Carta à Deus Deus. Não vou pedir... Grecco de Leon

Carta à Deus

Deus.
Não vou pedir misericórdia.
O que eu quero pedir é força, e sanidade.
Eu vivo uma batalha, uma batalha com minha vida neste momento, uma batalha muito difícil, como se é de esperar de uma batalha. Minha luta é assim, tão difícil, porque nela as espadas colidem nos detalhes, os detalhes, que não ostentam perigo à primeira vista, eles que são levados tão desconsideradamente. Os detalhes, que não gritam frases de impacto às quais possa haver retalhadora resposta, eles que não sustentam defesas, que entregam tão facilmente o pescoço à lâmina da espada. Os detalhes, que nada mais fazem do que pedir por um pequeno momento sua atenção, nada mais fazem do que pedir mais uma tragada, mais um gole...
Lutar esta minha luta é resistir à pura tentação, coisa fácil. Esta se torna luta épica quando percebe-se, destutindo-se automaticamente do orgulho e satisfação de ter resistido a um impulso, que estes detalhes, estas tentações, vagam aos montes pelo dia, todos os dias, e que vencer não significa sobjulgar por uma, ou duas ou vinte vezes o desejo, mas sim sobrepôr todos eles, todos os dias.
Nada disso vêm levianamente, o fiz por mereçer, o sei. Peço portanto auxilio nesta tarefa empiricamente importante, a de não continuar desmereçendo o que tão gratuitamente foi-me dado, esta vida minha.
E obrigado, por tudo e por Chopin, que certamente está ao seu lado neste momento entoando seus mais belos nocturnes... Agradeça a ele por mim.