Sabe Pai, tenho sentido minha vida um... Samuel Amorim Oliveira

Sabe Pai, tenho sentido minha vida um pouco longe de Ti. Sinto que não é o Senhor que está distante de mim, mas que eu quase nunca busco estar perto de ti. Na minha vida vejo que muitos dos planos que faço, a maioria que parecem morrer bem no meio do caminho, não tiveram uma clara chancela tua. Aliás, é raro eu sentir – isso se deu poucas vezes – aquela certeza sobre algo o que fazer. Fico muito indeciso em relação a quase tudo, e isso me faz ficar também quase sempre em cima do muro em quase tudo, nem lá, nem cá, parece que na espera de ouvir a Tua voz pra me indicar se devo ir ou ficar, ou voltar.

Sei que não é o Senhor que tem se distanciado de mim, ou que não tem me amado, pelo contrário, sinto firmemente, e disso tenho plena certeza e fartas comprovações do dia a dia, que o Senhor tem me amado, e tem me guardado de todo mau, e mesmo me protegido, sendo misericordioso como nem mesmo eu poderia imaginar. Fico pensando se o Senhor fosse pesar com tua justa balança, todos os meus pecados, em especial aqueles que ficam lá dentro, no plano da mente, no coração, e que nem por isso deixam de ser pecados. Sim, porque nem tantos tem sido meus pecados visíveis, esses de fato não são tão numerosos, mas há aqueles que estão nas maquinações da minha mente, nos pensamentos desvirtuados da Tua justa vontade, nas perversidades dos pensamentos, nos olhos que deveriam desviar-se que nem sempre obedecem à tua vontade, no não amor ao irmão como se eu mesmo fosse, e é claro, sem esquecer o maior, que é não te amar como devias ser amado, acima de todas as coisas.

Não te amar acima de todas as coisas: está ai algo que gostaria de abandonar de vez, e sei que junto deste abandono iriam todos os demais pecados. Acho que sempre tento começar da maneira errada, tentando me consertar dos “pecadinhos menores” para então progredir aos maiores. Na verdade vai além, pois somente há muito pouco tempo percebi que não te amar era o maior dos pecados. Bem não sei se posso graduar os pecados, acho que não, melhor, tenho certeza que não, mas uma coisa posso afirmar com toda a certeza, que o pecado de não te amar é a própria raiz de todos os demais pecados, pois quando não te amamos acima de tudo, algo ocupa esse lugar central, de direção da nossa vida, e então o único capaz de nos dizer o que nos é melhor, não só por nos conhecer melhor do que ninguém, como também por nos amar como ninguém nos ama, fica em segundo plano, ofuscado em nossa vida. É, e raramente o segundo lugar lhe é reservado. Posso dizer com certeza, mesmo apesar do temor de revelá-lo, mas sabendo que nada posso esconder de ti, que já sabes, e que o coração sincero te agrada mais que tudo: muitas vezes tens ocupado lugares quase últimos em minha vida, perdendo feio para coisas até mesmo fúteis como paixões, deleites e prazeres da vida, que se desvanecem em segundos ou mesmo sequer se revelam.

É, Senhor, esse sou eu. Tão imperfeito. Tão pecador, incapaz mesmo de amar-te como se ama imperfeitamente as pessoas. Quando tento buscar-te, pouco tempo acho em minha vida. São tantos “corre-corres”, tantos atrativos, tantos distrativos, e até mesmo quando fecho o olho para buscar-te, me vem a mente turbilhões de pensamentos, que quando vejo estou bem longe de ti, vagando por preocupações, ideações, ilusões ou vãs imaginações. Tudo tem tomado o teu lugar em minha vida, e esse tem sido o pecado que mais me incomoda. Se me proponho a te buscar nas primeiras horas do dia, sempre o sono é mais teimoso e quer me fazer ficar mais tempo na preguiça da cama, quando desperto já estou no horário limite; se prometo buscar-te no ônibus ou no carro, as distrações do trânsito me tiram toda a atenção; trabalhando, nem se fala, as obrigações são muitas para tão poucas horas; a noite o sono abate e o cansaço não permite mais que alguns segundos na tua sintonia; mesmo quando tenho um dia com muito tempo, as distrações a minha volta nunca me permitem falar contigo, ouvir tua voz.

Sabe, Meu Pai, tenho saudades daquele tempo no Jardim, quando o Senhor falava todo dia com teu servo na viração do dia. É nesse horário que parece que sinto mais vergonha por não conseguir falar contigo, e exatamente por conta de não falar contigo, vou levando uma vida insignificante e sem nenhum sentido, sem qualquer progresso nem mesmo aos olhos humanos, quem dirá aos teus. Planos e mais planos. Sonhos e mais sonhos, e os que não são abandonados no meio, não tardam para mostrar os seus problemas, e aquilo que parecia ser um belo sonho de futuro se transforma em uma autêntica dor de cabeça, que tira até mesmo o sono de sonhar novos sonhos, frustra e subtrai toda a esperança de coisas boas acontecerem.

O mais interessante, Pai, é que tenho sentido, como já disse, tua presença mesmo na minha continuada distância, sempre corrigindo minhas asneiras da melhor forma possível, livrando da implacável e justa punição pelos erros, parece que a me clamar para lançar-me aos teus braços e deixa cuidar-me, e de fato não há nada que eu queira mais, o Pai: estar contigo o tempo todo. Ouvir a tua voz a me guiar claramente pela vida. Não ter tanta propensão a pensar o que é errado, e fazer o que é errado, aos teus olhos.

Ah, Pai, mas o meu problema maior, Pai, creio que é exatamente não saber amar. De fato não sei amar. Não sei se há outras falhas em mim; talvez falta de persistência; sei lá mas até essa acho que o amor traz consigo.

Pai, quero mudar. Quero aprender a te amar no mais profundo do meu ser. Colocá-lo no devido lugar na minha vida. Não por medo de punição ou buscando um resultado humano favorável. Sei que este virá, mas quero aprender a te amar pelo que és, e porque me amas. Simplesmente amar para amar, e por amar.

Essa é uma carta para expressar o que vai mais no fundo do meu coração. Por favor, venha em meu socorro Pai. Esse é o pedido desesperado de um filho que não ama e que queria aprender a amar, e queria ouvir tua voz a todo momento, teu toque, teu carinho, como todo filho amado recebe. Sei que sou amado, apenas não tenho te amado, e tenho me afastado de ti.

Por favor, venha em meu encontro. Ajude-me.

Carta para o Pai
Leia: Jeremias 2:13
Por Samuel Amorim Oliveira
Em 06 de Fevereiro de 2010
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