto o "indivíduo" como a pessoa jurídica que é a escola, ela está mais interessada no aluno que ele mesmo em si. Estudar é chato? Eis a explicação...
.. 'Mas ele afrontou, Provocou, Assombrou, Incomodou..
E ele nem ligou.. Se acabou, E beijou, E dançou..
Ele aproveitou!'
Meritocracia para todos, inclusive políticos, digo todos, todos mesmo. Chega de salários injustos. Indicações, subordinações, apadrinhamento.
É do ser humano desvalorizar, tudo o que o outro faz, e valorizar apenas aquilo que ele mesmo faz. Que pena.
Trabalhemos então, mesmo que no dia ou na madrugada, afinal o trabalho ocupa a mente, distrai os pensamentos, aplaca a solidão e dá sentido aos sentimentos.
Você sabe o que é isso?
Meus olhos ardem
Minha alma queima
Minha cabeça parece explodir
Aperto minhas mãos
Eu tenho medo e também ódio
EU TENHO RAIVA.
Barrow-on-Furness
I
Sou vil, sou reles, como toda a gente
Não tenho ideais, mas não os tem ninguém.
Quem diz que os tem é como eu, mas mente.
Quem diz que busca é porque não os tem.
É com a imaginação que eu amo o bem.
Meu baixo ser porém não mo consente.
Passo, fantasma do meu ser presente,
Ébrio, por intervalos, de um Além.
Como todos não creio no que creio.
Talvez possa morrer por esse ideal.
Mas, enquanto não morro, falo c leio.
Justificar-me? Sou quem todos são...
Modificar-me? Para meu igual?...
— Acaba lá com isso, ó coração!
II
Deuses, forças, almas de ciência ou fé,
Eh! Tanta explicação que nada explica!
Estou sentado no cais, numa barrica,
E não compreendo mais do que de pé.
Por que o havia de compreender?
Pois sim, mas também por que o não havia?
Águia do rio, correndo suja e fria,
Eu passo como tu, sem mais valer...
Ó universo, novelo emaranhado,
Que paciência de dedos de quem pensa
Em outras cousa te põe separado?
Deixa de ser novelo o que nos fica...
A que brincar? Ao amor?, à indif'rença?
Por mim, só me levanto da barrica.
III
Corre, raio de rio, e leva ao mar
A minha indiferença subjetiva!
Qual "leva ao mar"! Tua presença esquiva
Que tem comigo e com o meu pensar?
Lesma de sorte! Vivo a cavalgar
A sombra de um jumento. A vida viva
Vive a dar nomes ao que não se ativa,
Morre a pôr etiquetas ao grande ar...
Escancarado Furness, mais três dias
Te, aturarei, pobre engenheiro preso
A sucessibilíssimas vistorias...
Depois, ir-me-ei embora, eu e o desprezo
(E tu irás do mesmo modo que ias),
Qualquer, na gare, de cigarro aceso...
IV
Conclusão a sucata! ... Fiz o cálculo,
Saiu-me certo, fui elogiado...
Meu coração é um enorme estrado
Onde se expõe um pequeno animálculo
A microscópio de desilusões
Findei, prolixo nas minúcias fúteis...
Minhas conclusões Dráticas, inúteis...
Minhas conclusões teóricas, confusões...
Que teorias há para quem sente
o cérebro quebrar-se, como um dente
Dum pente de mendigo que emigrou?
Fecho o caderno dos apontamentos
E faço riscos moles e cinzentos
Nas costas do envelope do que sou ...
V
Há quanto tempo, Portugal, há quanto
Vivemos separados! Ah, mas a alma,
Esta alma incerta, nunca forte ou calma,
Não se distrai de ti, nem bem nem tanto.
Sonho, histérico oculto, um vão recanto...
O rio Furness, que é o que aqui banha,
Só ironicamente me acompanha,
Que estou parado e ele correndo tanto ...
Tanto? Sim, tanto relativamente...
Arre, acabemos com as distinções,
As subtilezas, o interstício, o entre,
A metafísica das sensações —
Acabemos com isto e tudo mais ...
Ah, que ânsia humana de ser rio ou cais!
APOSTILA (11-4-1928)
Aproveitar o tempo!
Mas o que é o tempo, que eu o aproveite?
Aproveitar o tempo!
Nenhum dia sem linha...
O trabalho honesto e superior...
O trabalho à Virgílio, à Mílton...
Mas é tão difícil ser honesto ou superior!
É tão pouco provável ser Milton ou ser Virgílio!
Aproveitar o tempo!
Tirar da alma os bocados precisos - nem mais nem menos -
Para com eles juntar os cubos ajustados
Que fazem gravuras certas na história
(E estão certas também do lado de baixo que se não vê)...
Pôr as sensações em castelo de cartas, pobre China dos serões,
E os pensamentos em dominó, igual contra igual,
E a vontade em carambola difícil.
Imagens de jogos ou de paciências ou de passatempos -
Imagens da vida, imagens das vidas. Imagens da Vida.
Verbalismo...
Sim, verbalismo...
Aproveitar o tempo!
Não ter um minuto que o exame de consciência desconheça...
Não ter um acto indefinido nem factício...
Não ter um movimento desconforme com propósitos...
Boas maneiras da alma...
Elegância de persistir...
Aproveitar o tempo!
Meu coração está cansado como mendigo verdadeiro.
Meu cérebro está pronto como um fardo posto ao canto.
Meu canto (verbalismo!) está tal como está e é triste.
Aproveitar o tempo!
Desde que comecei a escrever passaram cinco minutos.
Aproveitei-os ou não?
Se não sei se os aproveitei, que saberei de outros minutos?!
(Passageira que viajaras tantas vezes no mesmo compartimento comigo
No comboio suburbano,
Chegaste a interessar-te por mim?
Aproveitei o tempo olhando para ti?
Qual foi o ritmo do nosso sossego no comboio andante?
Qual foi o entendimento que não chegámos a ter?
Qual foi a vida que houve nisto? Que foi isto a vida?)
Aproveitar o tempo!
Ah, deixem-me não aproveitar nada!
Nem tempo, nem ser, nem memórias de tempo ou de ser!...
Deixem-me ser uma folha de árvore, titilada por brisa,
A poeira de uma estrada involuntária e sozinha,
O vinco deixado na estrada pelas rodas enquanto não vêm outras,
O pião do garoto, que vai a parar,
E oscila, no mesmo movimento que o da alma,
E cai, como caem os deuses, no chão do Destino.
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