Coleção pessoal de SilvioFagno

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⁠Vestido de Mim Mesmo -

Não adianta muito, no calor da decepção,
a gente tentar autoenganar-se com
frases tipo: "essa foi a
última vez."

Eu não quero, como a maioria,
viver numa farsa.
Eu não quero tentar ser aquilo
que mais me machuca.
Eu não quero ignorar minhas
verdades, sabotar meus desejos,
destruir minha essência.

Eu posso me rever, me reorganizar:
tentar melhorar algumas
coisas — cortando alguns excessos,
corrigindo algumas falhas,
fortificando algumas
virtudes.

Mas quando o próximo amor chegar
eu quero estar lá:
intenso, louco, devoto — vestido
de mim mesmo — e com algum
verso por começar.

⁠Acabam Por Morrer Inúteis -

⁠Uma grande maldade da vida
é que, inexplicavelmente,
os melhores sentimentos:
os mais sinceros, os mais cuidadosos,
os mais nobres — esses todos —
quase sempre são ignorados, rejeitados,
esquecidos — desperdiçados.

E, por fim, esgotados,
acabam por morrer
inúteis.

⁠Sorriso –

Não é sobre estar feliz. É sobre estar tentando.




P.S.: À minha vozinha.

⁠⁠Aprisiona Os Dois –

A grande maioria de nós,
de alguma maneira,
deve algo, alguma coisa
a alguém.
E isso, no fim, numa relação,
de certa forma prende,
aprisiona os dois.

Assim,
um rompimento ou uma permanência
nessas circunstâncias, abre uma enorme
cratera de dúvidas, traumas, mágoas...
decepções na alma de,
pelo menos,
um.

Raramente, muito raramente os dois
podem decidir ficar ou
partir em paz.

⁠Serve Para Quê? –

Num mundo em que uma bala
perdida tira a vida de um
bebê no berço,
Deus serve para que
mesmo?

⁠Chuvas Tristes –

⁠Eram onze e meia da noite,
eu já estava na cama como que pra dormir,
e em meio ao barulho do ventilador,
as futilidades das redes sociais
e a realidade amarga da
vida, eu notei — através
da janela ao fundo —
que chovia.

Então, de súbito,
levantei-me para olhar com um pouco
mais de atenção, e percebi que já
chovia há, pelo menos, uma
meia hora.

Era uma chuva calma, tímida — triste.

E chuvas tristes são como
pessoas tristes:
Quase ninguém nota.

⁠Como Se Fosse Arte –

E de repente,
dentro de uma eterna espera,
assim,
em um dia calmo e comum
(em que agora não recordo-me
a data), enfim, ela chegou.

E como se fosse arte e pintasse,
em mim, todas as outras
histórias desbotaram.

⁠Desejo -

Não somos mais que a vontade
de nos vermos no outro.

⁠⁠Acúmulos -

Talvez seja um dos maiores males
deste século:
Esse sentimento de rejeição
crônica, acumulada e
negada.

Pessoas sentindo-se solitárias
em meio à multidão,
acumulando palavras
não ditas,
desejos não expressados,
choros não chorados.

Pessoas, cada vez mais,
sentindo-se totalmente inúteis,
incapazes,
rejeitadas por tudo, por todos...
pela vida.

Pessoas (normalmente
responsáveis, cuidadosas),
mesmo quando inocentes,
com um estranho sentimento
de culpa.
Ninguém entende nada,
no entanto (dizem), está tudo
normal.
(Não, não está!).

(As relações humanas estão saturando — esgotando-se).

Expectativas criando ansiedade.
Ansiedade criando mais ansiedade, desencadeando pânico — medos, aflições.
Por fim,
uma enorme frustração — angústia.
Um enorme peso — desânimo.

Pessoas, extremamente frustradas,
tendo que submeter-se a trabalhos "pela metade", relacionamentos "pela metade",
vidas "pela metade".
Com isso, sentindo-se ainda
mais reduzidas.
(Sim, isso é muito velho). Mas isso,
como consciência, é destes
tempos — inconscientemente esquisitos.

É um sentimento rejeitado;
Um sonho rejeitado;
Uma vida rejeitada.

Uma geração de "robôs"
que cultuam o desapego, a frieza,
a superficialidade — uma espécie de não amor.
Movida por sentimentos ínfimos, relacionamentos fúteis — facilmente descartáveis — em que alguns (e não são poucos),
hora ou outra, se quebram por, naturalmente, criarem raízes, desabrocharem confiança,
fantasiarem sonhos.

