Régis Cardoso
Impor a todas as universidades brasileiras a aderência ao Enem é um insulto à diversidade nacional, pois parte da premissa de que o Brasil todo possui um sistema de ensino padronizado.
Um tipo de música não desqualifica ou invalida o outro, pois cada uma atende a um público com objetivos diferentes. Numa festa, as pessoas não estão minimamente interessadas em saber o valor histórico ou a complexidade do composição; elas querem apenas se divertir.
Os valores precisam ser revistos. Hoje, valoriza-se mais as notas escolares do que o aprendizado em si; perde-se tanto tempo pensando numa resposta e por fim não se presta atenção na real importância da pergunta; preocupa-se tanto com beijos molhados que se esquece da verdadeira essência da relação.
Me incomoda essa felicidade superficial que algumas pessoas insistem em cultivar. Elas têm milhares de amigos nas redes sociais, recebem centenas de "curtir" em suas fotos (extremamente banais, por sinal), mas no fundo, são completamente desprovidas de amigos verdadeiros.
Só porque você compartilhou a foto de uma criança doente no Facebook, isso não significa que você está agindo com amor ao próximo. Requer um pouco mais de esforço que isso. É preciso fazer o bem sem ver a quem e, sobretudo, sem esperar nada em troca.
Pessoas entram e saem feito peças em um jogo de tabuleiro, dando a impressão de que a é a vida quem imita o Jogo da Vida, quando deveria ser o contrário.
O ingresso às universidades é feito através da meritocracia. Sendo assim, elas não são as culpadas pelas injustiças sociais, e sim as vítimas! Quem deve arcar com a responsabilidade é o Governo, cuja obrigação é fornecer uma educação de qualidade a todos.
Constitucionalmente falando, meu ponto de vista — seja ele qual for — é irrelevante, pois o mesmo é baseado em preceitos próprios e individuais. A construção e o aprimoramento da legislação consiste em um pensamento da sociedade como um todo, não parcialista prevalecendo a vontade de determinados grupos religiosos.
Se atribuirmos às leis a vontade da maioria popular, aniquilaríamos a democracia. Embora pressuponha-se que ela seja a vontade da maioria, na realidade ela tem como função elementar defender também a minoria, já que esta última é um dos pilares que sustentam o processo democrático.
Soa-me extremamente infantil a mentalidade popular na qual percorre a ideia de que "Fulano optou pela vida do crime". Chega a ser triste ter que dizer o óbvio, mas agir em desconformidade com a lei não é uma mera escolha. As pessoas não acordam e decidem, por livre e espontânea vontade, serem criminosas. Na esmagadora maioria das vezes, essas atitudes derivam da necessidade. Isto é fruto de um sistema capitalista, corrompido e sobretudo mal administrado, acrescido aos fatores históricos dificilmente dissociáveis.
Apesar da própria Constituição Federal ressaltar que a Polícia Militar existe para proteger o cidadão, resquícios do regime militar de 1964 mantêm a concepção de enfrentamento, criando assim a lógica de que todo manifestante é suspeito e, portanto, inimigo. Isto é inerente também à mentalidade construída pelo regime de caserna vivenciado pelos policiais militares, tornando muitos deles avulsos à realidade do brasileiro comum. Cria-se então uma dualidade "militar/civil", dando a falsa ilusão de que os policiais não são civis, quando na verdade são.
A liberdade de expressão é importante - e como é! No entanto, isso não significa que as pessoas devam ter carta-branca para humilhar e discriminar livremente umas às outras.
Se o humor pode disseminar paradigmas sociais, também pode quebrá-los. É claro que não é uma tarefa fácil. Exige talento.
Se existe liberdade para um comediante fazer seu trabalho, também deve haver liberdade para a repreensão. As coisas não funcionam numa via de mão única.
Não gosto, por exemplo, de pessoas que teimam em levar seus bebês a determinados eventos. Neste caso, a Lei de Murphy por si só já garante que estes mesmos bebês chorarão justamente nos momentos mais importantes, como numa sessão solene.
E também não gosto de vendedores que passam longos minutos fazendo propaganda e insistem "enrolar" o máximo possível antes de finalmente dizer o valor do produto.
Não gosto de desinformação, nem de "achismos" e muito menos de preconceito disfarçado, do tipo "Não tenho nada contra, mas...".
Gosto de falas pausadas, de palavras em uma tranquila sintonia, de tempo para ler e respirar. Gosto de coisa descomplicada, de prosa corrida e despretensiosa.
Sobre as cotas: se as condições escolares são desiguais, é justamente isso que precisa ser revisto, e não os sistemas avaliativos.
É preciso que os professores sejam melhor pagos, pois deste modo irá ocorrer uma real valorização desta profissão e a própria concorrência se encarregará de selecionar profissionais cada vez mais capacitados.