QUAL SERÁ O FUTURO POLÍTICO DE PONTA... Fábio Aníbal Goiris

QUAL SERÁ O FUTURO POLÍTICO DE PONTA GROSSA?

Se existe algo sobre o qual é difícil emitir um juízo de valor é a perspectiva futura da cidade de Ponta Grossa, que chega a seus 190 anos.
Texto de: Fabio Anibal Goiris*
O que dizer objetivamente sobre uma cidade de quase 200 anos de idade que tem 335.000 habitantes enquanto cidades do mesmo Estado com pouco mais de 70 anos como Londrina com sua região metropolitana já se aproximam de um milhão de habitantes?. Sociólogos, historiadores, antropólogos, cientistas políticos e economistas se debruçam tentando achar uma explicação científica para essa defasagem. Outro exemplo: a renda ‘per capita’ de Ponta Grossa em 2010 era de 19.012 enquanto que a de Maringá no mesmo ano chegou a 23.140.
A pergunta é: o que levou a ocorrer discrepâncias tão significativas? Uma das explicações mais convincentes aponta para o fato de que a infraestrutura econômica (ou base material) que se instalou em Ponta Grossa determinou um atraso na mudança social. Esta infraestrutura econômica incluiu: a) os meios de produção, b) os objetos de trabalho (terras e matérias primas) e c) as relações de produção (claramente de exploração capitalista), que atuaram em conjunto dentro de um sistema escravagista e de servidão. Isto redundou no monopólio privado da terra e na exploração da mão de obra gerando uma massa de miseráveis no campo, que, finalmente, se deslocaram para as regiões empobrecidas e periféricas da cidade. O sistema de Sesmarias (1704-1822) e os processos latifundiários subsequentes (1823-1889) contribuíram enormemente para a materialização daquela infraestrutura.
Por seu lado, a consolidação ideológica e superestrutural desse processo ocorreu mediante a ação facilitadora do próprio Estado oligárquico (e seus Aparelhos Privados de Hegemonia) aliado a ideias conservadoras e patrimonialistas que incluem o positivismo de Augusto Comte, o integralismo de Plínio Salgado, o nazismo, o militarismo e, sobretudo, a clássica cultura política não democrática.
Todo este histórico processo – que inclui aspectos materiais e ideológicos - não se observou em Londrina, em Maringá, em Cascavel e tampouco em Foz do Iguaçu. Ponta Grossa atravessou, pois, numa viagem sui generis, um longo e tortuoso caminho a partir do semi-feudalismo até o surgimento do capitalismo moderno. A cidade de Ponta Grossa viveu 66 anos da sua história sob o penoso regime monárquico; depois conviveu durante 95 anos (a partir de 1889 e até 1984) com uma república de lógica liberal e práxis autoritária, na qual o povo foi sistematicamente mantido à margem de qualquer possibilidade de participação. Somente a partir de 1984 com a Campanha das Diretas, numa forma de Segunda Proclamação da República, conheceu a democracia que permanece até hoje sem rupturas.
O que fazer para compensar este longo e demorado processo que ficou conhecido como ‘modernização conservadora’?. Em primeiro lugar é preciso democratizar a Sociedade Civil: depurar os fenômenos sociais e antropológicos tão atávicos quanto adversos como o patrimonialismo, o utilitarismo e o conservadorismo. Em segundo lugar, melhorar a política social e a política partidária. A política social auferiu nos últimos 10 anos os positivos apoios federais sustentados nas políticas públicas dos governos de Lula e Dilma. A política partidária princesina, por seu lado, afastando-se da visão autoritária da política recebeu a injeção de ânimo do pluralismo ideológico (leia-se vereadores do PT, do PC do B, do PSB, etc) e da inovação política e ideológica representada principalmente por Péricles (PT), os irmãos Sandro Alex e Marcelo Rangel (PPS) e Márcio Pauliki (PDT). Além disso, a recente nomeação de um Secretário de Estado princesino como o Doutor João Carlos Gomes veio mitigar um antigo defeito relacionado às relações políticas da cidade.
Ainda assim: o que mais pode ser feito para desenvolver o progresso da cidade?. A resposta seria: apoiar o grande processo de incorporação de novas indústrias na cidade como a norte-americana Paccar que pretende investir R$ 200 milhões e a Companhia de Bebidas Ambev que ambiciona investir mais de R$ 250 milhões. Mais ainda: o próprio Estado do Paraná parece aderir à ideia de impulsionar novos tempos em Ponta Grossa. Aprovou a Lei de Inovação uma forma de diálogo – até então inexistente - do público com o privado e de realizar a duplicação da BR 376, a ‘Rodovia do Café’, cujo trafego diário chega a 10 mil veículos.
Por fim, de um passado oligárquico profundamente conservador, Ponta Grossa passa por um positivo processo de desconstrução. Esta palavra, expressada por Jacques Derrida, significa uma real transformação a partir de condições de atavismo. Lutando contra os resquícios de uma estrutura social e econômica de tipo verticalista que deixou como herança uma maiúscula desigualdade social, a Sociedade Civil tenta se desvencilhar dos seus fantasmas e reinventar um novo contrato social, de inspiração rousseauniana, que traga uma combinação de democracia na área social e republicanismo na vida política.
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