Neiva Lorenzoni Ferraz Busch
BAGAGEM
No meu alforge de viajante
apenas teus versos
como fricção de gravetos
que estoura em fogo
no deserto.
O curso da história é irrefreável, tanto quanto a evolução da essência que compõe a humanidade. Mesmo que a individualidade dos seres seja ainda tão imperfeita, há uma contabilidade coletiva dos nossos erros e acertos que torna una a nossa caminhada.
Quando olhos generosos captam tua essência acolhendo teus contornos sinuosos, a vibração do inefávell se faz matéria.
Degusto vinho barato. Não troco brigadeiros por macarons, tampouco dendê por azeite trufado. Assim que pelo meu amor não se envaideça. Meu gosto é meio desqualificado.
COLHEITA
Se a minha palavra germina na tua terra arada, nosso plantio vencerá pragas, estiagens, vendavais...
Deve ser evitado o excesso de confiança, pensando que nada mais tem a aprender e cair no feio abismo da vaidade.
"Polarização política só existe na base de apoio. Minha humilde e sábia mãe já dizia: enquanto vocês brigam, eles (os políticos) comem no mesmo cocho."
VIVEMOS DEPOIS DA VIAGEM?
Seguimos vivendo não só pela lembrança dos que ficam,
mas pelas memórias que levamos.
Nossos rastros, pelo avanço natural do tempo,
um dia se dissiparão.
O que carregaremos, então, na consciência imortal?
Levaremos as feridas abertas dos tombos
ou os aprendizados em cicatrizes tatuados?
As mágoas dos desapontamentos
ou a cura das nossas ilusões?
As imperfeições dos nossos pais
ou a retidão de suas intenções?
Eventual tropeço dos nossos filhos
ou a alegria de tê-los feito caminhar?
O que absorvemos desta vida
e o que escolhemos levar?
Que a mochila “da nossa viagem” seja leve,
contendo só o necessário
para um retorno breve.
*Essa abordagem é reencarnacionista e é “apenas” a minha forma de pensar sobre a continuidade da vida. Confie na sua própria percepção, que de antemão respeito.
95% do universo é composto de matéria ainda indecifrada pela ciência.
E você acha mesmo que suas convicções são inabaláveis?
Se achamos que a empresa merece a nossa alma, será por isso que ela joga nosso corpo fora quando adoecemos?
Tem gente que faz com o tempo malabarismos, interpretando-nos no presente pelo passado, do qual já nos despedimos.