Poesia Toada do Amor de Carlos Drumond

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O progresso dá-nos tanta coisa que não nos sobra nada nem para pedir, nem para desejar, nem para jogar fora.

Carlos Drummond de Andrade
ANDRADE, C. D. Passeios na Ilha, 1952

Para a virtude da discrição, ou de modo geral qualquer virtude, aparecer em seu fulgor, é necessário que faltemos à sua prática.

Carlos Drummond de Andrade
Andrade, C. D. Fala, Amendoeira, Record, 1998

Pois de amor andamos todos precisados! Em dose tal que nos alegre, nos reumanize, nos corrija, nos dê paciência e esperança, força, capacidade de entender, perdoar, ir para a frente! Amor que seja navio, casa, coisa cintilante, que nos vacine contra o feio, o errado, o triste, o mau, o absurdo e o mais que estamos vivendo ou presenciando.

TESTAMENTO DO HOMEM SENSATO
Quando eu morrer, não faças disparates
nem fiques a pensar: Ele era assim...
Mas senta-te num banco de jardim,
calmamente comendo chocolates.

Aceita o que te deixo, o quase nada
destas palavras que te digo aqui:
Foi mais que longa a vida que eu vivi,
para ser em lembranças prolongada.

Porém, se um dia, só, na tarde em queda,
surgir uma lembrança desgarrada,
ave que nasce e em vôo se arremeda,

deixa-a pousar em teu silêncio, leve
como se apenas fosse imaginada,
como uma luz, mais que distante, breve.

Soneto oco

Neste papel levanta-se um soneto,
de lembranças antigas sustentado,
pássaro de museu, bicho empalhado,
madeira apodrecida de coreto.

De tempo e tempo e tempo alimentado,
sendo em fraco metal, agora é preto.
E talvez seja apenas um soneto
de si mesmo nascido e organizado.

Mas ninguém o verá? Ninguém. Nem eu,
pois não sei como foi arquitetado
e nem me lembro quando apareceu.

Lembranças são lembranças, mesmo pobres,
olha pois este jogo de exilado
e vê se entre as lembranças te descobres.

O verbo no infinito

Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar

Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.

E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito

E esquecer tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito...

Vinicius de Moraes
Livro de sonetos

Mas, conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que n'alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei porquê.

Luís de Camões
Sonetos

Nota: Trecho de soneto de Luís de Camões

...Mais

Nirvana

Viver assim: sem ciúmes, sem saudades,
Sem amor, sem anseios, sem carinhos,
Livre de angústias e felicidades,
Deixando pelo chão rosas e espinhos;

Poder viver em todas as idades;
Poder andar por todos os caminhos;
Indiferente ao bem e às falsidades,
Confundindo chacais e passarinhos;

Passear pela terra, e achar tristonho
Tudo que em torno se vê, nela espalhado;
A vida olhar como através de um sonho;

Chegar onde eu cheguei, subir à altura
Onde agora me encontro - é ter chegado
Aos extremos da Paz e da Ventura!

Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter
Só assim sinto você bem perto de mim.

É Preciso Saber Viver

Quem espera que a vida
Seja feita de ilusão
Pode até ficar maluco
Ou morrer na solidão
É preciso ter cuidado
Para mais tarde não sofrer
É preciso saber viver

Toda pedra do caminho
Você deve retirar
Numa flor que tem espinhos
Você pode se arranhar

Se o bem e o mal existem
Você pode escolher
É preciso saber viver

É preciso saber viver
É preciso saber viver
É preciso saber viver
Saber viver

Toda pedra do caminho
Você deve retirar
Numa flor que tem espinhos
Você pode se arranhar

Se o bem e o mal existem
Você pode escolher
É preciso saber viver

É preciso saber viver
É preciso saber viver
É preciso saber viver
Saber viver

Roberto Carlos

Nota: Composição Roberto Carlos e Erasmo Carlos

Canção grata

Por tudo o que me deste:
– Inquietação, cuidado,
(Um pouco de ternura? É certo, mas tão pouco!)
Noites de insónia, pelas ruas, como um louco…
– Obrigado, obrigado!

Por aquela tão doce e tão breve ilusão.
(Embora nunca mais, depois que a vi desfeita,
Eu volte a ser quem fui), sem ironia: aceita
A minha gratidão!

Que bem me faz, agora, o mal que me fizeste!
– Mais forte, mais sereno, e livre, e descuidado…
Sem ironia, amor: – Obrigado, obrigado
Por tudo o que me deste!

Carlos Queirós
Pedrosa, Inês (org.) Poemas de Amor: Antologia de Poesia Portuguesa. Lisboa: Dom Quixote, 2003.

Não me deixe
Eu preciso demais de você
Eu te amo
E contigo é que tudo me dá prazer
E sempre que eu me lembro do passado
Lembro das loucuras que já fiz
Para ficar um pouco do seu lado
Seu carinho, seu beijo

Não me deixe
Não sei como vou te esquecer
Minha vida começou no momento em que achei você

E tudo que eu sonhar perde o sentido
Se no sonho eu não te encontrar
Eu te amo e sempre vou te amar

Não se afaste de mim
Fica comigo
Sei o que te digo
Fique em minha vida sempre
Seja a minha paixão e minha amiga
Corpo que me abriga
Fala que nasceu para ser feliz a meu lado

Não me deixe

E tudo que eu sonhar perde o sentido
Se no sonho eu não te encontrar
Eu te amo e sempre vou te amar

Roberto Carlos

Nota: Canção Não me deixe.

