Luis Gonzaga

Cerca de 94 frases e pensamentos: Luis Gonzaga

O SANFONEIRO

A sanfona e o sanfoneiro,
no Nordeste a cantar.
O sertão vai festejar
com forró o ano inteiro,
de janeiro a janeiro.
Solta a voz, meu cantador!
Alivia tua dor!
Com tamanha emoção,
faz lembrar o Gonzagão,
o maior dos forrozeiros!⁠

Inserida por RomuloBourbon

CORAÇÃO DO NORDESTE

Pernambuco é meu país,
terra de cabra da peste,
tem o frevo no Recife,
tem o forró no agreste,
e também tem o sertão,
onde nasceu Gonzagão,
coração desse Nordeste.⁠

Inserida por RomuloBourbon

⁠Saudade o meu remédio é lembrar!

Inserida por Maiadson2014

Triste Partida

Meu Deus, meu Deus. . .

Setembro passou
Outubro e Novembro
Já tamo em Dezembro
Meu Deus, que é de nós,
Meu Deus, meu Deus
Assim fala o pobre
Do seco Nordeste
Com medo da peste
Da fome feroz
Ai, ai, ai, ai

A treze do mês
Ele fez experiência
Perdeu sua crença
Nas pedras de sal,
Meu Deus, meu Deus
Mas noutra esperança
Com gosto se agarra
Pensando na barra
Do alegre Natal
Ai, ai, ai, ai

Rompeu-se o Natal
Porém barra não veio
O sol bem vermeio
Nasceu muito além
Meu Deus, meu Deus
Na copa da mata
Buzina a cigarra
Ninguém vê a barra
Pois a barra não tem
Ai, ai, ai, ai

Sem chuva na terra
Descamba Janeiro,
Depois fevereiro
E o mesmo verão
Meu Deus, meu Deus
Entonce o nortista
Pensando consigo
Diz: "isso é castigo
não chove mais não"
Ai, ai, ai, ai

Apela pra Março
Que é o mês preferido
Do santo querido
Senhor São José
Meu Deus, meu Deus
Mas nada de chuva
Tá tudo sem jeito
Lhe foge do peito
O resto da fé
Ai, ai, ai, ai

Agora pensando
Ele segue outra tria
Chamando a famia
Começa a dizer
Meu Deus, meu Deus
Eu vendo meu burro
Meu jegue e o cavalo
Nós vamos a São Paulo
Viver ou morrer
Ai, ai, ai, ai

Nós vamos a São Paulo
Que a coisa tá feia
Por terras alheia
Nós vamos vagar
Meu Deus, meu Deus
Se o nosso destino
Não for tão mesquinho
Cá e pro mesmo cantinho
Nós torna a voltar
Ai, ai, ai, ai

E vende seu burro
Jumento e o cavalo
Inté mesmo o galo
Venderam também
Meu Deus, meu Deus
Pois logo aparece
Feliz fazendeiro
Por pouco dinheiro
Lhe compra o que tem
Ai, ai, ai, ai

Em um caminhão
Ele joga a famia
Chegou o triste dia
Já vai viajar
Meu Deus, meu Deus
A seca terrível
Que tudo devora
Lhe bota pra fora
Da terra natá
Ai, ai, ai, ai

O carro já corre
No topo da serra
Oiando pra terra
Seu berço, seu lar
Meu Deus, meu Deus
Aquele nortista
Partido de pena
De longe acena
Adeus meu lugar
Ai, ai, ai, ai

No dia seguinte
Já tudo enfadado
E o carro embalado
Veloz a correr
Meu Deus, meu Deus
Tão triste, coitado
Falando saudoso
Seu filho choroso
Exclama a dizer
Ai, ai, ai, ai

De pena e saudade
Papai sei que morro
Meu pobre cachorro
Quem dá de comer?
Meu Deus, meu Deus
Já outro pergunta
Mãezinha, e meu gato?
Com fome, sem trato
Mimi vai morrer
Ai, ai, ai, ai

E a linda pequena
Tremendo de medo
"Mamãe, meus brinquedo
Meu pé de fulô?"
Meu Deus, meu Deus
Meu pé de roseira
Coitado, ele seca
E minha boneca
Também lá ficou
Ai, ai, ai, ai

E assim vão deixando
Com choro e gemido
Do berço querido
Céu lindo azul
Meu Deus, meu Deus
O pai, pesaroso
Nos filho pensando
E o carro rodando
Na estrada do Sul
Ai, ai, ai, ai

