Quero erguer uma forte prece, mas quero... Samuel Amorim Oliveira

Quero erguer uma forte prece,
mas quero ter a certeza de que sou ouvido,
que não serão meras palavras lançadas a esmo.
Lancei-me, então, desesperado na busca.

Fui ao pároco, e este me ensinou que eu deveria compungir-me,
para então, depois, estar habilitado a falar às instâncias celestiais.
Tentei..., porém, mesmo sendo grande e sincero meu remorso,
apenas senti-me mais culpado por meus próprios erros...

Resolvi, então, melhorar a mim mesmo,
pois ouvira dizer que tal caminho era bom:
cultivar os bons pensamentos,
ajudar ao necessitado, estender a mão ao pedinte.
Melhorei-me, fiz o bem sem ver a quem, todavia,
por melhor que fosse, ainda me sentia um nada...

Por descobrir que pouco conhecia de mim mesmo,
dei ouvido a um homem que me dizia: “conhece-te a ti mesmo”,
subi íngremes montanhas, escalei áridos penhascos,
encontrei coisas que não sabia existir dentro de mim,
esforcei-me, impus-me sevícia. Fiz meus pensamentos trabalharem a meu favor.
Todavia, deparei-me mais claramente ainda...,
com a mazela de meu próprio ser, agora descortinada aos meus olhos.

Triste voltava, desapontado e sem rumo,
quando me detive, atento, a pequeno burburinho:
um homem simples, um Galileu, ensinava pequena multidão de doze;
não tinha eloquência vivaz, mais seu olhar era terno e penetrante.
Suas palavras brandas e poderosas, que em todos parecia produzir vida.
Percebi que Ele ensinava exatamente o caminho que eu procurava.
Pensei: “é mais um...!”, mas meu coração gritava: “ouça-o!”.

Ele então dizia: “não está no grito nas praças..., no ser notado por todos...,
nem nas inúteis repetições..., nem tampouco no muito falar...,
ou no afligir-se..., o caminho para o Eterno”
Lembrei-me do velho Rubem Alves em sua crônica “Sobre deuses e rezas”:
“Ora, se a gente fica no falatório é porque não acredita nisso.”
Ri-me de mim mesmo... Afinal era isso que eu fizera a vida toda!

Mas o coro da pequena multidão dos doze, ainda dizia:
“Então, Mestre..., como devemos fazer? Senhor, ensina-nos a orar!”
E eu, fazia parte do coro! Eram treze a pedir, mas eu, em silêncio.

Então, foi aquele a quem chamavam de mestre, dizendo:
“Primeiramente, quando orares, entra no teu quarto...,
tranca a tua porta..., ora em secreto...
Teu Pai que está em secreto, te ouve e te recompensará.
Ensinou as mais belas palavras que já ouvira dizer...

Pus-me a lembrar, que as únicas vezes que me sentira ouvido por Deus,
foram exatamente, quando em minha inocência infantil,
a beira do leito, pedia sinceramente ao “Papai do Céu”,
que eu cria firmemente existir: “bençõe o Papai, bençõe a Mamãe...”
Hoje, crescido, tinha menor fé, e mais abundante falatório.
Caminhara tanto, para encontrar algo tão perto.
Impusera-me tanto sofrimento, por algo tão prazeroso.
Mas, feliz, conclui: aprendi a orar!

Forte Prece (Pai Nosso I)
Leia: Mateus 6:5-15
Por Samuel Amorim Oliveira
Em 20 de Dezembro de 2013