Mas o que está à mostra,
o que vemos:
semblantes felizes, corpos firmes, festas, sorrisos — gente bem vestida, bem amada, bem resolvida — online.

A tela apaga-se e o que
sobra é outra coisa:
Uma realidade fria e sombria,
de gente solitária, ferida, magoada,
que não cabe em Rede Social.

Acúmulos, mais acúmulos,
ainda mais acúmulos
e um estouro.

Tarde demais:
não há mais tempo para
mais nada.

⁠O Vírus –

Que coisa:
Já estamos, outra vez, na defensiva!

De novo, cancelam–se os
encontros — as conversas de perto,
o toque dos dedos e mãos
e pele.

Cancelam–se as ruas, as casas
e calçadas alheias.
Estamos, agora, outra vez, sozinhos:
sem visitas, com dúvidas — com medo.

O quão insignificantes, frágeis
e vulneráveis somos,
quando somos dominados
por algo, fisicamente
mínino, ínfimo,
invisível?

De onde vem tanta arrogância,
meu Deus?

⁠Mais Justo –

O que estamos fazendo
por nós mesmos?

Que sejamos mais justos
com os nossos atos
e sentimentos.

E ser justo, talvez signifique,
muitas vezes, desistir de algumas
coisas e pessoas que
desistiram da
gente:

Um emprego que se tornou maçante;
um belo par de sapatos apertado;
um grande sentimento inútil que
agora só maltrata, só distrói,
só machuca.

E quem sabe esteja aí o começo
para um recomeço mais justo
com nós mesmos, com
o outro — com a vida.

⁠Enquanto Ela Sorri –

— Por que as pessoas são tão cruéis justamente com os melhores
sentimentos?
— Cara,
sinto muito!
Na verdade, ela nunca existiu.

Foi tudo um jogo, uma farsa misturada
ao que o seu sentimento inventou.

Ela é esse vazio amargo rasgando o peito
que você sente agora, enquanto
ela sorri.

⁠⁠Ouça -

Ouça:
não confie em mim!

Não tenho como provar, de
maneira convincente,
indubitável, o que
digo quando
escrevo.

Nem mesmo
isto.

Mas há gente muito
pior, extremamente
perigosa falando
muito, falando
alto,
gritando insistentemente.
Fique atento!

Fique em silêncio quando
não souber o que falar.
É mais seguro.

E mais: ouça,
ouça atentamente
o que o silêncio
esconde.

A sabedoria pode
estar aí.

⁠Os Espinhos –

⁠Às vezes,
diante de certas pessoas,
precisamos mostrar os espinhos
que, também, temos.
Para que não tentem pisar
na gente.

⁠Um Elogio –

⁠Tua boca ainda nem
se abriu,
mas os teus olhos já estão
a sorrir.

⁠Sem Direção –

Enquanto os interesses permanecerem
de esquerda ou de direita,
o Brasil continuará
sem direção.

⁠O Escuro, O Travesseiro e A Solidão -

O nosso "eu verdadeiro",
é aquele da metade
da terceira taça
de vinho.

⁠Costas Nuas –

Despertei-me primeiro que ela,
um pouquinho antes do
sol nascer.

O quarto ainda estava um pouco escuro.
Havia, somente, uma pequena réstia vindo
por uma fresta da janela entreaberta,
de cortinas malfechadas que,
poeticamente, alcançava
suas costas nuas.

Fiquei ali,
parado. Bobo.
Observando ela dormir, enquanto
o pequeno raio de luz, delicadamente,
beijava suas costas nuas.

Era o sol nascendo lá fora.
E um sonho acontecendo
cá dentro.

⁠Maldito Sentimento Verdadeiro -

⁠Há guerra pior do que a que precisamos
matar nosso próprio coração
(já mutilado, esgotado),
infectado por um inútil e maldito
sentimento verdadeiro,
fielmente
não correspondido?

⁠A Frieza -

Gosto de gente interessada naquilo
que ouve, fala e faz.

Gosto de pessoas que se empolgam
ao falar de coisas simples.
Simples e nobres: um poema, um livro,
um filme,
o pôr do sol visto através de uma
vidraça quebrada.

A frieza das pessoas me desestimula,
me põe pra baixo, me desanima,
a ponto de me deixar quase
sem ação.

Logo,
eu procuro o caminho mais curto
da conversa e tento encerrá-la,
o quanto antes, por
alí mesmo.