Chegaram em São Paulo
Sem cobre quebrado
E o pobre acanhado
Procura um patrão
Meu Deus, meu Deus
Só vê cara estranha
De estranha gente
Tudo é diferente
Do caro torrão
Ai, ai, ai, ai

Trabaia dois ano,
Três ano e mais ano
E sempre nos prano
De um dia vortar
Meu Deus, meu Deus
Mas nunca ele pode
Só vive devendo
E assim vai sofrendo
É sofrer sem parar
Ai, ai, ai, ai

Se arguma notícia
Das banda do norte
Tem ele por sorte
O gosto de ouvir
Meu Deus, meu Deus
Lhe bate no peito
Saudade lhe molho
E as água nos óio
Começa a cair
Ai, ai, ai, ai

Do mundo afastado
Ali vive preso
Sofrendo desprezo
Devendo ao patrão
Meu Deus, meu Deus
O tempo rolando
Vai dia e vem dia
E aquela famia
Não vorta mais não
Ai, ai, ai, ai

Distante da terra
Tão seca mas boa
Exposto à garoa
À lama e o paú
Meu Deus, meu Deus
Faz pena o nortista
Tão forte, tão bravo
Viver como escravo
No Norte e no Sul
Ai, ai, ai, ai

Sou do Nordeste
Nordestino sim sinhô
Nascido nas bandas do sertão
Mas tome cuidado e preste atenção
Que eu posso ser matuto,
Mas besta eu num sou não!
Ser do interior, nunca me fez inferior,
Muito pelo contrário...
Eu sou de uma terra arretada
Que bem pertinho de mim nasceu Lampião e Luiz Gonzaga. é...
Berço cultural, terra de gente criativa
Foi daqui que saiu Castro Alves, Ariano, Patativa, e muitos outros que nesses versos nem iriam caber!
Eu sou de uma terra riquíssima
De coisas que o dinheiro não pode comprar
De lindas paisagens, vasta cultura, de um sotaque gostoso e da culinária que é apreciada em todo lugar!
Pra num ser tão demorado
Ligeirinho vou te explicar
Deus caprichou, fez tão caprichado
Que o Nordeste é tão bom, que consegue ser tudo de bom, e ainda sobrar um bocado!

Inserida por CarlosFilho

⁠Nas Asas do Gonzagão


Pernambuco não poderia imaginar
Que a partir do dia da Santa Luzia
Januário José e Ana Batista
Atrairiam olhares para Exu, em melodia


Foi quando o pequeno Luiz nasceu
E com o seu dom alegre e festeiro
Depois da farda militar, seguiu o seu destino
E lá foi ele para o Rio de Janeiro


De Gonzaga à Gonzagão
Com artistas famosos fez parceria
Repertório "Danado de Bom"
Exu já não era mais monotonia


O moço simples conheceu a Europa
A sua vida e talento invadiram a literatura
E todos souberam da ardência da seca
E da vida nordestina que era pura bravura


Descobriram que não há luar como no sertão
Que no relógio marcando seis, o sertanejo ajoelhado
Suplica, à virgem, força para resistir ao peso da cruz
E que para todo mundo tem um "psiu" angustiado


Nos seus versos, o amor perdido dói mais
Quando para os braços do xodó não se poder voltar
Ôxi, que amargo de jiló tem a saudade
Adeus Januário. Deus ilumine o seu regressar



O sonho da água farta para a sede, gado e plantação
No sertão, vem na esperança com a flor de mandacaru
Banana, maxixe, batata, mandioca e buchada
É Fartura e benção na feira de Caruaru


Que difícil resumir a importância do Gonzagão
Deste brasileiro amado, que virou o rei do baião

Inserida por Gracaleal

A idéia do "Bem" deveria nos espantar: como pode existir algo que oferece mais do que recebe? É como uma máquina que produz mais energia do que consome. Depois de um trabalho meditativo surge outra idéia espantosa: o "Ser" e o "Bem" são conversíveis; "Ser" e "Ser Bom" são exatamente a mesma coisa.

Você já se observou fazendo algo que você sabe fazer muito bem? As coisas que precisam ser mudadas para obter um bom resultado quase que se destacam sozinhas, de tão impregnado que você está dos princípios formais daquela atividade. Para ter uma vida boa é necessário o mesmo processo: quanto mais você estiver impregnado da idéia do "Bem", mais você vai captá-la nas coisas.

