Mas era impossível não atende-la,... Shando Maranhão

Mas era impossível não atende-la, tamanha era a força daquele chamado.
repleto de carência e um amor infinito, capaz de trocar de lugar comigo...
Hospital Santa Helena, Goiânia, Setembro de 2012.
Se reencontrar é tão importante. Poder acreditar em ter tudo de novo. Poder ter tudo novo com renovo, não o que perdemos ou ficou para trás, um novo melhorado.
Recomeçar tudo diferente pra não ter por um bom tempo, que lidar com a possibilidade do possível fim.
Recomeçar, se descobrir no desejo de viver, é possível ter tudo de novo e agora aperfeiçoado, renovo pelo sentido da vida, jamais deixando que a alma morra antes que o corpo.
Redescobrir...
Adormeci ao som de um choro sofrido, buscando algum conforto para o coração cheio de amor pelo meu viver.
Em meio ao desespero dentro de mim, pude ouvir ao longe um chamado, pedindo para ficar, e não deixa-la ali.
Resisti por um bom tempo aquele chamado cheio de dor, perdera a vontade de mim, perdera a vontade de continuar, perdera a coragem de viver.
Mas era impossível não atende-la, tamanha era a intensidade daquele chamado. Cheio de carência de um amor infinito, e sem dúvidas capaz de trocar de lugar comigo...
Sim! Olha eu aqui razão de meu existir...
A senhora veio e me deu a mão...
Encontrei em ti novamente meu porto seguro...
Me deixei permitir agora em me encontrar em seu olhar molhado, me senti em seu toque, me encorajei em cada palavra tua...
Agora tudo tão diferente, tudo novo, tudo e nada...
Meu tudo me chamava, como poderia virar as costas e partir assim? Lhe devendo tanto...
Minha mãe ao meu lado, sorriso misturado ao choro.
O porquê de tudo aquilo?
São imagens confusas em minha mente, meio alucinado. É tudo sem sentindo, nada para se entender, sinto uma vontade de abrir os olhos, não consigo, estou totalmente grogue, novamente aquela sensação de não estar ali, depois de algumas tentativas finalmente olhos abertos. Enxergo uma moça de branco que anda pra lá e pra cá bem preocupada e apressada, mais uma, outra...
Várias camas com pessoas e gemidos desconhecidos, olho bem aquele local. Continuo muito confuso e perdido, grogue e sem intender nada.
Nossa! Estou em hospital ! Outra vez em uma U.T.I.? Qual foi a merda que aprontei agora? Não me lembro de nada naquele momento, e até hoje só sei de alguns acontecimentos por serem relatados a mim.
A certeza naquele momento e de que estou ferrado! Não parece coisa boa. Olho pra cima e consigo ver uma bolsa de soro, uma outra amarelada que não sei o que é, e mais uma bem familiar, sangue.
O que mais incomodava e por alguns momentos me causando pânico, tubo endotraqueal, um tubo colocado através de minha boca invadindo minha traqueia, somente assim podendo respirar, um prendedor ao meu dedo, registrando minha frequência cardíaca, que eu insistia em retira-lo, fazendo alguém sempre vir correndo achando que eu parti. Fios do monitor estão ligados em adesivos redondinhos esparramados sobre meu peito. Estava literalmente intubado, minha vida estava dependendo de toda aquela parafernália.
Tento me libertar daquela mangueira que invadia minha boca, em vão, estava amarrado pelos pulsos. Não consigo abrir ou fechar minha mão esquerda, perdera seus movimentos. Uma sede jamais sentida na vida, daria tudo que tinha por um copo d´água. Em momentos de alucinações, até tinha dialogas com minha mãe, onde me perguntava se eu queria algo, respondia rapidamente. Muita água gelada, água de coco, suco. Estão me matando de sede aqui mãe!
Um bom tempo depois descubro o porquê do sorriso misturado ao choro de minha mãe, acabara de voltar de um coma de mais de 16 dias, duas paradas cardíacas, já era o terceiro hospitais, pois cada um destes hospitais nem queriam ou entendiam meu caso. Antes a conclusão dos médicos é que pra mim já era, estava nas mãos de "Deus", pois já não havia mais nada a ser feito, segundo alguns "especialistas" meus dias estavam contados, era somente questão de tempo e um simples e amargo adeus. A decisão deste adeus estava com minha mãe, sempre aconselhada a se despedir e permitir que todas aquelas maquinas fossem desligadas.
Se meu caso estava nas mãos de Deus a decisão de um adeus era de minha mãe. Porque acharem que era questão de tempo para meu fim? Me encontrava nas melhores mãos possível. Nem preciso dizer a decisão de minha mãe.
Olha eu aqui! A verdade disto jamais me frustrará, somente me faz entender que tenho que exercitar a minha fé cada vez mais e mais, não na forma de dependente a “alguém”, mas sim derrubando obstáculos que minha natureza difícil ao longo do tempo vem construindo. O impossível não existe, existe a falta de fé e descrença pela vida.
Senti esta descrença, por vezes escolhi a forma mais fácil, jogar a toalha. Mas ela estava sempre lá ao meu lado recolhendo a toalha do chão e recolocando em minhas mãos e afirmando. Você consegue meu filho!
Engana-se quem acredita que descobriu tudo a seu próprio respeito, que já se conhece e está pronto para o que vier. De grandeza e sorte é a pessoa que desvenda e aprende com suas fraquezas…
São somente nelas que podemos adquirir forças, para prosseguir em direção ao objetivo maior. Jamais deixando que a alma morra antes que o corpo!
Shando Maranhão