Hoje, logo pela manhã, algo me fez... Samuel Amorim Oliveira

Hoje, logo pela manhã, algo me fez refletir... e muito...
Estava na praça central de minha cidade natal (Goiânia – Goiás – Brazil), quando percebi uma senhora deficiente visual tentando atravessar, em uma faixa... Havia um semáforo para pedestres, mas algo que eu nunca havia me dado conta, percebi naquele momento: como não havia aviso sonoro, aquela mulher jamais poderia saber quando passar! Ofereci ajuda, e enquanto a auxiliava na travessia (e após), me inquietei com o fato de que somos altamente insensíveis (para não usar palavra mais dura) para com os nossos deficientes, mesmo na sociedade aparentemente consciente em que dizemos viver. Não temos pisos rebaixados nos ônibus, ficando os cadeirantes a mercê da boa vontade de motoristas; calçadas rebaixadas e transitáveis são luxo para poucos lugares; a cortesia cidadã, raríssima; e por ai vai...

Não raro é ainda, se imaginar o deficiente como o fruto do castigo divino ou de alguma maldição por mal-feitos dos seus antepassados próximos (pais, avós, etc.). Os discípulos de Jesus Cristo, até mesmo tiveram a coragem (que não temos) de perguntar ante ao cego: “quem pecou, foi ele ou seus pais para que isso lhe acontecesse?”

A resposta do Meste até hoje continua a nos desafiar o raciocínio: “nem ele, nem seus pais, mas isso aconteceu para que se manifestasse a glória de Deus”. Lembro-me ainda, que foi o próprio Deus que falou a Moisés: “Eu mesmo que criei mudo, o surdo, o que vê, e o cego”.

Como assim, Senhor?!Crias o cego para que tenha que depender por toda a vida, da ajuda alheia?! O surdo para nunca ouvir teus sons?! O mudo para jamais expressar-se em fala?! O gordo e o muito magro, para sermos achincalhados e desprezados, desde a mais tenra idade, na escola, entre os que deveriam ser amiguinhos, sem ter ninguém a quem recorrer?! Ou na vida adulta, para sermos em tudo preteridos?! O negro para ser objeto de escárnio do branco, que o chama até de maldito?!

Como pode, com isso, tua Glória ser manifesta?! Olha para o que dizem de ti: que és Deus cruel e sanguinário, insensível ao sofrimento da criatura!; que nada tens sob teu controle! Devo revoltar-me contra ti?! Por que não esmiuças tuas razões para que todos as entendamos?!

Não consigo saber tuas razões?! Elas são elevadas demais para mim?! Tua Graça me basta?! O teu Poder se aperfeiçoa na minha fraqueza?! É isso que disseste?!

De fato, olhando mais atentamente, pareço observar uma Graça em franca operação!...; um Poder amplamente capacitante!...

Ao notar o cego, percebo-me um deficiente visual, pois eu apenas vejo, já ele, tateia como ninguém, a ponto de sentir as nuances da alma. Ah!, eu apenas falo!, não consigo expressar-me tão bem quanto o que não pode falar. Quão deficientes são aqueles que nunca foram desprezados, humilhados e maltratados!; Não sabem dar valor às pequenas e lindas expressões de apreço e carinho!

Há uma Graça bastante!; um Poder fortalescente!; Há a certeza do consolo ao que chora; Há a indubitável fé, de que Deus enxugará dos rostos toda a lágrima; e que cada uma delas, vertidas pelos seus santos em oração, são colhidas no cálice de Deus.

Fiquei imaginando que é como se Deus, de vez em quando, precisasse mandar para a Terra, alguém mais eficiente do que nós, afim de nos mostrar o quanto temos nos feito deficientes: insensibilizamos os ouvidos para nada ouvir; nos emudecemos para não clamar; andamos recalcitrantes como se nos faltasse a presteza nas pernas; tapamos os olhos fingindo que nada vemos; ouvimos e nada percebemos; odiamos quando somente somos amados; desprezamos quando sabemos bem querer. Ai vem um cego, que enxerga infinitamente melhor; um aleijado que vai a lugares inatingíveis; um odiado que sabe amar; um desprezado que acolhe ternamente...

Lembro-me, por fim, que Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias. As fracas para confundir a prepotência da fortaleza das fortes. As coisas vís e desprezíveis para aniquilar as que pensam algo ser...

Deficientes...
Por Samuel Amorim
Entenda o que disse. Leia: João 9:1-41; Êxodo 4:11-12; Isaías 55:8-9; II Corintios 12:9-10; Mateus 5:4; Apocalipse 7:17 e 21:4; I Corintios 1:21, 25, 27-28.
Em 22 de Janeiro de 2014
E-mail: amorimperito@gmail.com