Deus sonda os rins e os corações:

Os rins são símbolos da imaginação e o coração é símbolo da inteligência, ou seja, Deus sabe:
- O que você sabia;
- O que você deveria saber;
- O que você imaginava da situação;
- E o que você deveria ser capaz de imaginar.

Nunca julgues a escolha do próximo, cada sonho é relativo com a realidade de cada um.

Educação liberal consiste no estudo cuidadoso das obras dos grandes gênios da cultura a fim de preservá-las, interpretá-las ou renová-las.

Jesus Cristo, segundo o Evangelho, aos doze anos não somente estava estudando como também ensinando as doutrinas judaicas. Ele já havia, portanto, assimilado toda a cultura judaica. O Buda passou anos estudando com ascetas e místicos hindus para assimilar a tradição hindu. Moisés, segundo a tradição, não somente sabia as doutrinas judaicas como também estudou a tradição egípcia, recebendo uma excelente formação no palácio do faraó. Confúcio disse certa vez que se tivesse mais cinquenta anos de vida ele os dedicaria todos ao estudo dos clássicos da tradição chinesa. Então, uma característica comum dos grandes talentos consiste no fato de que todos fizeram um esforço de assimilação cultural, e a partir disso fizeram uma contribuição.

O que Mortimer Adler chamou de 'grande conversação' consiste no diálogo do indivíduo com os grandes talentos da cultura. Não basta que você leia as suas obras, é preciso que você dialogue com eles, que você tente reproduzir em você a experiência deles quando eles deram determinada contribuição. Essa é outra característica interessantíssima das grandes obras. Como as grandes obras falam de ideias mais ou menos inovadoras, pioneiras, então a maior parte das pessoas não as compreendem. E como não é fácil falar de um objeto inédito, ao escrever sobre ele o gênio cultural traça em sua obra o caminho mental que o levou a fazer determinada descoberta. Então uma grande obra não ensina apenas a sua ideia central, mas também dá uma ideia de como funciona a mente de um gênio. Nesse sentido, ela treina ou prepara a mente do leitor para que opere de modo semelhante à mente de um gênio. Esse é o principal benefício pessoal que alguém pode extrair de uma educação liberal.

Cristo não aboliu a diferença entre o que Marta estava fazendo e o que Judas fez; Ele só falou que essa diferença é pequena se você comparar com uma outra coisa. Você pode fazer um monte de coisas boas, mas isso não vai te libertar. Uma hora essas coisas boas te serão tiradas; uma hora tudo de bom que você fez será tomado. Ele não falou que Marta era uma pessoa ruim, ou que estava fazendo algo errado; Ele só falou: “isso que você está fazendo é bom, mas vai acabar. E aí, o que será de você?"

Inserida por Fsantos11

Um segundo efeito da educação e do controle dos instintos é a capacidade de apreciação estética. Quem já praticou por tempo suficiente uma arte clássica sabe que, para captar todas as qualidades estéticas de um objeto de arte, o nível de controle dos instintos é incalculável. Ao olhar um objeto que o impressiona esteticamente ao máximo, um instinto não educado imediatamente se volta para as sensações de prazer causadas e perde o objeto.

Como quando se ouve uma música que é muito tocante: se os instintos não forem treinados, a atenção desvia-se da música para os sentimentos de prazer; se for uma obra excelente, somente o sujeito com os instintos altamente treinados é capaz de assimilá-la como um todo; outro sujeito no primeiro movimento já está olhando pra si mesmo e não está mais olhando para o objeto.

Inserida por Fsantos11

Podemos dizer que a primeira metade da vida espiritual consiste em descobrirmos que somos apenas um ramo. Quando o sujeito constata que realmente é só um ramo, ele pode começar a se perguntar o que é isto que flui do tronco para ele e que é o mesmo nele e no tronco. Existe um aspecto segundo o qual a individualidade é análoga ao verbo e existe um outro em que ela é idêntica. São Paulo diz "para mim, viver é Cristo", mas ele nunca vai esquecer que é um ramo, que não é o verbo, que a personalidade dele é um ramo do verbo e, portanto, um símbolo do verbo; e também não vai esquecer que a essência, que a realidade dessa personalidade, é a seiva. O ramo que não recebe seiva não é ramo em sentido nenhum.

