O Poder Imaginativo da Ignorância... Gesdan Barbalho

O Poder Imaginativo da Ignorância Política

A situação politicalhista* a qual se abateu sobre nossa nação parece, irremediavelmente, insolucionável. Para nós, ignorantes políticos, fica mais difícil ainda entendê-la. Como cidadão e desconhecedor dos meandros* de nossa política, peço licença para descrever algumas reflexões insólitas*.
Poderia achar que ainda se pode encontrar um político honesto, mas aí me vem um certo pesar. Ora, não é obrigação do político honesto denunciar o desonesto, a prática corruptiva na política? Sua missão não se vincula aos interesses do povo e, nesse empreendimento, ser honesto, nobre, decente e responsável?
Então dentro desse mar de lama em que vive a política brasileira muitas e diárias denúncias seriam necessárias para que se buscasse a regularidade da belíssima e verdadeira prática da política de essência, daquilo que realmente constitui sua natureza, seu âmago, seu mister político. E se assim não o é, igualmente fato é que, quem se omite é conivente. Desta feita não há um sequer político honesto.
E se quando estourou o mensalão, imaginemos, acreditássemos que os, cerca de, três anos de um provável politicalhismo não seriam suficientes para engendrar tamanha teia corruptiva, principalmente vindo de um partido de esquerda que após uma vida de lutas tomou a situação.
Passamos, há pouco, senão quase dois mandatos, por uma das mais belas e transparentes passagens de governo que este mundo já viu. E os meandros de tal passagem de governo, sob o poder imaginativo desta ótica política, pode ter se dado mais ou menos assim, quando “um” ex-presidente passando o governo para o “outro”, o eleito, conversam, sentados, tomando, quem sabe, um cafezinho.
Um: “e aí, preparado para tomar posse?”
Outro: “se não preparado, presente.”
Um: “então toma!”
Outro: “o que é isso?”
Um: “olha aí, foi o jeito.”
Outro: “meu Deus, mas como?”
Um: “ora, ou era isso ou não se conseguia, mesmo que anuviadamente, estabilizar o país no cenário mundial.”
O povo aqui já não interessa, mas continuemos.
Outro: “mas, e agora, o que eu faço com isso?”
Um: “você pode escolher entre denunciar ou abraçar esse esquema. Se abraçar, é continuar e acreditar que vai dar certo. Se não abraçar e denunciar você pode ter mais uma vez um país naufragado, naquele cenário mundial, só que dessa vez em suas mãos.”
Outro: “então, o que vou fazer?”
Um: “não sei, agora é com você.”
Então o “outro” chama seu séquito* e expõe o lamaçal. No todo, depois de muito se debater fica o seguinte.
Outro: “... ora vocês vão assumir, cada um, uma banana de dinamite dessa, e eu fico de fora do esquema. É pela lucidez e inocência, ambas, primeiro do presidente e depois do partido.”
Depois da luta de uma vida chegar à glória da presidência de uma república, parece um bom motivo para calar. Nesse contexto, ao que possa parecer, a prática da política profissional não encontra mais margem ética em seu mister.
Outrossim calar e praticar a conivência, segundo a idéia descrita nesse “Poder Imaginativo da Ignorância Política”, são alguns dos instrumentais para chegar ao sucesso político em uma administração baseada na Ordem e no Progresso, na democracia?
Meandros, meandros, meandros, quão irresolutos* são!


Gesdan Barbalho
professorgesdan@yahoo.com.br
Abril de 2010