Poemas de Rubem Alves

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Não tenho problemas com Deus. Mas tenho muitos problemas com aquilo que os homens pensam sobre Deus.

O caminho da verdade exige um esquecimento: é preciso esquecer-se do aprendido, a fim de se poder lembrar daquilo
que o conhecimento enterrou.

"Dentro de mim mora um palhaço e um poeta: riso e beleza... Se eu não fosse escritor acho que seria um jardineiro. No paraíso Deus não construiu altares e catedrais. Plantou um jardim. Deus é um jardineiro. Por isso plantar jardins é a mais alta forma de espiritualidade." ‪

Já é mais tarde do que você imagina. Não perca os momentos bons que a vida está lhe oferecendo enquanto você se encontra sobre o abismo.

Rubem Alves

Nota: Em: “Arroz com feijão...” – Extraído do livro “Concerto para corpo e alma" – Página 77 – Editora Papirus – Campinas – São Paulo, 2012.

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Sábios são aqueles que, da multiplicidade, escolhem o essencial. Simplicidade é isso: escolher o essencial.

Rubem Alves
Pensamentos que penso quando não estou pensando. São Paulo: Papirus Editora, 2007.

A alma é uma cigarra. Há na vida um momento em que uma voz nos diz que chegou a hora de uma grande metamorfose; é preciso abandonar o que sempre fomos para nos tornarmos outra coisa: “Cigarra! Morre e transforma-te! Saia da escuridão da terra. Voa pelo espaço vazio!”

Somos como os moluscos. Frágeis diante de um mundo imenso e assustador. Tratamos, então, de nos defender: construimos conchas duras de palavras.

Invista em seus sonhos, mesmo que isso signifique abdicar de certas coisas da vida.

"A alma é uma coleção de belos quadros adormecidos envoltos pelas sombras. Vez por outra, entretanto, defrontamo-nos com um rosto - não precisa ser um rosto inteiro, basta uma música na voz, uma maneira de olhar, ou um jeito de tocar com a mão... - que, sem razões, faz o belo quadro adormecido acordar. Quando isso acontece, somos possuídos pela certeza de que esse rosto é o que procurávamos desde toda a eternidade... O corpo estremece...

Dizem as escrituras sagradas: "Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer". A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A "reverência pela vida" exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir. Cheguei a sugerir uma nova especialidade médica, simétrica à obstetrícia: a "morienterapia", o cuidado com os que estão morrendo. A missão da morienterapia seria cuidar da vida que se prepara para partir. Cuidar para que ela seja mansa, sem dores e cercada de amigos, longe de UTIs. Já encontrei a padroeira para essa nova especialidade: a "Pietà" de Michelangelo, com o Cristo morto nos seus braços. Nos braços daquela mãe o morrer deixa de causar medo.
Rubem Alves, para a Folha, em 2003

O que tenho sentido? Beleza. Nostalgia. Tristeza. Cansaço. Urgência. A curteza do tempo. Um enorme desejo de passar uns tempos num mosteiro, longe de cartas, telefones, micros, viagens, e-mails, curtindo a solidão e a ausência de obrigações.

Cada momento de alegria, cada instante efêmero de beleza, cada minuto de amor, são razões suficientes para uma vida inteira. A beleza de um único momento vale a pena de todos os sofrimentos.

PSICANÁLISE: Conversa na recepção: Conversa vai, conversa vem, digo que sou psicanalista. A moça entra em pânico, temerosa de que eu tivesse poderes para ver a sua alma. “Eu já fiz terapia”, ela disse. “Mas agora estou resolvida.” Pergunto: “Quando se deu o óbito?”. Ela me olha sem entender. Óbito? Explico: as únicas pessoas resolvidas que conheço estão no cemitério.

Quem confunde coisas que significam com coisas que nada significam
comete graves equívocos.

"A cigarra subterrânea começou a sonhar sonhos de ar livre e voos. Saiu da terra. Sua casca não era mais capaz de suportar a vida que crescia dentro dela. Arrebentou. E dela surgiu um outro ser, alado, pneumático. Nós, seres humanos, somos como as cigarras. Só que nossas cascas são feitas com palavras."

Por que se gosta de um autor? Gosta-se de um autor quando, ao lê-lo, tem-se a experiência de comunhão. Arte é isso: comunicar aos outros nossa identidade íntima com eles. Ao lê-lo, eu me leio, melhor me entendo. Somos do mesmo sangue, companheiros no mesmo mundo. Não importa que o autor já tenha morrido há séculos... Inversamente, quando não gosto de um autor, é porque não há comunhão. É como se ele fosse uma comida estranha que causa repulsa

Os conhecimentos nos dão meios para viver. A sabedoria nos dá razões para viver. Quem não muda sua maneira adulta de ver e sentir e não se torna criança, jamais será sábio.

"Amar e ser amado é isso: pensar numa pessoa ausente e sorrir. Ficar feliz sabendo que ela vai voltar. Ter alguém que escute e dê colo, sem dar conselhos. Andar de mãos dadas conversando abobrinhas. Olhar nos olhos da pessoa e sentir que eles estão dizendo: “como é bom que você existe”… ser, simplesmente, sem pensar que há um par de olhos nos vigiando para cobrar algo. Conversar madrugada afora, sem pensar em sexo."

"Resta quanto tempo? Não sei. O relógio da vida não tem ponteiros. Só posso dizer: carpe diem - colha o dia - como um morango vermelho que cresce à beira do abismo. É o que eu faço".
(Em “Sobre o otimismo e a esperança” – Concerto para corpo e alma. Página 160 – Editora Papirus – Campinas – São Paulo, 2012).

As asas da alma se chamam coragem. Coragem não é ausência de medo. É lançar-se a despeito do medo.