Inserida por Fsantos11

Para compensar a instabilidade da inteligência exercida sobre o campo das coisas mutáveis e contingentes, Deus põe no céu não somente a Lua, mas também as estrelas. As estrelas representam aqui uma participação fragmentária do indivíduo na inteligência humana, no entanto indispensável. As estrelas representam o conjunto das máximas e costumes bem fundamentados de que dispõe uma civilização. São pequenas luzes que orientam a sua vida cotidiana.

Por exemplo: no ônibus, um sujeito do seu lado deixa cair a carteira e não vê, você pega a carteira e pensa: "Pego o dinheiro ou não?", você não precisa raciocinar muito, só lembrar: "Não roubarás". Esses pontos de luz servem como orientação para tomarmos decisões nesses momentos; você não precisa se lembrar do por quê é errado roubar, não precisa da ciência toda da moral na sua mente nesse momento pra não pegar a carteira do sujeito, basta lembrar: "Alguém provavelmente mais sábio do que eu disse: Não roubarás". Isso é um ponto de ligação entre o sujeito e a inteligência humana; naquele momento pode ser o único ponto que se tem; diante da circunstância concreta: "Dalí 2 minutos ele vai sair do ônibus, você também, são 15 segundos pra tomar uma decisão; você está cheio de dívidas, perdeu o emprego, a carteira do sujeito está recheada, parece que ele está muito bem de vida". O número de contingências pode apagar as razões pelas quais você não deve roubar; você pode lembrar-se de toda propaganda comunista que já jogaram na sua cabeça: "Ele devia dividir comigo mesmo, ele é um maldito capitalista e eu um trabalhador explorado". Tem tanta coisa que pode estar na sua mente naquele momento, que é impossível que você rememore os princípios da moral, e deles derive de fato que você não deve fazer aquilo. Mas uma máxima que foi assimilada no decorrer dos anos na sua vida é suficiente pra travar a sua ação. Esse é um mecanismo indispensável de civilização.

A ciência da moral e as razões reais do por quê não se deve roubar nunca estarão presentes na maioria das mentes humanas, a maioria nunca vai estudar teoria moral, mas as pessoas também não podem roubar. Então é preciso que todas as pessoas tenham um mecanismo para recordar critérios de ação imediatos que possam ser aplicados sem muito esforço da inteligência, que possam ser aplicados mesmo num cenário desfavorável ao uso da inteligência; porque existem muitas situações do cotidiano que são desfavoráveis ao uso da inteligência, são noites de Lua Nova; são quando você está cansado, de mal humor... Não dá pra pensar, mas tem de tomar uma decisão.

Está claro que a inteligência vai necessariamente se alternar nesses dois planos e que ela nunca estará somente diante do plano chamado dia, em que as coisas são evidentes, as diferenças são claras, nítidas? Em inúmeras vezes a sua mente estará diante desse panorama chamado noite, e nesse panorama você tem de tomar as decisões cruciais para sua vida.

Inserida por Fsantos11

Não houve um momento ou um período na sua vida em que ela dependia exclusivamente de outros seres humanos? Em que você não tinha a menor condição de manter sua vida? Por exemplo, quando você estava no ventre da sua mãe, você não tinha o menor poder sobre a sua própria vida, e ela tinha o poder total e absoluto. Por mais ou menos nove meses, ela decidiu não exercer esse poder de forma maldosa.

Depois que você nasceu, você imediatamente arrumou seu primeiro emprego e começou a cuidar da sua vida? Você trocou sua primeira fralda e saiu para a rua para procurar seu primeiro emprego? Não, alguém cuidou de você durante muitos anos antes de você sequer conseguir pedir por um primeiro emprego, que, aliás, também foi um ato de bondade, porque você teve que pedir – não era seu.

Eu sei que é muito mais interessante e maravilhoso pensar o seguinte: “o mundo é mau, meus pais são uma droga, eles é que estragaram minha vida”, eu sei que é muito mais interessante isso, mas a verdade sobre as coisas é o seguinte: no dia em que você nasceu, eles poderiam ter te jogado fora, e ninguém ia perceber, ninguém ia sentir sua falta. No entanto, eles não fizeram isso.

Foi um ato de bondade. Eles estavam fazendo um sacrifício em vista de um benefício que eles não sabiam se iriam receber, que não havia meio de garantir que eles iriam receber. Esse ato de bondade é tão importante, tem um valor tão alto na existência humana, que todas as religiões do mundo colocam o seguinte: “primeiro, você tem que servir a Deus; em seguida, você tem que respeitar e cuidar dos seus pais” – todas elas. Os seus pais podem ter sido até canalhas, mas eles não te mataram.

