May Lu
A nebulosidade sussurrou-me um adeus
Aquarelas inteiras jorram-me em sentires
De um verão permanente.
Com o horizonte tão perto do olhar
Inclinei em varandas e escorri-me em cores
Hoje sou navegante-de-fantasias
Onde as aquarelas se desenham sozinhas.
A nudez é presença nessa que se desvanece com o tempo
Inoportunamente me tolhe os passos e pesa-me as asas
A outra me comanda o espírito e coloca-me de pé
Leva na alma o bailado das asas e todas as cores do mundo.
Viver é hastear-se desde a raiz
É respirar a pausa dentro da turbulência
É fazer sinfonias do silêncio
É o repouso da alma em meio ao cansaço da viagem
É quando em tempos de escuridão as cores não nos cabem nos olhos
É uma presença bonita em meio aos escombros
É o riso em meio à impermanência da vida
É um afago de pequenos e grandes maravilhamentos
Viver são esses momentos inteiros
Que nascem por dentro e nos salvam
Viver é um milagre.
Adoce a tua alma com poesia
Que todo o belo que vistes
Aquecerão teus dias frios e cinzentos
A tecerem fios de esperança.
Não importa de que lado sopra os ventos
A vida sempre tem um jeito dolorido
De mostrar como devemos ser fortes
E como bambus a gente reinventa
Aguenta...
Entortamos procurando rumo
Porém firmes mantemos o prumo
Às vezes o mundo pesa
E os ombros mal suportam a provação
Mas para tempos assim
Há sempre uma coluna ou outra
Para nos sustentar
Colunas aparentes ou não
De vontade tantas
Nas voltas que os ventos nos dão.
Aprendi mais em meio as tempestades
Do que em plácidas calmarias.
Os ventos tempestuosos acrescentaram-me coragem
Para enfrentar os meus medos.
Aqueles medos bichos-papão...
Caiados no íntimo de minha alma.
Foram esses mesmos ventos
Que me deram forças de seguir em frente.
Acresceram-me uma vontade indomável
Rompida nas plantas dos pés.
Passo a passo...
É nesse compasso
Que hoje percorro os espaços de mim.
Esquadrinho-me em oásis no âmago dos meus desertos.
Viagem crepuscular
Em meio às chamas que me ardem a alma
Leva-me em busca de horizontes.
Aprendi que o ontem pode ficar adormecido
Mas não esquecido
E que há laços que não podem ser desfeitos.
Aprendi que a magnitude das estrelas
Só pode ser admirada
Devido a negritude da noite
E que aqui dentro
O negro também me tinge...
É o espaço que se faz necessário
Para o regresso de minhas manhãs.
Tal qual borboleta é o amor
O devemos deixar pousar
Assim sendo, sentiremos...
Todas as suas cores por dentro.
Livre...
Porém, atraído, seduzido...
Amor então é isso___
____uma liberdade aprisionada.
É mais que um querer
É a necessidade de estar junto
Rodeado de cores
Que não nossas.
Amor é isso__
___gostar das nossas cores
Em companhia de outras.
Aquarelas inteiras...
Cores compartilhadas formam arco-íris.
Ao fundo de sua solidão
Eu estive lá
Preguei o amor, a felicidade...
Espalhei estrelas em suas noites escuras
Mas você deixou-me de fora
Sem fazer ruído
Roubou-me o céu!
Toda desilusão
Eu ali fiquei...
A reinventar-me em cores.
Se o silêncio silencia-me?
... Nunca
Do lado de dentro
Há retalhos e retalhos de memórias
Vozes de corpo inteiro
Ao leme
Antigas e atrevidas
Agrilhoam-me os pensamentos.
Solitárias são as folhas
Labirintos de almas
Guardam calmarias e tormentas
O viver e o morrer de outras vidas
Amor para mim...
Tem que ser macio feito nuvem delicada
Tem que ser amor de olhos vidrados
Tem que ser amor cultivado
Doem-me pessoas que tem medo de amar
Dói-me amor guardado
Dói-me sentimento bonito engavetado
Amor bonito é aquele que de tanto amor
Vaza pelos poros
Amar assim...
Grande, expandido, totalidade.
Para mim é inevitável.
Tão meu esse lado delicadezas que tenho
É ele que me salva todos os dias
Na doçura de um olhar carinhoso
No que permanece
E me permite os sonhos ao alcance das mãos
Sonhos gerados em estrelas
No ventre escuro da noite
É esse meu lado que faz a alegria brotar
Com cores de esperança
Desbravando espaços por entre as tristezas
Quando sou delicadezas
É quando me pertenço
Sou a emoção, o coração, a imaginação...
É esse lado delicadeza que me salva de perder-me.