Salvador Espriu

Encontrados 5 pensamentos de Salvador Espriu

Os homens não o podem ser se não forem livres.

Prometeu

O sonho de liberdade tornou-se a cadeia
que me liga já para sempre ao meu canto doloroso.
Compadeci-me dos homens, da fria tristeza
do estranho tempo dos homens enterrados na morte,
e lhes trazia cristal e ardor de palavras,
luminoso nome que dizem os velhos lábios do fogo.
Águia, vinda do nascimento da luz,
de onde vês como é concebida a brancura da neve,
busca, para a luz, a mais secreta vida:
pelo sol, palpitante, toda a nua vida.
Abrirás com o bico eternamente caminhos
ao sangue que ofereço como a prova deste dom.

Inserida por pensador

Às vezes é necessário e forçoso
que um homem morra por um povo,
mas nunca há-de morrer todo um povo
por um só homem: recorda isto sempre, Sepharad.

Faz que sejam seguras as pontes do diálogo
e tenta compreender e estimar
as razões e as falas várias dos teus filhos.

Que a chuva caia a pouco e pouco nas semeadas
e o ar passe como uma mão estendida
suave e mui benigna sobre os vastos campos.

Que Sepharad viva eternamente
na ordem e na paz, no trabalho,
na difícil e merecida
liberdade.

Inserida por pensador

Chuva

De nenhuma parte chega. Partir?
Não há palavra mágica que rompa
este costume de olho, este silêncio
sonoro de dardos. A primavera, o luxo
dos anos e da luz, se perdia agora
no caminho vencido. As esperanças
morreram a tempo. De novo, tudo é perfeito
ao longo do vazio: a chuva lenta
não vai a parte alguma.

Inserida por pensador

À beira do mar. Tinha
uma casa, o meu sono
à beira do mar.

Alta proa. Por livres
caminhos de água, a esbelta
barca que eu governava.

Os olhos sabiam
todo o repouso e a ordem
de uma pequena pátria.

Como necessito
contar-te o espanto
que produz a chuva nos vidros!
Hoje cai fechada a noite
sobre a minha casa.

As rochas negras
atraem-me ao naufrágio.
Cativo do cântico,
o meu esforço, inútil,
quem pode guiar-me à alva?

Ao pé do mar tinha
uma casa, um lento sono.

Inserida por pensador