Inserida por Fsantos11

A alma humana é expectativa e desejo. A alma humana é tender para algo que ela não é. Nenhuma alma encontra plena satisfação em si mesma. A alma foi feita para a satisfação ilimitada, não limitada. Toda satisfação limitada implica necessariamente num elemento de insatisfação. Apreciar uma coisa qualquer significa naquele momento deixar de apreciar todas as demais. Embora uma satisfação limitada qualquer seja um símbolo da satisfação ilimitada em Deus, o próprio ato de satisfação é uma limitação. O indivíduo precisa perceber que subjacente a qualquer desejo humano há um elemento incalculavelmente maior que o objeto da satisfação. Há um elemento em sua alma que não pode ser exaurido pelo objeto limitado. O objeto da satisfação sempre termina antes de sua alma. O desejo da alma humana é ilimitado. Então apenas um objeto ilimitado pode satisfazer o desejo ilimitado da alma. A plena consciência dessa ilimitação da alma humana aliada à ausência de disposições para satisfazer essa mesma ilimitação é o que caracteriza a Santíssima Virgem. Para a Santíssima Virgem, a alma só se satisfazia com Deus, então ela não quis mais nada que não fosse Deus.

Inserida por Fsantos11

Grande parte das objeções dos artesãos à Revolução Industrial baseava-se justamente no fato de que o ambiente industrial os impedia de serem artesãos. O ambiente criado pela Revolução Industrial era feio, desagradável e completamente incompatível com o homem possuidor de uma arte. O tecelão era um artista, algo que o trabalhador de uma fábrica têxtil já não era. O afeiamento do mundo foi o primeiro efeito da Revolução Industrial.

Mas a Revolução Industrial era inevitável na medida em que existia no mundo uma massa enorme de pessoas incapazes de encontrar um centro em si mesmas. Pessoas que não são capazes de probidade ou de outros centros superiores em suas personalidades precisam encontrar um centro exterior. Se o número de tais pessoas é significativo, torna-se necessário a criação de um número proporcional de funções servis para que essas pessoas sirvam a outras pessoas, sendo esta função servil um substituto para algum centro interno. Praticamente todas as sociedades humanas admitiram a existência de servos ou escravos, ou seja, pessoas desprovidas de um centro interno, pessoas cujas vidas não possuíam um propósito, mas que poderiam servir a outras pessoas que tinham uma centralidade interior.

Inserida por Fsantos11

Aparentemente, ao defender as Cruzadas, São Bernardo estava defendendo a existência de um território estritamente cristão e Jerusalém deveria fazer parte desse território. Num primeiro momento, então, a finalidade dessa defesa era de ordem política. No entanto, a finalidade ia muito além disso. A raiz da defesa de São Bernardo estava fincada, inicialmente, em sua contemplação da cristandade. Em segundo lugar, estava em sua percepção de que era estritamente necessário dar para as pessoas de índole aristocrática um direcionamento espiritual.

Não podemos esquecer que na Idade Média a Europa era composta por várias tribos guerreiras. O mesmo acontecia entre os índios da América do Norte. São Bernardo, então, questionou-se acerca de como essas pessoas de índole aristocrática poderiam assimilar o cristianismo e alcançar a santidade. O anseio de orientar espiritualmente os guerreiros europeus foi a motivação principal para a defesa de São Bernardo às Cruzadas, para a fundação da Ordem do Templo e para o delineamento dos ideais de cavalaria. São Bernardo foi o primeiro santo que delineou a imagem do legítimo cavaleiro cristão. Ele percebeu que a vida estritamente monástica e contemplativa era inconcebível para a maior parte dos aristocratas europeus. Compreendeu que o centro mais elevado e concebível para uma imensa parte da população européia era a nobreza de caráter e decidiu fazer desse centro uma via de santificação para os europeus.

Os aristocratas europeus, apesar de professarem sinceramente o cristianismo, idealizavam suas virtudes como oriundas de figuras mitológicas não-cristãs. Essa dualidade foi um grande problema na Europa. Os aristocratas europeus possuíam dois conjuntos de valores positivos, porém incompatíveis. São Bernardo foi o responsável pela solução dessa incompatibilidade. E para pôr em prática essa solução, São Bernardo defendeu as Cruzadas.

