Meu país constrói lobos. O mundo ainda... Wesley Nabuco

Meu país constrói lobos.

O mundo ainda prematuro se desdobra dentre as pernas da infinitude, as mangas se arregaçam, um maniaco agarra-o pelas pernas impedindo que a vida caminhe, não pode nascer livre. Eu, em meu país, junto a alcateia onde minha mãe reza, meu pai cochila e os ratos vestem gravatas, durmo. Meu pais constrói lobos, famintos pela própria existência, seu respeito morre, sua educação encharcada de lagrimas das pobres crianças pretas e pardas, gritando para pobreza a sua plebe, no canto dos olhos de cada um escuto um chamado, um "Zum, zum, zum." 'E o esbravejar da mãe tristeza:- Meu filho, o calazar de gentileza nos prostra ao mundo, barulhos...barulhos enjoativos de desgraças, riram os povos, cantaram de alegria, acreditaram que por mais quatro anos tudo se renovaria, e nada... repito nada seria como antes. O laco amarrado na cabeça de minha mãe se depreendia, as lagrimas desciam, ainda não pude acreditar que tudo era conto de fadas.

O meu país constrói lobos, famintos pela própria agonia, o medo se esvaia, não durou tempo para que a minha fantasia fosse a verdade morta durante todos os dias. Nas favelas ou na minha, continuidade das mesmas crianças perfuradas pela pátria vadia. Eu pude chorar, tanto tempo que não chorava, aos meus pensamentos perguntava:- Deus onde moravas? Onde perdeu teus olhos? Onde plantou sua paz? Se calava.
Questionei a Deus, o diabo, os ateus, todos confinados, assim como eu. Hoje antes do remédio na TV, droguei-me de cinco livros, palavras salgadas, minha pressão me estrangulava. A vida nunca foi doce, meu pais constrói formigas, baratas, pragas e mais vantagens. Eu sei que meu pai não trabalhava como dono do mundo, nem concertava as horas do relógio pois não sabia a quanto tempo começará tudo aquilo, não sabia a quanto tempo tudo acabara.

O meu país canta por moedas, notas, cédulas... células que correm no sangue, já nascemos pelo amor as notas, os violões se enchem de inveja, por seu valor musical que tanto educou, não valer o preço do papel que tanto matou.