O homem que eu amo tem um lindo sorriso
É tudo que eu preciso para minha alegria
O homem que eu amo tem nos olhos a calma
Ilumina minha alma, é o sol do meu dia

Tem a luz das estrelas e a beleza da flor
Ele é minha vida, ele é o meu amor

Seu amor é para mim o que há de mais lindo
Se ele está sorrindo eu sorrio também
Tudo nele é bonito, tudo nele é verdade
E com ele eu acredito na felicidade

O homem que eu amo é o ar que eu respiro
E nele eu me inspiro para falar de amor
Quando vem para mim é suave como a brisa
E o chão que ele pisa se enche de flor

O homem que eu amo enfeita minha vida
Meus sonhos realiza, me faz tanto bem.

Você foi o maior dos meu casos
De todos os abraços o que eu nunca esqueci
Você foi dos amores que eu tive,
O mais complicado e o mais simples para mim.

Por aquela tão doce
e tão breve ilusão
Embora nunca mais
Depois de que a vi desfeita
Eu volte a ser quem fui
Sem ironia aceita
A minha gratidão

Detalhes

Não adianta nem tentar
Me esquecer
Durante muito tempo
Em sua vida
Eu vou viver...

Detalhes tão pequenos
De nós dois
São coisas muito grandes
Para esquecer
E a toda hora vão
Estar presentes
Você vai ver...

Se um outro cabeludo
Aparecer na sua rua
E isto lhe trouxer
Saudades minhas
A culpa é sua...

O ronco barulhento
Do seu carro
A velha calça desbotada
Ou coisa assim
Imediatamente você vai
Lembrar de mim...

Eu sei que um outro
Deve estar falando
Ao seu ouvido
Palavras de amor
Como eu falei
Mas eu duvido!
Duvido que ele tenha
Tanto amor
E até os erros
Do meu português ruim
E nessa hora você vai
Lembrar de mim...

A noite envolvida
No silêncio do seu quarto
Antes de dormir você procura
O meu retrato
Mas da moldura não sou eu
Quem lhe sorri
Mas você vê o meu sorriso
Mesmo assim
E tudo isso vai fazer você
Lembrar de mim...

Se alguém tocar
Seu corpo como eu
Não diga nada
Não vá dizer
Meu nome sem querer
À pessoa errada...

Pensando ter amor
Nesse momento
Desesperada você
Tenta até o fim
E até nesse momento você vai
Lembrar de mim...

Eu sei que esses detalhes
Vão sumir na longa estrada
Do tempo que transforma
Todo amor em quase nada
Mas "quase"
Também é mais um detalhe
Um grande amor
Não vai morrer assim
Por isso
De vez em quando você vai
Vai lembrar de mim...

A Distância

Nunca mais você ouviu falar de mim
Mas eu continuei a ter você
Em toda esta saudade que ficou...
Tanto tempo já passou e eu não te esqueci.

Quantas vezes eu pensei voltar
E dizer que o meu amor nada mudou
Mas o meu silêncio foi maior
E na distância morro
Todo dia sem você saber.

O que restou do nosso amor ficou
No tempo, esquecido por você...
Vivendo do que fomos ainda estou
Tanta coisa já mudou, só eu não te esqueci.

Eu só queria lhe dizer que eu
Tentei deixar de amar, não consegui
Se alguma vez você pensar em mim
Não se esqueça de lembrar
Que eu nunca te esqueci.

Amanhã de manhã
Vou pedir o café para nós dois
Te fazer um carinho e depois
Te envolver em meus braços

E em meus abraços
Na desordem do quarto esperar
Lentamente você despertar
E te amar na manhã

Amanhã de manhã
Nossa chama outra vez tão acesa
E o café esfriando na mesa
Esquecemos de tudo

Sem me importar
Com o tempo correndo lá fora
Amanhã nosso amor não tem hora
Vou ficar por aqui

Pensando bem
Amanhã eu nem vou trabalhar
E além do mais
Temos tantas razões para ficar

Amanhã de manhã
Eu não quero nenhum compromisso
Tanto tempo esperamos por isso
Desfrutemos de tudo

Quando mais tarde
Nos lembrarmos de abrir a cortina
Já é noite e o dia termina
Vou pedir o jantar

Roberto Carlos
Café da Manhã

Preciso de Você

Faz tanto tempo que nem sei
Se tudo está como eu deixei
Tento afastar lembranças, abandonar o passado
Mas é difícil te esquecer
E essa saudade de você
Mexe comigo sem querer
A vida tem momentos que marcam para sempre
Como é que eu posso te esquecer

Meu amor
Não dá pra suportar
Me ajude a sufocar
A solidão que há em mim

Meu amor
Me abrace se eu voltar
Entenda se eu chorar
Preciso de você

Faz tanto tempo que nem sei
Se tudo está como eu deixei
Nada melhor que o tempo que fez com que eu sentisse
Que não consigo te esquecer

Mas tudo pode acontecer
E eu vou tentar te convencer
A me aceitar de novo como já foi um dia
E nunca mais vou te perder

Meu amor
Não dá pra suportar
Me ajude a sufocar
A solidão que há em mim

Meu amor
Me abrace se eu voltar
Entenda se eu chorar
Preciso de você

Preciso de você

Fera Ferida

Eu sei!
Quanta tristeza eu tive
Mas mesmo assim se vive
Morrendo aos poucos por amor

Eu sei!
O coração perdoa
Mas não esquece à toa
E eu não me esqueci...

Eu sei!
Que flores existiram
Mas que não resistiram
A vendavais constantes

Eu sei!
Que as cicatrizes falam
Mas as palavras calam
O que eu não me esqueci...