Nasce Bebe
Ninguém aqui morre só a sua morte; / é um pouco de nós todos que se vai / e naquele que nasce há um pouco de todos nós / que se torna outro.
Do hábito da resignação nasce sempre a falta de interesse, a negligência, a indolência, a inatividade, e quase a imobilidade.
Nunca serei juiz. Neste grande vale onde a espécie humana nasce, vive, morre, se reproduz, se cansa, e depois volta a morrer, sem saber como nem porquê, distingo apenas felizardos e desventurados.
Nasce-se todo inteiro, mas morre-se apenas a parcela do todo que nos foi morrendo ao longo da vida e nos tinha em pé. Por isso a morte mais natural de um velho é cair para o lado.
Quando um personagem nasce, adquire imediatamente tal independência inclusive do seu próprio autor, que pode ser imaginado por todos em tantas outras situações em que o autor não pensou inseri-lo, e às vezes pode adquirir também um significado que o autor jamais sonhou em dar-lhe!
O cérebro humano começa a trabalhar no momento em que o sujeito nasce e não para até o momento em que ele sobe num palanque para fazer um comício.
Não queiras ter pátria, não dividas a terra, não arranques pedaços ao mar. Nasce bem alto, que todas as coisas serão tuas...
"(...) Dor, susto, drama e tragédia, a gente nasce sabendo.
Saber ser feliz exige décadas para entender e, ao mesmo tempo,
pede tão pouco. Muitas vezes,
se vive somente para relatar o quanto nossa vida é impressionante,
mas lá no fundo persiste uma mágoa desconfiada de não vivermos o que realmente desejamos.
- O que desejamos não se diz, se arde!"
Quero nascer de novo cada dia que nasce.
Quero ser outra vez novo, puro, cristalino.
Quero lavar-me, cada manhã, do homem velho, da poeira velha, das palavras gastas,
dos gestos rituais.
Quero reviver a primeira manhã da criação,
o primeiro abrir dos olhos para a vida.
Quero que cada manhã, a alma desabroche do sono como a rosa do botão, e surja, como a aurora do oceano, ao sorriso dos teus lábios,
ao gesto de tua mão.
Quero me engrinaldar para a festa renovada com que cada dia nos convidas e desdobrar as asas como a águia em demanda do sol.
Quero crer, a cada nova aurora, que esta é a definitiva, a do encontro com a felicidade, a da permanência assegurada, a de teu sim definitivo.