As pessoas podem achar qualquer coisa das Cruzadas, mas o número de aristocratas que alcançaram a santidade nesse processo foi incalculável. E santidade sempre é bom. É claro que São Bernardo sabia que as Cruzadas possuíam uma certa ambigüidade e não durariam para sempre. Mas ele também sabia que as Cruzadas definiriam a imagem exata do guerreiro cristão, sendo isso indispensável para a civilização cristã. A convicção profunda que nós temos hoje de que a força deve ser usada em nome da generosidade, da justiça e da nobreza é herança de São Bernardo. Se não fosse por São Bernardo, até hoje acharíamos que existem os brutos e inescrupulosos de um lado, e os cristãos que aceitam apanhar passivamente do outro. Não haveria qualquer possibilidade de solucionarmos essa dicotomia. O cristianismo não teria assimilado uma boa parte da sociedade e a sociedade não teria assimilado uma série de valores cristãos. São Bernardo foi o responsável pela existência de muitos santos e pela existência de um mundo cristão.

Inserida por Fsantos11

Se os valores estéticos e técnicos fossem nulos espiritualmente nenhuma grande tradição teria produzido grandes obras de arte. Mas a história evidencia que a composição de hinos, a produção de instrumentos rituais, a construção de templos e outros bens surgem logo após o aparecimento de uma religião. Somente esse fato prova que os valores estéticos e técnicos possuem algo de espiritual. Nenhuma religião, em nome de um idealismo espiritualista, permitiu que os templos fossem construídos de qualquer jeito. O próprio São Francisco, talvez um dos maiores advogados da pobreza enquanto método espiritual, ao reconstruir templos, os resconstruía com o máximo cuidado e beleza. Certo dia um padre me disse que os poucos fragmentos das palavras do Cristo em aramaico indicam que muito provavelmente o Cristo discursava em verso. Então muito provavelmente todos os discursos do Cristo eram poemas. Essa é mais um prova do conteúdo espiritual da arte.

A beleza de um objeto material transcende a sua materialidade. É por isso que a beleza é amável, pois a beleza do objeto indica algo que é mais do que o objeto considerado em si mesmo. Por isso é frustrante ver algo ou alguém belo que não corresponda à sua beleza. São Boaventura dizia, e com muita razão, que os processos internos no ser humano que atuam na contemplação estética são exatamente os mesmos da contemplação mística. E como sétimo superior da ordem franciscana, ele também era um grande advogado da pobreza enquanto método espiritual.

Os franciscanos eram defensores da pobreza, não da feiúra. A pobreza não pode ser confundida com a feiúra. A renúncia é ela mesma bela enquanto ato humano. É belo ver um homem que privou-se de tudo por Deus. Além disso os franciscanos compensavam a sua penúria material com uma riqueza de cantos. Os franciscanos cantavam e riam o tempo todo. Isso até causava alguma estranheza em certos mosteiros beneditinos porque segundo a regra beneditina a gargalhada é proibida. Se os franciscanos não tinham a arte da arquitetura ou vestimenta, tinham, ao menos, a arte do canto.

Inserida por Fsantos11

Os valores indispensáveis para a vida humana – não somente para as civilizações, mas também para cada um dos indivíduos – são sete:

1) Uma consciência clara e definida da objetividade da inteligência humana. É preciso saber que a inteligência humana é objetiva;

2) É preciso saber que a vontade humana é livre;

3) É preciso saber que educando os teus instintos você será capaz de sentimentos nobres;

4) A inteligência humana opera sobre dois domínios diferentes: o domínio do imutável (necessário) e o domínio do contingente; mas não podemos esperar que ela tenha a mesma clareza no domínio do contingente como tem no domínio do necessário;

5) O sujeito precisa ter uma ideia do seu papel na humanidade e aprender a usar as circunstâncias concretas para a realização desse papel. Se ninguém, ou um número muito pequeno de indivíduos fizer isso, a sociedade será infeliz, e uma massa muito grande de infelicidade é uma das principais causas de revoluções e destruições civilizacionais. Quando muitas pessoas são infelizes, torna-se fácil manipulá-las;

6) O ser humano precisa conhecer as vidas plenamente realizadas;

7) Ele precisa estar cônscio da possibilidade da vida mística.

Se faltar alguma dessas coisas numa vida individual, o sujeito será privado de uma dimensão humana e certamente sairá prejudicado. Qualquer civilização tem de oferecer, numa dose mínima que seja, o acesso a essas sete informações. Se faltar alguma delas a civilização será incompleta e necessariamente será substituída por outra.

Inserida por Fsantos11